sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Os surtados do Hornet


Tem maluco dando vexame nos aplicativos de pegação



Que pegação de rua já caiu em desuso, todo mundo já sabe: a moda agora é pagar de doido num desses aplicativos de “relacionamento”. Está duvidando? Baixe o Hornet, por exemplo, crie um perfil bacanésimo que não tenha nada a ver com você (que é o que todo mundo faz), invente um personagem surreal com uma história impossível de sustentar e...

 ...catapoft.

Você vai cair de paraquedas num terreno de gente rasa, sem noção e que está ali esperando uma oportunidade para fazer você perder o seu tempo, atrasar a sua vida, ou te expor nas redes sociais: o famoso print screen de tela. Permitam-me assumir, se fosse apenas oba-oba, sexo por sexo, a galera toda fazendo bundalelê e paixonites de fim de semana, ainda estava valendo – mas não, tudo o que se vê é um apanhado de seres que precisam urgentemente de Gardenal:

O psicótico possessivo: é super compreensível ficar desorientado depois de conhecer alguém que tenha o rosto no lugar, o corpo em dia, que seja interessante e tenha nos proporcionado uma surra de cama (dá um frio na espinha só de pensar), mas daí achar que vai rolar casamento logo em seguida... é loucura demais, e das grandes. Esse tipo de pessoa entra numa vibe tão errada que começa a sufocar um peguete sem antes saber o sobrenome do indivíduo e, quando consegue um segundo encontro, já chega mandando logo uma DR (discutir relação). Se o remedinho controlado dele acabou a culpa não é sua. Não entre nesse jogo, ponha o perturbado da cabeça para correr enquanto há tempo:

‘Coleguinha, volta 3 casas? O que aconteceu com a gente? Relacionamento de 15 anos’?

O esquizofrênico de Ipanema: esse tópico já daria um outro texto gi-gan-te, mas irei resumir, rapidinho. Esse é aquele psicogato clichê, malhado, bonitão, requintado, de movimentos leves, cheio da grana, que sabe o que quer da vida, tem objetivos bem traçados, uma pessoa com a cabecinha no lugar (fico gargalhando uma tarde só de escrever essas linhas). Pois então, esse louco que bate palmas para o pôr do sol em Ipanema fica de plantão em frente ao espelho batendo palmas para si mesmo, e quando se cansa – isso sempre acontece – entra num desses aplicativos como o Hornet para conseguir plateia e saciar o ego, fica lá fissurado atrás de novidades, trocando mais salivas do que palavras, agoniado pra sentir algo diferente, nem que seja arrependimento. Tratamento? Semancol gotas, o elixir do verão.

Gente boa sequelado: sujeitinho disfarçado de maluco beleza, puxa saco das pseudo celebridades do Instagram, finge ser amigo com uma facilidade de dar inveja, comunicativo que só ele. Está sempre com um assunto novo para jogar na roda e seu maior objetivo é tirar risadas de todos, custe o que custar. O que poucos sabem é que esse fofo inofensivo e desocupado é um stalker de carteirinha, quase um detetive profissional, que fica disfarçado nesses aplicativos esperando o “descuido” de alguém com o intuito de explanar a intimidade alheia para Deus e o mundo. Entenderam como esse surtado sobrevive? O transtorno mental é tão complexo que seria preciso uma equipe de especialistas para ajudar uma pessoa dessas a tomar conta da própria vida e receber a atenção que foi negada lá nos tempos de creche.

O mentiroso patológico: a falta de bom senso é pop e está em alta. A criatura tem quarenta e lá vai pedrada e comete a deselegância de dizer no perfil que tem 29, oi? Tudo bem, autoestima é fundamental, mas não seria melhor deixar a outra pessoa tirar essa conclusão? Nessa teia de mentiras, manipulam-se informações dos pés à cabeça, desde à altura ao tamanho dos apetrechos. Pintam uma imagem de Brad Pitt e na hora H tem-se uma nítida impressão de que o maluco fez um intensivo de Inês Brasil. O desenrolar dessa insanidade toda fica nesses moldes: o pretendente, para não perder a viagem, acaba dando uma rapidinha e corre como um doido pra bem longe, e ainda jura de pé junto que nunca saiu com o “quarentão com rostinho de 29”. Mentira sendo paga com mentira.

O Hornet, dentre muitos outros, é certamente uma experiência social, antropológica, um açougue a céu aberto onde todos querem degustar a carne e virar os olhinhos, até aí tudo bem. A questão é que barriga sarada virou entidade, sexo só serve se for daqueles de dar pirueta, Rivotril agora é camomila, as drogas transformaram pessoas e pessoas se transformaram em drogas, as curtidas vieram para resumir os diálogos e poupar tempo; e o lindo para casar de hoje – é o ninguém de amanhã.

O que vai acontecer com os relacionamentos do futuro? Essa é a pergunta de dois milhões de dólares. Enquanto isso, vou cuidar da minha cabeça, porque do corpo e da nossa vida – tomo mundo já cuida.

Bruno de Abreu Rangel





Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, excelente.