No Rio de
Janeiro isso é bastante corriqueiro. Você conhece um partidão na balada, fica
entorpecido com tamanha química, com o beijo que é uma delícia, e quando pensa
em trocar contato com o rapaz ele já se foi com o seu telefone (no caso o
aparelho mesmo). Mas não é sobre esse tipo de roubo que quero falar.
Enfim, vamos
começar pelo básico do básico. Se um menino está namorando outro menino, logo
eles têm um relacionamento. Até aí tudo bem? Para que seja possível tentar algo
mais sério com qualquer um dos dois o ideal é esperar que o namoro atual
termine. Vamos respeitar a vez do coleguinha?
Mas parece
que muita gente anda furando fila – e o olho - também.
O mais curioso
sobre esse assunto e que eu não posso deixar de citar, é a dificuldade de
encontrarmos a tampa da panela quando estamos livres e desimpedidos. Ficamos
com aquela sensação mórbida de fazermos parte da vitrine dos encalhados e, na
maioria das vezes, as pessoas nos enxergam como meros pedaços de carne, ou no
máximo, uns belisquetes de boteco que vêm com cervejinha de acompanhamento. Quer
ter todos os homens do mundo aos seus pés? Então vai aqui um conselho
infalível: arrume um namorado.
Seguindo a
lógica de que “Uma andorinha só não faz verão”, é você se juntar à outra
andorinha pra aparecer um bando de urubus querendo roubar o que “é seu”, ou te
roubar do outro. A psique humana é tão masoquista, que se o pai da psicanálise,
Sigmund Freud, ainda estivesse vivo iria bater com a cabeça na parede até
sangrar só pra poder entender o que leva algumas pessoas a terem interesse pelo
que é do próximo. Na minha terra isso se chama inveja, cobiça, falta de
respeito. Mas o mundo real é terra de ninguém, e muitos passam por cima de
qualquer valor.
Há alguns
anos eu estava vivendo o “felizes para sempre” com certa andorinha, até que do
nada surgiu um urubu e começou a me rodear, dizer que eu era sensacional,
incrível e que moveria montanhas para ter a minha companhia (era um urubuzão
bem interessante, por sinal). Depois desse, apareceu outro e mais outro. E logo
pensei com meus botões que meu magnetismo estava em alta, mas preferi não
trocar o certo pelo duvidoso e segui plainando pelos céus da vida. Até que num
belo dia, não tão belo, cortaram minhas asinhas: levei um belíssimo pé na
bunda. Quando aconteceu? Na véspera do carnaval. Tipo assim, o vale da carne
seria Sexta e fui enxotado na Quinta à noite, sem ter tempo hábil para um plano
B.
Curtir fossa nunca
foi a minha praia. Então tive uma péssima grande ideia: procurar os três urubus
que ficavam ciscando o meu relacionamento. O primeiro mal atendeu ao telefone e
já fui logo contando que estava na pista. Ele respondeu: somos dois, e me
desejou um bom carnaval (um fofo). O segundo disse que estava entrando no túnel
Rebouças e que retornaria a ligação, pelo andar da carruagem deve ter ido parar
na China. O terceiro não consegui ouvir direito o que ele dizia, mas pela voz
da Ivete Sangalo ao fundo, estava em cima de um trio elétrico em Salvador -
abadá bombando. Então, me restou aceitar o fato de que eu teria me tornado numa
andorinha solitária, sem urubu, sem verão, sem carnaval e sem forças pra
encarar bloquinho de rua. Com o coração depenado, decidi chorar bastante pra
limpar a alma, e as lágrimas caíam em cima do Grindr (porque, lógico - eu não estava morto).
O grande
lance da vida é poder rir de si mesmo.
Por ironia do
destino. Comecei a namorar outra andorinha alguns meses depois, e então os três
urubus voltaram e mais outros surgiram para atazanar a minha vida na nova
temporada de “quero ter o que é dos outros”: como o ser humano é previsível.
Pessoas mal resolvidas têm a necessidade de
demarcar território, medir o seu poder de atração o tempo todo, abastecer o ego
com competições bestas e costumam colocar a autoestima em patamares
insuportáveis. A falta de vergonha é tanta que fica escancarada na face – ou no Face.
Esses dias foi
comentado, numa roda de amigos, sobre um sujeito que anda “roubando” namorados
através das redes sociais. Ele visualiza o perfil, verifica se o status do
relacionamento é sério, entra num curto circuito de cutucadas e sai
distribuindo likes em todas as fotos
a torto e a direito. E quando o alvo morde a isca ele se sente aliviado em
saber que o amor daquele casal não é tão forte. Assim sendo, ele perde o
interesse de imediato, recolhe a sua pequenez de sentimentos, e pula pra outra.
É isso mesmo, produção?
Quando achei
que já tinha escutado o bastante surgiu a história de outro cuja atração era somente
por rapazes que tinham envolvimento com o seu melhor amigo, e os maus exemplos
foram se enfileirando de forma que daria pra lotar uma pool party. É o tipo de assunto que chega a dar ânsia de vômito.
Quando os
nossos olhos se voltam para o que é dos outros, a nossa vida para. Nada vai pra
frente. Algumas pessoas são, seguramente, mais invejosas e há muita coisa
envolvida nisso, pois casa na praia, carro importado, helicóptero... Se você
erguer as manguinhas, der todo o seu suor e até usar dos mais variados
artifícios (nem quero saber quais são), você consegue alcançar o seu objetivo.
Agora, um verdadeiro amor... Algumas pessoas se amam numa tarde mais do que
muitos amam numa vida inteira. E é natural que isso incomode.
Se quiser
proteger o seu romance é melhor ser mais discreto, amar sem fazer estardalhaço,
ter a consciência de que Facebook não
é diário, porque se o mundo não dá conta dos que roubam celulares, o que dirá prender
os ladrões da vida alheia.
Bruno de Abreu Rangel