Tem maluco dando vexame nos aplicativos de pegação
Que pegação
de rua já caiu em desuso, todo mundo já sabe: a moda agora é pagar de doido num
desses aplicativos de “relacionamento”. Está duvidando? Baixe o Hornet, por exemplo, crie um perfil
bacanésimo que não tenha nada a ver com você (que é o que todo mundo faz),
invente um personagem surreal com uma história impossível de sustentar e...
...catapoft.
Você vai cair
de paraquedas num terreno de gente rasa, sem noção e que está ali esperando uma
oportunidade para fazer você perder o seu tempo, atrasar a sua vida, ou te
expor nas redes sociais: o famoso print
screen de tela. Permitam-me assumir, se fosse apenas oba-oba, sexo por
sexo, a galera toda fazendo bundalelê e paixonites de fim de semana, ainda
estava valendo – mas não, tudo o que se vê é um apanhado de seres que precisam
urgentemente de Gardenal:
O psicótico possessivo: é super
compreensível ficar desorientado depois de conhecer alguém que tenha o rosto no
lugar, o corpo em dia, que seja interessante e tenha nos proporcionado uma
surra de cama (dá um frio na espinha só de pensar), mas daí achar que vai rolar
casamento logo em seguida... é loucura demais, e das grandes. Esse tipo de
pessoa entra numa vibe tão errada que
começa a sufocar um peguete sem antes saber o sobrenome do indivíduo e, quando
consegue um segundo encontro, já chega mandando logo uma DR (discutir relação).
Se o remedinho controlado dele acabou a culpa não é sua. Não entre nesse jogo,
ponha o perturbado da cabeça para correr enquanto há tempo:
‘Coleguinha,
volta 3 casas? O que aconteceu com a gente? Relacionamento de 15 anos’?
O esquizofrênico de Ipanema: esse
tópico já daria um outro texto gi-gan-te, mas irei resumir, rapidinho. Esse é
aquele psicogato clichê, malhado, bonitão, requintado, de movimentos leves,
cheio da grana, que sabe o que quer da vida, tem objetivos bem traçados, uma
pessoa com a cabecinha no lugar (fico gargalhando uma tarde só de escrever
essas linhas). Pois então, esse louco que bate palmas para o pôr do sol em
Ipanema fica de plantão em frente ao espelho batendo palmas para si mesmo, e
quando se cansa – isso sempre acontece – entra num desses aplicativos como o Hornet para conseguir plateia e saciar o
ego, fica lá fissurado atrás de novidades, trocando mais salivas do que
palavras, agoniado pra sentir algo diferente, nem que seja arrependimento.
Tratamento? Semancol gotas, o elixir do verão.
Gente boa sequelado: sujeitinho disfarçado
de maluco beleza, puxa saco das pseudo celebridades do Instagram, finge ser
amigo com uma facilidade de dar inveja, comunicativo que só ele. Está sempre
com um assunto novo para jogar na roda e seu maior objetivo é tirar risadas de todos,
custe o que custar. O que poucos sabem é que esse fofo inofensivo e desocupado
é um stalker de carteirinha, quase um
detetive profissional, que fica disfarçado nesses aplicativos esperando o “descuido”
de alguém com o intuito de explanar a intimidade alheia para Deus e o mundo. Entenderam
como esse surtado sobrevive? O transtorno mental é tão complexo que seria
preciso uma equipe de especialistas para ajudar uma pessoa dessas a tomar conta
da própria vida e receber a atenção que foi negada lá nos tempos de creche.
O mentiroso patológico: a falta de bom senso é pop e está em alta.
A criatura tem quarenta e lá vai pedrada e comete a deselegância de dizer no
perfil que tem 29, oi? Tudo bem,
autoestima é fundamental, mas não seria melhor deixar a outra pessoa tirar essa
conclusão? Nessa teia de mentiras, manipulam-se
informações dos pés à cabeça, desde à altura ao tamanho dos apetrechos. Pintam
uma imagem de Brad Pitt e na hora H tem-se uma nítida impressão de que o maluco
fez um intensivo de Inês Brasil. O desenrolar dessa insanidade toda fica nesses
moldes: o pretendente, para não perder a viagem, acaba dando uma rapidinha e
corre como um doido pra bem longe, e ainda jura de pé junto que nunca saiu com
o “quarentão com rostinho de 29”. Mentira sendo paga com mentira.
O Hornet, dentre muitos outros, é
certamente uma experiência social, antropológica, um açougue a céu aberto onde
todos querem degustar a carne e virar os olhinhos, até aí tudo bem. A questão é
que barriga sarada virou entidade, sexo só serve se for daqueles de dar pirueta,
Rivotril agora é camomila, as drogas transformaram pessoas e pessoas se
transformaram em drogas, as curtidas vieram para resumir os diálogos e poupar
tempo; e o lindo para casar de hoje – é o ninguém de amanhã.
O que vai
acontecer com os relacionamentos do futuro? Essa é a pergunta de dois milhões
de dólares. Enquanto isso, vou cuidar da minha cabeça, porque do corpo e da
nossa vida – tomo mundo já cuida.
Bruno de Abreu Rangel
Muito bom, excelente.
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