quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pagando multas



Pagando multas

Será que todo fim de relacionamento é uma dívida a ser paga?

Certa vez, pegando um trem intermunicipal na Itália, me confundi no instante de adquirir as passagens que eram emitidas através de uma urna eletrônica. Quando dentro do vagão, a oficial que usava um uniforme semelhante ao dos fascistas, me cobrou uma multa de 100 euros porque eu havia adquirido o ticket errado. Tentei me explicar, mas ela foi irredutível.

Em seguida, ela continuou o seu trabalho e notou que quase 30% daquele vagão enfervilhado de americanos, alemães, armênios, holandeses, cometeram o mesmo erro que eu e não foram nem ao menos, incomodados. Mas por quê? Estaria eu sendo alvo de preconceito simplesmente porque usava a camisa do Brasil?

Como quem não pensa duas vezes levantei-me e fiz o que qualquer nacionalista com o orgulho ferido faria – abri discussão com a oficial na frente de todos que, pela expressão das faces, pareciam estar do meu lado. A oficial não hesitou e respondeu ríspida:

- Se você entende italiano o suficiente para me desafiar saberia comprar o bilhete corretamente, se quisesse. Todos os outros turistas mal entendem o que eu digo, e caso queria levar isso adiante podemos discutir o assunto no departamento de segurança da Trenitália.

Sei bem qual é o tratamento para estrangeiros que afrontam as autoridades. Enfiei o rabo entre as pernas e entendi a mensagem.

Algumas vezes na vida, por mais que pensamos fazer a coisa certa, estamos fadados ao julgamento e consequentemente, a pagar multas. E não adianta pensar que a vida é injusta, ficar remoendo a situação, persistir na teimosia. É assim que as coisas funcionam, de erros, acertos – e pagamento de multas. É o preço da felicidade.

Na nossa vida amorosa também é assim. Na maioria das vezes imaginamos que estamos fazendo o que devia ser feito e quando menos esperamos, recebemos desilusão em troca. Pagamos todos os nossos pecados quando decidimos juntar as trouxas para viver com alguém. A vida a dois não é nada fácil até descobrirmos que tudo é uma questão de viver a sequência lógica: paixão, romance, amor, rotina, desencanto – fim de namoro e no final, a conta a ser paga. Será mesmo que todo namoro é como um jantar em que você saboreia, degusta cada sabor, se alimenta e no final tudo o que resta é uma conta a ser paga? Qual o valor da comida saborosa?

Infelizmente o que fazemos é esperar que a digestão se faça e se transforme em algo repugnante. Não devia ser assim. Deveríamos aprender a amar, incondicionalmente, sem medo de erros e acertos. Só o amor materno experimenta essa dádiva.

A maioria das pessoas acredita que quando saímos de um relacionamento adquirimos mais experiência. Mentira. Puro equívoco - pagamos mais multas. De cada fim de namoro levamos uma pitada a mais de rancor, remorso, insegurança, medo de se apaixonar novamente, arrependimento. É claro que levamos coisas boas também, mas fazemos o mesmo que a comida saborosa: transformamos em algo ruim e damos descarga.

Ainda somos muito ignorantes para entender o peso e o significado das coisas
Cada relacionamento é novo, é uma oportunidade de recomeçar, fazer tudo diferente, reinventar o que não funcionou, sem receios. Precisamos entender que a nossa caminhada é individual e temos que parar de mendigar por companhia e acreditar menos na monogamia possessiva.

Ninguém pertence a ninguém.

Pedro não pertence a Rafael. Pedro está em um relacionamento sério com Rafael, como o próprio facebook apresenta. É o mesmo que pensar que o nosso superior no trabalho é o nosso chefe. Ele não é nosso chefe, ele “está nosso chefe”. Amanhã é outro dia e quando a Terra gira ninguém é capaz de deter as tramas do destino.

O segredo da vida está em compreender a nossa missão, ser capaz de amar sem exigir demais das pessoas, sermos mais tolerantes. Seres humanos erram, e a culpa não é de ninguém.

Algumas pessoas cruzarão o nosso caminho com o mesmo intuito da oficial da Trenitália, e só nos resta agradecer pelo aprendizado. Se não deu certo. Sente, converse, não dê “piti”. Seja homem para assumir seus erros e pagar a multa, caso seja necessário. O perdão existe pra isso. E bola pra frente!

Bruno de Abreu Rangel

Um comentário:

Dandan disse...

A VIDA NAO TERIA GRAÇA SE NAO FOSSEM AS MULTAS....NADA É PRA SEMPRE E NINGUÉM PERTENCE A NINGUÉM.....EH BOM TER ALGUMAS MULTINHAS PRA RELEMBRAR...