Estamos sozinhos por escolha, ou estamos escolhendo demais?
Não está
sendo fácil pra ninguém. Esse mercado dos solteirões está ficando cada vez mais
inviável. A grande maioria das pessoas está se colocando na vitrine de forma
inconsequente, escancarando o produto, incrementando o rótulo com informações fúteis,
criando uma campanha de marketing monstruosa sobre si mesmas, fazendo o diabo para
tentarem se vender a qualquer custo. E quando alguém ousa ter interesse elas simplesmente
se desinteressam - de imediato - e correm de volta para a vitrine: ‘Opa, vou
tentar um partidão melhor, ou quem sabe, alguém que não me queira’. Assim funcionam
os encontros e desencontros da extraordinária sociedade dos encalhados, dos que
estão na pista e nunca fecham negócio, dos que pedem orçamento o tempo todo e
na hora de firmar um contrato, cag*m na própria cabeça.
‘- O que você
vai fazer na Quarta?
Malhar perna.
- E na
Quinta?
Braço.
- Afim de
pegar um cinema?
Porque a
gente não se pega aqui mesmo? ’
Com o receio
de levar bolo, muitos estão se contentando com a torta de climão, que é o que
acontece quando alguém sai com você e no dia seguinte finge que nem te conhece.
No instante
em que a gente transa com alguém (seja qual for a intensidade ou a qualidade),
descobrimos que o interesse desaparece pelo menos pelas próximas 24 horas. E
olha que isso ainda depende da sua idade. À medida que as primaveras vão se
passando e você vai ficando mais velho serão 48, 72, 96 horas.... Se o sexo for
motivo de primeira necessidade para você estar com alguém, seja bem-vindo à high society dos titios, que apesar de
ser uma sociedade aberta é bastante limitada.
No universo
dos meninos que beijam meninos a situação é ainda mais agravante. É preciso
muita criatividade para ser notado e sair do anonimato. Você, no mínimo, tem
que ter uma paciência de Jó pra entrar num surto esquizofrênico e inventar uma
historinha sobre si mesmo tendo que se enquadrar numa das 3 fatídicas opções: a)
Pagar de modelatriz b) Jurar que é DJ ou, c) Portar-se como uma celebridade
inatingível, exatamente como aquele povo que tem um Instagram com o perfil “Oficial”,
dando a impressão de que todos estão tentando se passar por eles.
Já posso me
jogar do décimo andar?
Num mundo
onde há mais gente no palco do que na plateia é de se esperar que grande parte termine
sobrando. Os princípios básicos da economia não me deixam mentir, quando a
oferta é maior do que a procura o preço tende a desmoronar. E o que antes parecia
ter tanto valor, no final das contas está sendo negociado a preço de banana –
ou sendo vendido por uma banana mesmo (desde que esta tenha mais de 15
centímetros). Daí é troca de salivas e um chutão na bunda, praticamente uma tortura
sentimental que vai do erótico ao neurótico, de diva para o divã. As pessoas se
enforcam e nem se dão conta. Enquanto isso, o mercado da psicologia bomba e os
médicos da saúde mental estão acumulando rios de dinheiro.
O último
grito na Via-Láctea dos encalhados é estar livre e desimpedido esbanjando
felicidade no Facetruque, fingindo fazer
parte de um grupo seleto, escondendo do mundo que viaja em 37 parcelas, ou que
levou um fora do cara menos interessante do Ocidente. Da boca pra fora a gente
realmente pode ser o que quiser, mas fazer propaganda de que é feliz solteiro e
precisar comer um pote de Nutella, ou usar drogas até quase morrer só pra
preencher um vazio emocional – desculpa, mas não vale. Isso é tapeação.
Leva tempo até
descobrir que a fixação pela liberdade é pura conversa fiada. A gente cresce
querendo ser livre, ganhar o mundo, ser independente, acreditando que não
precisa de ninguém. E com o tempo a gente percebe que o nosso poder, o nosso
corpo sarado, as nossas riquezas. Essas são as nossas prisões.
A pergunta
que devemos nos fazer é: estamos sozinhos por escolha, ou estamos escolhendo
demais?
Sem essa de
alienação. Sabemos que as relações estão mudando e que a individualidade (que
não tem nada a ver com egoísmo) está super em alta. No entanto, estar sozinho
por escolha é conviver bem consigo mesmo, é conseguir enxergar um casal na sua
frente sem se sentir ameaçado com o bem-estar alheio. Escolher demais é cair na
armadilha de achar que o mundo nos deve homenagens, é exigir parceiros com um
padrão muito além do que oferecemos, é sair por aí ostentando que se ama quando
na verdade, está mendigando por companhia.
Bruno de Abreu Rangel