Entenda por
A + B porque eles rejeitam gays
Não digo ‘amém’
pra tudo que escuto, mesmo porque ninguém tem respostas pra tudo. Todas as
religiões têm suas teorias sobre a morte, céu, inferno... Mas nenhuma certeza
nos é garantida. A nossa única segurança é o espaço de tempo entre a
maternidade e a funerária, e é melhor que saibamos aproveitar essa oportunidade
dada pelo “Cara lá de cima”. A maioria das pessoas que conheço não tem a menor
ideia do significado do milagre que é essa coisa chamada de vida. Então fica
fácil condicioná-las, criar um terror em suas mentes com a desculpa de que a
única salvação virá através de um Deus que só concede a entrada no céu através
de um pagamento adiantado: dez por cento da sua renda até o fim dos seus dias e
você tem direito a um bate papo com o Altíssimo.
Nem os bancos
lucram tanto.
Mas o assunto
é homofobia religiosa. E até onde sei esses pastores viciados em holofotes
nunca repudiaram os gays, jamais hesitaram fechar as portas para os drogados, ex-traficantes;
não julgaram os ex-detendos, os assassinos em série, as pessoas que cometeram o
maior dos pecados. A grande jogada de marketing era alcançar um nicho do
mercado que a igreja católica vinha perdendo ao longo dos anos (depois de
queimar muita gente nas fogueiras da Inquisição, já estavam mais do que
queimados na praça). Então a tática foi um tanto quanto óbvia: qualquer pecador
que entrasse nos seus templos e se convertesse num servo de Deus receberia um
carnê invisível para pagar em “suaves” prestações a sua morada no céu e, assim
feito, zeraria o cronômetro. Tipo tirar o nome do SPC, ou SPCéu. “As pessoas pecam tanto que depois viram evangélicas”, o
próprio Sílvio Santos teve esse momento de desabafo.
A lavagem
cerebral é tão bem arquitetada que sei de casos em que pessoas tiram comida da boca
dos filhos pra comprar a tal vassoura ungida de mil reais que varre todo o mal
de suas vidas. Tem muita gente se
aproveitando da desgraça alheia usando Jesus
como cartão de crédito. Verdadeiros lobos em pele de cordeiro tentando arrancar
até o que as pessoas não têm pra se enriquecerem.
E não para
por aí, a bancada evangélica, ao expor todas as formas de pecado, pisou fora
quando tratou a homossexualidade como uma doença deturpada do espírito, ou
melhor, da alma – porque eles também não suportam e nem mesmo respeitam as
doutrinas que acreditam em vida após a morte. Mas eles estavam afoitos para atrair o público
arco-íris que tem um elevado poder aquisitivo. Por não constituírem família os
gays não têm despesas com filhos, escolas, material didático e uma série de
custos que os colocam no topo de consumidores em potencial: viajam de primeira
classe, passam férias na Europa, usam grifes caríssimas, perfumes importados,
fazem tratamentos estéticos com peeling
de ouro...
Quem não quer esses clientes?
O Boticário quer, a Leite de Rosas, a Coca Cola, o Facebook, a Louis Vuitton e
outras grandes empresas como a própria Universal
e a Assembleia de Deus – mas o tiro
saiu pela culatra. O “Avivamento”, campanha de captação de fiéis (lê-se
clientes) tão bem sucedida, até aquele momento, falhou quando os militantes
homossexuais entraram em cena e deram a cara pra bater. Aí toda aquela conversa
de “Amar ao próximo como a si mesmo” terminou num balaio de gato.
E tudo o que
se vê desde então é uma batalha Gospel-glbt. É boicote à novela, à propaganda
de TV, à marca X, Y,Z, pedrada – violência - caixão. E fico tentando imaginar
como os evangélicos se posicionam quando o cabelereiro é gay. Quando o
maquiador do próprio casamento tem trejeitos, quando o comissário de bordo da
primeira classe tem uma finesse mais
apurada, quando homens com uma tremenda sensibilidade despendem do precioso
tempo pra confeccionar um vestido que sai de um ateliê lá da França e vem parar
nos seus closets tupiniquins. E os
escritores, jornalistas, atores, toda a turminha que sustenta a própria TV
evangélica? Vão boicotar essa galera também, ou vão compactuar com o diabo?
Vamos deixar
essa lição como dever de casa. Quem assumir a hipocrisia leva um 10!
Muito nos
surpreende o fato de que a nossa vida entre quatro paredes possa incomodar
tanto. A alta patente cristã poderia estar se preocupando mais com os cracudos
da Cracolândia, preenchendo o tempo com projetos sociais que pudessem tirar
crianças das ruas, salvar os brasileiros abaixo da linha da pobreza que se
multiplicam tanto quanto o número de fiéis, mas não - eles querem fiscalizar a
sexualidade alheia - propagando discursos de ódio, usando Jesus como testa de
ferro pra justificar o mal que existe neles, criando exércitos com um grupo de
alienados que estão sendo adestrados para um futuro atentado aos direitos
humanos. Bem vindo ao novo Estado Islâmico, versão tupi guarani. Já não vimos
esse filme antes? A história do mundo se repete (fanatismo religioso X
crueldade). E dessa vez o cenário é no lado de cá, no país do Pau Brasil – ou
da mandioca.
Estejamos
atentos, porque os mafiosos da fé alheia já se infiltraram no Congresso
Nacional e estão se aproveitando da bagunça de Brasília pra se fortalecerem; firmarem
pactos com partidos que nem o diabo ousaria tentar; apertar as mãos daqueles
que fecharão os olhos para as suas tramoias fiscais capazes de sustentar
pilares como o templo de Salomão, inúmeras vezes maior que o original. Se esse
Cristo que eles tanto pregam realmente existe, deve estar no plano celestial
arrancando os cabelos e pensando que sua vinda ao planeta Terra foi uma grande
perda de tempo porque, apesar de muita gente ter pulado esse parágrafo, a
Bíblia é bem clara: “A boa reputação vale mais que grandes riquezas”. (Provérbios
22:1) E com essa me despeço.
O meu louvor
vai para os evangélicos que, com suas crenças, seguem em direção à luz, aos que
vivenciam os ensinamentos de Cristo ocupando o coração com alegria, sendo
instrumentos do bem e erguendo as mãos aos necessitados sem dividir uma coisa a
outra, sem aquela preocupação mesquinha de orar em troca de uma casa num
condomínio de luxo, ou num lugar onde se tem harpas e cisnes brancos.
Bruno de Abreu Rangel
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