Imagine que você combinou de ir com os amigos curtir o próximo carnaval em Salvador. Como você está solteiro e quer chamar a atenção da galerinha nos blocos vai se dedicar ao máximo na dieta, pegar pesado na academia e, se necessário for, vai tomar alguma coisinha “bem bobinha” só pra fazer os músculos crescerem da noite para o dia. Só que na expectativa de azarar os 500.000 foliões anunciados, apenas 500 gatos pingados comparecem ao evento. Já pensou que decepção?
Isso é o que acontece com perfis onde existem 100 mil followers e uma média de apenas mil likes nas fotos mais recentes. Tipo, 99 mil pessoas não estão nem aí pra você? Os seguidores acabam não sendo compatíveis com o número de curtidas/ comentários. Logo, não há interação, é um bloco de carnaval com pouquíssimos participantes, é uma folia de mentirinha – uma micareta de picaretas.
Pegando o bonde na metáfora, uma história real:
Esses dias fui surpreendido com o episódio de um modelo (de verdade) que perdeu o contrato de uma grande marca porque foi desmascarado na rede: os 200K de seguidores do Instagram que ele utilizava como portfolio pra contar vantagem e sair na frente eram, na realidade, pouco mais de 12K, motivo pelo qual o número de curtidas nas suas fotos nunca ultrapassavam os suados 3000. A quantidade de comentários então... era de levantar qualquer suspeita. A sua reputação entrou em jogo e os números que antes eram relevantes o colocaram abaixo de zero.
Se o cara é tão galã ao ponto de postar fotos incríveis, estonteantes, sensuais e a média de curtidas não alcança a casa dos 5% dos envolvidos, algo de errado está acontecendo. Matemática nunca foi o meu forte, mas teria ele 95% de invejosos que só ficam ali stalkeando o seu perfil sem aparecer, estaria ele postando fotos no horário em que as pessoas estão dormindo, ou ele andou fazendo compras no “Insta Supermercados”? Não sei vocês, mas eu fico com a última opção.
O mundo está numa tremenda fase de transição, as coisas estão mudando muito rápido, até mesmo o termo garoto de Ipanema está caindo em desuso, o novo grito agora é digital: o gostosão do Instagram. Virou business. O número de seguidores e curtidas hoje em dia inverteu alguns valores e tem gente enchendo o bolso de dinheiro só pra mostrar a “marquinha da sunga” nas contas pagas. Para os que vivem de imagem, entretenimento, esportes, moda, vale tudo. A prática ardilosa de burlar os números gerou uma indústria do fake, um negócio da China que trouxe à tona as celebridades Xing-ling.
Mas a casa começou a desmoronar para essa tchurma de picaretas. Aos poucos as pessoas estão tomando consciência dessas fraudes e os gostosões que bombavam desde o corpo ao perfil no Insta, estão passando vergonha. A fragilidade emocional ficou escancarada: competição entre os coleguinhas, problemas catastróficos de baixa autoestima, necessidade tresloucada de ser mais popular do que realmente é.
O departamento de Recursos Humanos de algumas empresas já começou a peneirar essa galera uma vez que não enxergam tal atitude com bons olhos. Já existem, inclusive, alguns sites que dão dicas de como descobrir se um perfil é duvidoso. Por exemplo, uma pessoa com 1000 seguidores pula para 40.000 em 3 dias, isso é um alerta. Perfis com muitas contas inativas e uma enxurrada de seguidores silenciosos, também é algo bastante contestável.
Num futuro bem próximo, a indústria dos compradores de followers vai se dissolver e novas formas de medição de popularidade, obviamente, vão surgir. Essa não é a primeira e nem será a última vez que as pessoas mentem para elas mesmas.
Gosto e desejo a todos o legítimo. Chega de mentira, de relações falsas, de amizades sem confiança. Chega de ‘Oi migo, te amo’ com facada pelas costas, chega de fotos retocadas, de vida maquiada, de esconder a verdade com o receio de não ser aceito. Rede social é bacana? É sim, lógico. Ter muitos seguidores também é o máximo, mas desde que isso não nos impeça de seguir... o próprio caminho. A vida é uma só, e ela é de verdade – ao menos deveria ser.
Bruno de Abreu Rangel
brunorangelbrazil@hotmail.com