Pagando multas
Será que todo fim de relacionamento é uma dívida a ser paga?
Certa vez, pegando um trem intermunicipal na Itália, me confundi no instante de adquirir as passagens que eram emitidas através de uma urna eletrônica. Quando dentro do vagão, a oficial que usava um uniforme semelhante ao dos fascistas, me cobrou uma multa de 100 euros porque eu havia adquirido o ticket errado. Tentei me explicar, mas ela foi irredutível.
Em seguida, ela continuou o seu trabalho e notou que quase 30% daquele vagão enfervilhado de americanos, alemães, armênios, holandeses, cometeram o mesmo erro que eu e não foram nem ao menos, incomodados. Mas por quê? Estaria eu sendo alvo de preconceito simplesmente porque usava a camisa do Brasil?
Como quem não pensa duas vezes levantei-me e fiz o que qualquer nacionalista com o orgulho ferido faria – abri discussão com a oficial na frente de todos que, pela expressão das faces, pareciam estar do meu lado. A oficial não hesitou e respondeu ríspida:
- Se você entende italiano o suficiente para me desafiar saberia comprar o bilhete corretamente, se quisesse. Todos os outros turistas mal entendem o que eu digo, e caso queria levar isso adiante podemos discutir o assunto no departamento de segurança da Trenitália.
Sei bem qual é o tratamento para estrangeiros que afrontam as autoridades. Enfiei o rabo entre as pernas e entendi a mensagem.
Algumas vezes na vida, por mais que pensamos fazer a coisa certa, estamos fadados ao julgamento e consequentemente, a pagar multas. E não adianta pensar que a vida é injusta, ficar remoendo a situação, persistir na teimosia. É assim que as coisas funcionam, de erros, acertos – e pagamento de multas. É o preço da felicidade.
Na nossa vida amorosa também é assim. Na maioria das vezes imaginamos que estamos fazendo o que devia ser feito e quando menos esperamos, recebemos desilusão em troca. Pagamos todos os nossos pecados quando decidimos juntar as trouxas para viver com alguém. A vida a dois não é nada fácil até descobrirmos que tudo é uma questão de viver a sequência lógica: paixão, romance, amor, rotina, desencanto – fim de namoro e no final, a conta a ser paga. Será mesmo que todo namoro é como um jantar em que você saboreia, degusta cada sabor, se alimenta e no final tudo o que resta é uma conta a ser paga? Qual o valor da comida saborosa?
Infelizmente o que fazemos é esperar que a digestão se faça e se transforme em algo repugnante. Não devia ser assim. Deveríamos aprender a amar, incondicionalmente, sem medo de erros e acertos. Só o amor materno experimenta essa dádiva.
Ainda somos muito ignorantes para entender o peso e o significado das coisas
Cada relacionamento é novo, é uma oportunidade de recomeçar, fazer tudo diferente, reinventar o que não funcionou, sem receios. Precisamos entender que a nossa caminhada é individual e temos que parar de mendigar por companhia e acreditar menos na monogamia possessiva.
Ninguém pertence a ninguém.
Pedro não pertence a Rafael. Pedro está em um relacionamento sério com Rafael, como o próprio facebook apresenta. É o mesmo que pensar que o nosso superior no trabalho é o nosso chefe. Ele não é nosso chefe, ele “está nosso chefe”. Amanhã é outro dia e quando a Terra gira ninguém é capaz de deter as tramas do destino.
O segredo da vida está em compreender a nossa missão, ser capaz de amar sem exigir demais das pessoas, sermos mais tolerantes. Seres humanos erram, e a culpa não é de ninguém.
Algumas pessoas cruzarão o nosso caminho com o mesmo intuito da oficial da Trenitália, e só nos resta agradecer pelo aprendizado. Se não deu certo. Sente, converse, não dê “piti”. Seja homem para assumir seus erros e pagar a multa, caso seja necessário. O perdão existe pra isso. E bola pra frente!
Bruno de Abreu Rangel
Um comentário:
A VIDA NAO TERIA GRAÇA SE NAO FOSSEM AS MULTAS....NADA É PRA SEMPRE E NINGUÉM PERTENCE A NINGUÉM.....EH BOM TER ALGUMAS MULTINHAS PRA RELEMBRAR...
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