“Boca de forno.
Forno.
O que o mestre
mandar.
Faremos todos.
E se não fizer...
Tomaremos bolo”
‘Eu quero que
todos fiquem sarados, subam a pedra da Gávea e façam pose de macho malvado sem
camisa, com frase de superação. ’
E de repente,
é tudo o que se vê: uma enxurrada de fotos bem pensadas, com ângulos super
elaborados, um sol praticamente ensaiado; uma turma em que n-i-n-g-u-é-m está
fora de forma, todos bem seguros de si mesmos, não sofrem de problemas
financeiros e fecham parceria: o mundo encantado de Brotherhood.
É preciso encher
a cara de cachaça para escrever sobre esse assunto, mas antes quero falar sobre
um incidente.
Aconteceu no
Leblon:
Num magnífico
Domingo de sol, com o calçadão superlotado de pessoas felizes que iam e vinham,
bem naquele esquema novela das oito, um garoto bem magrinho e de aparência
simples, tentava equilibrar-se nas traiçoeiras rodas de um roller até que, para
a sua infelicidade, deu de frente com um brother machão e os dois foram parar
no asfalto:
‘Coe viadinho,
se não sabe andar com essa porcaria fica na sua área’.
Assustado com o tom de desaprovação do rapaz
trabalhado nos esteroides, o garoto se levantava com dificuldades enquanto
pedia desculpas com a voz falhando. É o tipo de cena que você prefere morrer
para não ter que presenciar. A palavra respeito já está cheirando a mofo.
Parte da
ideologia dos parça-brother é diminuir todos que são diferentes deles usando a
intimidação, imposição, constrangimento – violência psicológica. E é atacando a
autoestima dos demais que eles fortalecem o próprio regime ditatorial.
´Nossa, banho
quente? Coisa de menina´
´Não vou
nesse tipo de boate, sou macho rapá´
´Que camisa é
essa, parece uma bichinha´
´É amigo
daquele sujeito que fala fino? Não serve para ser nosso amigo...´
Os
parça-brothers são matéria de estudo, daria para lotar congressos em Harvard só
para decifrar o que se passa na mente dessa espécie que se camufla entre os
heterossexuais e que teme ter a própria identidade desvendada (pessoas que
supostamente seriam bem mais interessantes se fossem elas mesmas). Qualquer
traço ou conduta arco-íris é motivo para serem banidos de suas comunidades. Existem
regras a serem seguidas, você precisa decidir entre tomar cerveja em copo de
geleia num bar com os parça-fechamento, ou ir ao show da Anitta numa boate badalada
– não pode ter as duas coisas. E segundo eles, apenas a segunda opção lhe torna
gay, ainda que você goste de meninos.
Voltando para
a história do Leblon, um certo tumulto tinha se instalado, lógico, o povo adora
um barraco. Um senhor, que andava arrastando os pés, aproximou-se questionando
o episódio ao menino do roller, que disparou:
_ Moço, eu já
pedi desculpas para o seu filho, foi sem querer. Ainda estou aprendendo a
andar...
_ Ele não é
meu filho, é meu namorado!!!
De repente o
tempo fechou. O bombadão que quase se passou por um hétero machão tinha sido
desmascarado na frente de todos à luz do dia, com o sol do Leblon à pino. Pela sua
feição ele queria enfiar a cabeça do senhorzinho no asfalto. Mas quem iria
bancar os suplementos, as viagens, o apartamento no metro quadrado mais caro do
país?
Namorar
alguém com o dobro da idade, seja por amor, ou interesse não está em pauta e
nem é da minha conta, mas alguns se esquecem dos caminhos que trilharam e são
intolerantes com os que cruzam os seus caminhos.
Ficou muito
claro o porquê daquele brother tratar mal alguém tão frágil e que estava
circulando pela “sua área”. O menino do roller estava tendo a audácia de ser
ele mesmo sem ter que pagar nenhum preço por isso. Se alguém precisa fazer um
show para provar que é macho, ele já não é macho.
Níveis
excessivos de insegurança fazem com que as pessoas se percam delas mesmas. Se o
indivíduo já foi casado com mulher, se já teve filhos, ou circulou na vida
“politicamente correta”, deve ser homem o suficiente para aceitar que nem todos
foram covardes. Muitos bateram no peito e enfrentaram o mundo para viver a vida
que desejaram - caindo e se levantando - com, ou sem roller. Isso é felicidade!
Bruno de Abreu Rangel
Dá pra curtir um milhão de vezes? ����������������������
ResponderExcluirMeus Parabens
Muito bom ! Infelizmente essa é a realidade . Parabéns mesmo se não for um fato verídico é uma otima história.
ResponderExcluirMuito legal o texto ...
ResponderExcluirPerfeito o texto !
ResponderExcluirComo sempre, perfeito e acertovo.
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