terça-feira, 13 de dezembro de 2016

What is the point of having a great romance?

  English version

Does Prince Charming exist or we are living the wrong stories?


What is the point of being gorgeous, having an amazing job, a decent savings, traveling all over the world but in the end we are by ourselves? The truth is that no one falls in love with us just because we are successful, have a beautiful face, or we are a nice person – these are just small details.

No matter what, passion happens because chemistry, the taste of an unforgettable kiss, the smell of his body that we can't get out of our heads, from the desire of spending time with him even if you do nothing just for the sake of being together.

And often, It does not matter if the guy is not faithful, if you have nothing in common, if he wears tacky clothes, because when he approaches and looks inside our eyes we are gone and we feel like the only boy in the world.

Maybe Prince Charming does exist, or maybe he doesn't. If we are able to believe in Christmas even knowing that Santa Claus is a legend, we might believe in love without a gorgeous knight riding a white horse.

There is so much love all over the world - this we can't deny. Although sadness, disillusionment, and nostalgia are "frequent visitors" in our lives, there are good intentions in people’s heart. Sometimes they make some mistakes, make us cry and feel belittled, but that is the way life is, people trying to do the right thing sometimes getting it right and sometimes getting it wrong.

When we fall in love with someone, we don’t choose the qualities or order the appropriated features like we customize our internet shopping stuff –we take the whole package as it is. And then we lose control with a "crazy love" or we enjoy a calm and mature relationship based on respect.

Gay people, generically speaking, gave up living a fairy tale. Does the fact that there is no Cinderella in the story change something? Who doesn't seek a pair of shoes that fit us perfectly, who doesn't seek an eternal love in the form of a great romance?

A great romance is to wake up in our boyfriend’s arms every morning, go to the movies holding hands, be silent without being lonely, to say -" I agree "- when you would rather say “I disagree”, to give in on little things and learn from each other every single day, because only when we sit on a beach and see an old couple that has been together for a lifetime… Then we realize how much time we have been wasting. 

How many people have crossed our lives and because of pride or fear to try one more time, we gave up living the fairy tale?

Bruno de Abreu Rangel

Alguns tipos de namorados que você deve evitar




            Todos esses tópicos abaixo foram baseados em postagens que pipocam na Rede. E é óbvio que eu também estou nesse barco. Hoje as pessoas andam tão melindradas que preciso sempre me justificar quando vou escrever sobre qualquer assunto. Do contrário, sou alvo de uma tribo de “corajosos virtuais” que surgem com pedras de faz-de-conta, com palavras de baixo calão e julgamentos que me deixam noooites sem pregar os olhos. Sigo me mantendo no estado planta.

 
O dramático: emocionalmente desiquilibrado, tudo tem uma reação exagerada, os acontecimentos normais viram capítulo de fim de novela. Um copo quebrado no chão tem o mesmo peso da morte da mãe, por exemplo. Esse tipo de gente sente ódio mortal, posta textões, coleciona episódios pavorosos de barraco e gritaria, é inconstante, tem autoestima abaixo de zero e lhe fará gastar uma energia mental absurda só para poder brigar e ganhar a batalha no final. Uma hora ele vai dizer que o sexo está ficando borocoxô e vai colocar esse desinteresse na sua conta (‘Você não me ama mais’), depois vai insinuar chamar um terceiro, e então vai te crucificar por aceitar fazer sexo a 3, tão logo vai querer a monogamia e o amor eterno de volta, depois vai dizer que você anda muito previsível: isso tudo no intervalo do Fantástico. Já fiquei sem paciência só de escrever.
 
O interesseiro deslumbrado da Zona Sul: Todo mundo já conheceu um. Vem de todos os lugares, pode ser do subúrbio, ou de qualquer Cep do Oiapoque ao Chuí e, na bagagem, traz o sonho dourado de tornar-se no Garotão bem-criado da Zona Sul... nunca consegue. Sempre se dá mal, pois só se aproxima dos pretendentes com segundas intenções. Está sempre arquitetando a possibilidade de dar um golpe, tirar proveito das circunstâncias, mas, porém, todavia, no entanto, bate com a cara na porta, porque os garotos da Zona Sul também não estão tão bem financeiramente quanto aparentam estar: um jogo de ilusões que chega a ser constrangedor. Então, o que resta é aquele mal-estar e uma sensação deprimente de perda de tempo, de ambos os lados. O interesseiro chega a níveis catastróficos de cara de pau que se conseguir sair com alguém só para filar a colocação na balada, já está valendo.
 
Nerd vegano: esse é aquele indivíduo com diplominha chique, blusa xadrez, barba mal feita e cabelo de quem acabou de acordar; o cult cheio de boas ideias para dizimar a pobreza no mundo, que odeia o capitalismo, mas quando tem oportunidade não arreda os pés de Nova York, das comprinhas de Miami, dos cafés pitorescos de Paris (Montmartre, mais especificamente). É um pseudo-intelectual chato pra dedéu, não come carne por causa disso, não ingere industrializados por causa daquilo... vive como se o restante do mundo fosse habitado por idiotas. Odeia os saradinhos, os rapazes que trocam um livro por uma tarde de crossfit, mas na hora do cinco contra um, adivinha que tipo de filme ele assiste? Valendo um sanduíche de beringela vegano para quem acertar.
 
Sex Symbol do Instagram: alguém consegue imaginar se amanhã, do nada, o tio Zuckerberg (dono do Facebook e vários apps) resolvesse tirar o Instagram do ar? Muita gente ia pular da pedra da Gávea, isso não tem nem o que se discutir. O anonimato é o maior terror da galera do “meu corpo, minhas regras”. Esse tipinho que corre atrás de likes e seguidores de forma compulsiva te colocará sempre em segundo plano e você só terá alguma importância se contribuir, de alguma forma, para que esse sistema superficial continue funcionando. No final das contas, você será apenas mais uma vítima do maníaco da moda. Popularidade não deixa ninguém mais bonito, aumenta apenas o ego. Educação e inteligência ganham de músculos e fotos retocadas sim, mas quem tem que fazer essa escolha é você! Que fique claro, estou falando dos excessos.
 
Puritano: esse é aquele “rapaz santinho” que nega fazer qualquer coisa que seja considerada por ele imoral, mas só apontar o outro não é o suficiente, ele faz questão de bater nessa tecla o tempo todo.  A pessoa tem um discurso pronto, mas não o vivencia. Fica como um papagaio louco repetindo que é para casar, que nunca fez nada, que nunca traiu, que acha tudo um absurdo tremendo. Essa obsessão nada mais é que um tesão reprimido. E o que acontece?  Quando ele explode, geralmente pelo excesso do álcool - já que drogas é coisa do diabo - é como uma bomba atômica, coloca até Bruna Surfistinha no chinelo. O rastro que fica é sexo sem proteção (Confie em Deus, mas use camisinha); desaparecimento que, em alguns casos, pode levar até dias; e uma ressaca de princípios que nem o povo da psicologia dá conta. Como consequência disso tudo traz para casa choros compulsivos, pedidos de perdão eterno e promessas de arrependimentos que vão respingar nos exames de laboratório. 
 
            É cada tipo que a gente se esbarra que é melhor evitar...

            Evitar?
 
           Quanta bobagem! Estamos cada vez mais estúpidos com as nossas decisões. Se o coração vibrar na mesma sintonia, porque não dar uma chance? Ninguém coloca “foco e determinação” em foto com o namorado, projeto verão 2000 e blau vai sempre para o corpo, nunca para a vida a dois. Somos apenas mais um rosto na multidão e, ainda assim, pensamos ser o suprassumo que se acha digno de evitar alguém por um defeito que a pessoa venha a ter. Os relacionamentos de hoje vão de mal a pior, ficamos naquele joguinho de indiferença onde vence o que se mostrar menos interessado.
 
          Não importa se a pessoa é puritana, se ela gosta de dinheiro, o que ela deixa de comer, se faz questão de ter mais um like para acalmar a autoestima, se ela dá um show por qualquer motivo... O que conta é a vontade de estarmos juntos. Tudo é energia, amor envolve sacrifício. Devemos ser honestos conosco, ter a certeza de que estamos fazendo o nosso melhor, e se tivermos que evitar algo, que seja a nossa arrogância em optar por uma vida morna e sem cor. Quando salvamos um amor, salvamos a humanidade.

 
Bruno de Abreu Rangel

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Meninos de buatchy: Da bala de coco à bala que dá onda


Não sei o segredo do sucesso, mas sei o do fracasso – que é agradar a todos. No território das palavras a gente usa as armas que pode para fazer as pessoas pensarem, refletirem sobre algo que está escancarado e que a gente finge não ver. Isso aqui é só o pano de fundo e é bom lembrar que eu me incluo nele. O que atrasa a humanidade é gente sem senso de humor, gente que não entende sarcasmo.

Sou dos tempos do “Parabéns para você”, em que aniversário não era algo tão elaborado: bolo de glacê, bala de coco com gosto de sabonete, brigadeiro enrolado a mão, salgadinho de quinta (engraçado como fritura naquela época não matava), um repertório de músicas horrendo e meia dúzia de esfomeados se cotovelando para pegar as balas e os pirulitos que caíam quando o balão surpresa era estourado. Depois um saquinho com lembrancinha... E fim de festa.

Na adolescência veio o hi-fi. A garotada fechava o play do prédio, contratava um serviço de iluminação, caixas de som, e os mais abastados “tiravam onda” com a fumacinha do gelo seco. Cada convidado levava a sua bebida ou salgadinho. As músicas eram um pouco mais agradáveis e, apesar do balão surpresa ter desaparecido, os pirulitos continuavam ali disponíveis – mas só as meninas podiam apalpar. Depois que todo mundo tinha ficado com todo mundo, o último a sair apagava a luz.
Tempos modernos.

As festas de hoje são uma aventura total, você não sabe se vai morrer, se vai ser traído, ou se vai conhecer a sua alma gêmea e se casar por dois meses que seja...

Para começar, logo na entrada, é preciso ter um saco gigante para suportar o tédio das filas quilométricas que dão voltas e ninguém respeita: estirpe praticamente inglesa.

Quando você finalmente se aproxima da porta... ‘Ufa, agora vou me divertir’! Isso é o que você pensa. Vai ter que passar por uma revista digna de FBI, feita por um bando de seguranças altamente treinados, que vai te colocar de cabeça para baixo, tocando em lugares que nem você enxerga para tentarem te impedir de entrar com coisas que lá dentro vende a torto e a direito. Como isso acontece? Sou péssimo com esses jogos de adivinhação.

Já na pista, ainda que as pessoas não estejam caracterizadas, se você analisar com um olhar bem crítico vai conseguir enxergar o Superman, o Batman, o Robbin, a Cinderela, a Gata borralheira, a Pocahontas e até o Quarteto Fantástico (aqueles amiguinhos incríveis e inseparáveis). Já podemos vomitar?

Ainda não, a parte do vômito é mais para o final. Agora é hora de curtir a festa.

A primeira etapa é procurar algo para beber. Não caia na cilada de pedir drinks exóticos, Vodka Absolut Citron, champagne Dom Perignon, ninguém bebe isso. E, além de você se queimar, corre o risco de ser expulso pelos seus amigos “miguxos”. O esquema agora é a degustação de água, ritual pra lá de curioso. Todos com abdômen rasgado e trabalhados no H20, inclusive, gostaria de mandar um beijo para a Nossa Senhora do Stanazolol e fazer um lembrete, juro que é rápido: alguém se recorda da mamãe aconselhando? ‘Não vá aceitar bebida de estranhos’, pois então – isso também vale para a água mineral de garrafinha. Uma golada a mais e é aquele vexame...

E não é para fazerem pirraça. A notícia ruim é que a bala de coco sumiu, evaporou, escafedeu-se. Se você é daqueles apegado à infância pueril vai sofrer um bocado, mas em compensação encontrará uma outra gama de balas artificiais que vão adoçar a sua vida (sabor nunca te vi, mas te amo; sabor DJ tuc tuc na cabeça e a sabor me beija que amanhã vou fingir que nem te conheço).

Saquinho de surpresa já vou antecipando: não tem, porém se usarem a imaginação... quem já deu uma volta pelos banheiros deve saber, faz-se de tudo, menos xixi. A grande surpresa da festa é ver gente ficando com o namorado do amigo, amigo ficando com inimigo, e geral ficando com uma baita de uma deprê no Domingo a tarde.

Pronto, já podem vomitar.

Os meninos da juventude eterna estão presos à ilha da fantasia. Hoje fazem 18 anos, 28, 38 e aos 48 anos estão pagando de adolescentes seguindo o raciocínio de que “se a Madonna continua quicando com quase 60, eu também posso”. Um dia alguém tem que crescer, um dia a gente vai precisar abrir mão de todo esse paraíso de mentirinha para poder enxergar o mundo com cores que hoje - só conseguimos através da bala.

Bruno de Abreu Rangel

Rapazes de programa: qual o preço do seu sexo?


Se você imaginou que esse artigo fosse meter o pau nos meninos que vendem o corpo por dinheiro - se deu mal. A intenção aqui é justamente o oposto: confrontar as nossas atitudes para entendermos, de uma vez por todas, que somos todos farinha do mesmo saco.

Meio mundo levanta a bandeira de que jamais faria sexo por dinheiro, por interesse; batem na tecla de que o corpo físico é o seu bem mais precioso... ‘Eu? Imagina, sou uma pessoa íntegra, preferiria morrer’.  Já podemos encomendar os caixões. Abaixo segue uma listinha bem ácida de situações em que todos nós vendemos o corpo, a alma, a mãe, a integridade, a vergonha na cara e até o que não temos.  Os exemplos são muitos e se empilham:

1-      Tem gente que troca sexo para passar um final de semana num apartamento na Zona Sul do Rio; R$100,00

2-      Tem gente que troca sexo por autoestima, só para ter o prazer de falar para as “amigas” que pegou o cara mais gato da academia, mas omite o fato de que a química passou longe; R$200,00


3-      Tem gente que troca sexo por colocação (isso inclui álcool, cachimbo da paz, balas, doces, praticamente o kit São Cosme e Damião); R$100,00


4-      Tem gente que troca sexo por segurança, fazendo o que tiver que ser feito para manter a relação, acreditando que a cama pode ser o suficiente; R$200,00


5-      Tem gente que troca sexo por uma viagem, que pode ser para um vilarejo sem graça, ou até uma temporada na Europa; R$100,00


6-      Tem gente que troca sexo pela juventude, desfilando com um garotão para se sentir mais novo esperando ter de volta o brilho dos olhos que ficou perdido em algum lugar do passado; R$200,00


7-      Tem gente que troca sexo por uma ponte aérea para bater cartão numa festa badalada e poder se drogar até quase morrer; R$100,00


8-      Tem gente que troca sexo por ilusão: ‘Nossa, o beijo dele é diferente. Tenho certeza de que vai rolar algo mais sério, ele só não atende minhas ligações porque anda muito preocupado com o trabalho’; R$200,00


9-      Tem gente que troca sexo por um abadá de carnaval; R$100,00


10-   Tem gente que troca sexo por companhia, para ter com quem conversar, porque são pessoas difíceis de conviver e que não conseguem construir amizades sólidas. E então, acabam utilizando os lençóis como mesa de bar; R$200,00


11-   Tem gente que troca sexo por emprego, para manter a sua posição, ou subir um degrau na escadinha hierárquica (essa é clássica); R$100,00


12-   Tem gente que troca sexo por autoafirmação, vivendo a vida sem aceitar que o tempo vai deformar o corpo; R$200,00


13-   Tem gente que troca sexo por fogos de artifício, só para ter onde cair no Réveillon; R$100,00


14-   Tem gente que troca sexo por vingança; R$200,00


15-   Tem gente que troca sexo por beleza, acreditando que estar ao lado de um rapaz bonito vai deixá-lo, automaticamente, mais notável; R$100,00


16-   Tem gente que troca sexo pelo vazio; R$200,00


17-   Tem gente que troca sexo por ambição, fazendo joguinhos emocionais e manipulando o cônjuge para ganhar presentinhos como carros, apartamentos, e por aí vai...; R$100,00


18-   Tem gente que troca sexo por vaidade, para satisfazer o ego, alimentar a fantasia de ser o suprassumo da beleza, o irresistível. (Na maioria das vezes fazem um sexo meia boca, é tiro e queda: transam com eles mesmos); R$200,00


19-   Tem gente que troca sexo para andar de carro (a famosa Maria Gasolina); R$100,00


20-   Tem gente que troca sexo por prato de comida (essa opção não devemos desejar nem aos inimigos); R$200,00


21-   Tem gente que troca sexo por um intercâmbio cultural, simplesmente para ter onde ficar... na casa do gringo; R$100,00


22-   Tem gente que troca sexo pela piscina do Fasano, só para tirar umas fotinhas “inusitadas” e fazer o Instagram bombar; R$200,00


23-   Tem gente que troca sexo por amor... R$100,00


Não é o meu intuito fazer apologia à prostituição, mas muitas pessoas torcem o nariz quando se deparam com um garoto de programa sem ao menos se darem conta da história de vida daquele ser humano. A gente nunca vai saber das lágrimas por trás de cada sorriso. E, ao invés de sairmos por aí julgando, cuspindo verdades prontas e vomitando um repertório decorado, é bom que paremos para pensar no valor do sexo nas nossas próprias vidas, porque tudo, absolutamente tudo - é uma troca. Quanto custa uma noite com você? Faça as contas.


Bruno de Abreu Rangel


terça-feira, 20 de setembro de 2016

O amor acontece quando a gente fica mais tempo do que deveria


Pessoas vão e vêm – o tempo todo. Divórcio hoje em dia ficou mais fácil do que baixar música. A vida está tão cheia de possibilidades que nos dá a impressão de que as pessoas ficaram inconsistentes, os sentimentos ficaram líquidos, tudo escorre pelo ralo. Há paixões para sempre e paixões que duram uma chuva. O que vale no final das contas, é a vontade de ficar um pouco mais, todos os dias.

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Ana e Pedro se encontraram casualmente depois de alguns anos. Ela foi pega de surpresa num daqueles dias de distração: estava totalmente desconfigurada, vestindo trapos, com os cabelos para cima, quase uma mendiga. Ele todo bonitão, pele bronzeada, terno de marca, parecia ter saído de um comercial de margarina, no entanto a sua cabecinha estava uma bagunça e o rapaz parecia um sem-teto emocional perdido no mundo, sem saber o que fazer - mendigando companhia.

Os dois decidiram tomar um chope improvisado num bar nada a ver e de repente estavam sendo convidados a se retirarem, simples assim. Todas as cadeiras estavam para cima, o chão estava sendo varrido e a porta praticamente se fechando. Haviam se passado seis horas de papo e eles nem se deram conta. Rolou a saideira, depois rolou aquela lambeção que os adultos fazem entre quatro paredes, rolou bebê e rolou beijo de bom dia todas as manhãs quando acordavam juntos e seus olhos se encontravam: ‘Como você me faz feliz’.

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João Victor e Isabelle estavam naquela fase do pega pra capar. Viviam ocupando a mente com festas, bebidas, drogas, encontros e desencontros; se apaixonando pelas pessoas erradas e colocando o coração numa guilhotina.

Marcaram um encontro num desses aplicativos de furnicação e depois do segundo toc toc, a porta se abriu... foi aquele alívio: um encontro de almas. Aquele sorriso bobo, impossível de disfarçar. E então bateu a tal química intelectual em que você pode falar sobre tudo, ou ficar em silêncio, que se sente à vontade. Preste atenção nos sinais. Se ambos querem ficar quando é hora de partir, você está vivendo um momento mágico. ‘Dorme aqui hoje, está chovendo. Amanhã você vai’.

 Já se passaram quatro anos.

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As pessoas têm pavor do ‘fica comigo’, também têm receio do ‘não te quero mais’, medo disso, daquilo. Dúvidas e mais dúvidas sobre algo que nem aconteceu, e quando decidem encontrar-se com alguém estão armadas até os dentes porque querem um amor que sirva para a cama, mesa e banho. Não conseguem relaxar porque não estão preparadas para ficar um pouco mais.

Melhor encontro é aquele quando a conversa é fácil, quando no dia seguinte é o primeiro pensamento logo pela manhã. É quando alguém fica com os olhinhos brilhando quando te avista de longe: ele voltou.

O casamento enfraquece o sexo sim, os dias passando levam todas as novidades, vai faltar vontade, assunto, vai faltar tudo, mas enquanto houver interesse, afeto, admiração, ou qualquer coisa que te bote um sorriso no rosto, talvez seja hora de ficar um pouco mais.

Bruno de Abreu Rangel

A ditadura parça-brother


“Boca de forno.
Forno.
O que o mestre mandar.
Faremos todos.
E se não fizer...
Tomaremos bolo”

‘Eu quero que todos fiquem sarados, subam a pedra da Gávea e façam pose de macho malvado sem camisa, com frase de superação. ’

E de repente, é tudo o que se vê: uma enxurrada de fotos bem pensadas, com ângulos super elaborados, um sol praticamente ensaiado; uma turma em que n-i-n-g-u-é-m está fora de forma, todos bem seguros de si mesmos, não sofrem de problemas financeiros e fecham parceria: o mundo encantado de Brotherhood.

É preciso encher a cara de cachaça para escrever sobre esse assunto, mas antes quero falar sobre um incidente.

Aconteceu no Leblon:

Num magnífico Domingo de sol, com o calçadão superlotado de pessoas felizes que iam e vinham, bem naquele esquema novela das oito, um garoto bem magrinho e de aparência simples, tentava equilibrar-se nas traiçoeiras rodas de um roller até que, para a sua infelicidade, deu de frente com um brother machão e os dois foram parar no asfalto:

‘Coe viadinho, se não sabe andar com essa porcaria fica na sua área’.

 Assustado com o tom de desaprovação do rapaz trabalhado nos esteroides, o garoto se levantava com dificuldades enquanto pedia desculpas com a voz falhando. É o tipo de cena que você prefere morrer para não ter que presenciar. A palavra respeito já está cheirando a mofo.

Parte da ideologia dos parça-brother é diminuir todos que são diferentes deles usando a intimidação, imposição, constrangimento – violência psicológica. E é atacando a autoestima dos demais que eles fortalecem o próprio regime ditatorial.

´Nossa, banho quente? Coisa de menina´
´Não vou nesse tipo de boate, sou macho rapá´
´Que camisa é essa, parece uma bichinha´
´É amigo daquele sujeito que fala fino? Não serve para ser nosso amigo...´

Os parça-brothers são matéria de estudo, daria para lotar congressos em Harvard só para decifrar o que se passa na mente dessa espécie que se camufla entre os heterossexuais e que teme ter a própria identidade desvendada (pessoas que supostamente seriam bem mais interessantes se fossem elas mesmas). Qualquer traço ou conduta arco-íris é motivo para serem banidos de suas comunidades. Existem regras a serem seguidas, você precisa decidir entre tomar cerveja em copo de geleia num bar com os parça-fechamento, ou ir ao show da Anitta numa boate badalada – não pode ter as duas coisas. E segundo eles, apenas a segunda opção lhe torna gay, ainda que você goste de meninos.

Voltando para a história do Leblon, um certo tumulto tinha se instalado, lógico, o povo adora um barraco. Um senhor, que andava arrastando os pés, aproximou-se questionando o episódio ao menino do roller, que disparou:

_ Moço, eu já pedi desculpas para o seu filho, foi sem querer. Ainda estou aprendendo a andar...

_ Ele não é meu filho, é meu namorado!!!

De repente o tempo fechou. O bombadão que quase se passou por um hétero machão tinha sido desmascarado na frente de todos à luz do dia, com o sol do Leblon à pino. Pela sua feição ele queria enfiar a cabeça do senhorzinho no asfalto. Mas quem iria bancar os suplementos, as viagens, o apartamento no metro quadrado mais caro do país?

Namorar alguém com o dobro da idade, seja por amor, ou interesse não está em pauta e nem é da minha conta, mas alguns se esquecem dos caminhos que trilharam e são intolerantes com os que cruzam os seus caminhos.

Ficou muito claro o porquê daquele brother tratar mal alguém tão frágil e que estava circulando pela “sua área”. O menino do roller estava tendo a audácia de ser ele mesmo sem ter que pagar nenhum preço por isso. Se alguém precisa fazer um show para provar que é macho, ele já não é macho.

Níveis excessivos de insegurança fazem com que as pessoas se percam delas mesmas. Se o indivíduo já foi casado com mulher, se já teve filhos, ou circulou na vida “politicamente correta”, deve ser homem o suficiente para aceitar que nem todos foram covardes. Muitos bateram no peito e enfrentaram o mundo para viver a vida que desejaram - caindo e se levantando - com, ou sem roller. Isso é felicidade!


Bruno de Abreu Rangel

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Os surtados do Hornet


Tem maluco dando vexame nos aplicativos de pegação



Que pegação de rua já caiu em desuso, todo mundo já sabe: a moda agora é pagar de doido num desses aplicativos de “relacionamento”. Está duvidando? Baixe o Hornet, por exemplo, crie um perfil bacanésimo que não tenha nada a ver com você (que é o que todo mundo faz), invente um personagem surreal com uma história impossível de sustentar e...

 ...catapoft.

Você vai cair de paraquedas num terreno de gente rasa, sem noção e que está ali esperando uma oportunidade para fazer você perder o seu tempo, atrasar a sua vida, ou te expor nas redes sociais: o famoso print screen de tela. Permitam-me assumir, se fosse apenas oba-oba, sexo por sexo, a galera toda fazendo bundalelê e paixonites de fim de semana, ainda estava valendo – mas não, tudo o que se vê é um apanhado de seres que precisam urgentemente de Gardenal:

O psicótico possessivo: é super compreensível ficar desorientado depois de conhecer alguém que tenha o rosto no lugar, o corpo em dia, que seja interessante e tenha nos proporcionado uma surra de cama (dá um frio na espinha só de pensar), mas daí achar que vai rolar casamento logo em seguida... é loucura demais, e das grandes. Esse tipo de pessoa entra numa vibe tão errada que começa a sufocar um peguete sem antes saber o sobrenome do indivíduo e, quando consegue um segundo encontro, já chega mandando logo uma DR (discutir relação). Se o remedinho controlado dele acabou a culpa não é sua. Não entre nesse jogo, ponha o perturbado da cabeça para correr enquanto há tempo:

‘Coleguinha, volta 3 casas? O que aconteceu com a gente? Relacionamento de 15 anos’?

O esquizofrênico de Ipanema: esse tópico já daria um outro texto gi-gan-te, mas irei resumir, rapidinho. Esse é aquele psicogato clichê, malhado, bonitão, requintado, de movimentos leves, cheio da grana, que sabe o que quer da vida, tem objetivos bem traçados, uma pessoa com a cabecinha no lugar (fico gargalhando uma tarde só de escrever essas linhas). Pois então, esse louco que bate palmas para o pôr do sol em Ipanema fica de plantão em frente ao espelho batendo palmas para si mesmo, e quando se cansa – isso sempre acontece – entra num desses aplicativos como o Hornet para conseguir plateia e saciar o ego, fica lá fissurado atrás de novidades, trocando mais salivas do que palavras, agoniado pra sentir algo diferente, nem que seja arrependimento. Tratamento? Semancol gotas, o elixir do verão.

Gente boa sequelado: sujeitinho disfarçado de maluco beleza, puxa saco das pseudo celebridades do Instagram, finge ser amigo com uma facilidade de dar inveja, comunicativo que só ele. Está sempre com um assunto novo para jogar na roda e seu maior objetivo é tirar risadas de todos, custe o que custar. O que poucos sabem é que esse fofo inofensivo e desocupado é um stalker de carteirinha, quase um detetive profissional, que fica disfarçado nesses aplicativos esperando o “descuido” de alguém com o intuito de explanar a intimidade alheia para Deus e o mundo. Entenderam como esse surtado sobrevive? O transtorno mental é tão complexo que seria preciso uma equipe de especialistas para ajudar uma pessoa dessas a tomar conta da própria vida e receber a atenção que foi negada lá nos tempos de creche.

O mentiroso patológico: a falta de bom senso é pop e está em alta. A criatura tem quarenta e lá vai pedrada e comete a deselegância de dizer no perfil que tem 29, oi? Tudo bem, autoestima é fundamental, mas não seria melhor deixar a outra pessoa tirar essa conclusão? Nessa teia de mentiras, manipulam-se informações dos pés à cabeça, desde à altura ao tamanho dos apetrechos. Pintam uma imagem de Brad Pitt e na hora H tem-se uma nítida impressão de que o maluco fez um intensivo de Inês Brasil. O desenrolar dessa insanidade toda fica nesses moldes: o pretendente, para não perder a viagem, acaba dando uma rapidinha e corre como um doido pra bem longe, e ainda jura de pé junto que nunca saiu com o “quarentão com rostinho de 29”. Mentira sendo paga com mentira.

O Hornet, dentre muitos outros, é certamente uma experiência social, antropológica, um açougue a céu aberto onde todos querem degustar a carne e virar os olhinhos, até aí tudo bem. A questão é que barriga sarada virou entidade, sexo só serve se for daqueles de dar pirueta, Rivotril agora é camomila, as drogas transformaram pessoas e pessoas se transformaram em drogas, as curtidas vieram para resumir os diálogos e poupar tempo; e o lindo para casar de hoje – é o ninguém de amanhã.

O que vai acontecer com os relacionamentos do futuro? Essa é a pergunta de dois milhões de dólares. Enquanto isso, vou cuidar da minha cabeça, porque do corpo e da nossa vida – tomo mundo já cuida.

Bruno de Abreu Rangel





terça-feira, 2 de agosto de 2016

100 dias sem ele (a)

O mais importante de tudo é voltar com o brilho dos olhos na bagagem


“A vida acontece com você, sem você e apesar de você”. Foi o que ouvi de uma amiga dia desses. É sim um baita chute no estômago, praticamente um bilhete de acorda para a vida.

Todo mundo tem uma rotina para seguir, um sonho para tirar do papel, um Deus para adorar, um amor de filme com direito a conchinha, um ente querido que estará sempre na área de desembarque nos esperando por horas que parecem uma eternidade só para ver o sorriso dos nossos olhos e nos envolver num abraço quente:

‘― Que bom que você voltou! ’

Mas nem tudo tem volta, seja um ato, uma palavra, uma oportunidade, ou um grande amor.

Nesses quase 100 dias que passei nas estradas de todo o país convivi de perto com o famoso “um dia de cada vez”: o desapego diário dos hábitos, das malas que quase nunca eram desfeitas, dos quartos de hotel que tentam a todo custo projetar a intimidade das nossas casas; ter que conviver com pessoas que jamais fariam parte do nosso ciclo de amizades e que quando a gente se dá conta está sentado numa mesa de bar pedindo conselhos e rindo das coisas mais idiotas do planeta.

Nessa peregrinação - de norte a sul do país - houve uma varredura nos relacionamentos que não se sustentavam, que iam do nada a lugar nenhum (amores de conveniência, amores tapa-buraco, amores que duram enquanto a academia permite). Tudo que era leve foi levado por um sopro. Folhas despencaram com o vento e só restou o que era sólido, o que realmente tinha raiz. Ficou um silêncio difícil de enfrentar e bases motivacionais chegaram a sumir do mapa. Demora um tempinho até que a gente entenda que o vazio é para ser compreendido e não preenchido.

Na contramão da estrada surgiram novos sorrisos, novos “quero ficar com você”, gente que se amou numa tarde de Terça-feira mais do que muitos amam numa vida inteira. Pessoas com o coração descarrilhado, que deram um off-road na alma, pagaram pra ver e, finalmente, colocaram suas vidas nos trilhos. Não precisava ser um amor eterno, poderia ser um amor de repente. A humanidade está salva do meteoro.

Olhando pelo retrovisor, ficou a saudade, uma agonia que dá um bolo na garganta; a perda de alguém que nos criou e virou “estrelinha no céu”, alguém que parecia intocável e que se foi sem que pudéssemos dizer: oi, eu já disse hoje o quanto te amo?

Foram quase 100 dias, mais de 300 cidades, centenas de rostos que iam e vinham, alguns quilos a mais, ou a menos (quem ficou com a segunda opção se deu bem, bate aqui). Não foi moleza, sabíamos de todos os riscos. Ele (a) poderia descobrir que a vida sem nós é bem mais interessante – e não há nada que se possa fazer. Pessoas que, nas redes sociais, esbanjavam paixão (Eu, o love e o sol) terminaram abandonadas num acostamento e assistiram todos os planos serem arrastados por um caminhão reboque. Não há dúvidas de que a vida era bem mais fácil quando a gente desenhava duas montanhas e um sol. A batalha do desapego é um pedágio que nos leva quase tudo – mas nos devolve a confiança de que as coisas sempre se acertam, somos capazes do inimaginável. Quando encontramos a felicidade dentro de nós, cada dia é uma vida inteira.

Vai ser estranho voltar para as nossas casas e talvez nunca mais rever algumas faces, conviver com algumas desavenças que acabaram rolando no calor dos acontecimentos; passar a chave na porta e não ser recebido por alguém que um dia esteve no porta-retratos da sala. Em contrapartida, há um universo de possibilidades adiante; um coração mais leve, mais desprendido, mais consciente de que se foi até onde dava pé. Uma alma livre para percorrer novos caminhos sem aquela preocupação tresloucada de seguir o GPS à risca, poder se perder de vista só para se encontrar, sair por aí feito louco rindo sei lá de quê. O mais importante de tudo é voltar com o brilho dos olhos na bagagem, porque a nossa existência é isso... Perdas e ganhos, com ou sem ele (a).


Bruno de Abreu Rangel


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Meninos bombados: os bonitões de mentirinha



Admiro e muito as pessoas que levam a vida com desprendimento, que não se restringem a rótulos, que se olham no espelho e ficam satisfeitas com o que veem mesmo que o reflexo não seja um dos melhores; que sabem a importância de cuidar da saúde do corpo e da mente sem ficar na maluquice de se acampar numa academia de musculação.

Eu e, quase todas as pessoas que conheço, estão sendo consumidas pelo prazer instantâneo, por uma existência com objetivos inconsistentes, passando por cima de valores só para sair bem na foto do Instagram; se apaixonando pelas pessoas que as rejeitam, caindo na armadilha de achar que o mundo lhes deve mais curtidas. Sentimentos vazios e confusos são um prato cheio para uma vida instável, é um contrato que a gente assina com o diabo..., mas as letras são pequenas.

Os nomes são fictícios, e as histórias foram adaptadas para preservar a identidade dos personagens. Qualquer semelhança é mera coincidência.

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A bomba relógio: Juliano ainda tinha espinhas no rosto quando a turma da escola o apelidou de Cocô. Era ridículo como o bullying naquela época chegava a proporções catastróficas. No meio do intervalo, com os corredores lotados, alguém gritava ‘Cocô’ e ele olhava para trás respondendo ao chamado. Já estava conformado com a chacota decorrente do fato de ser moreno, estar acima do peso e ter problemas de acne.

Foi tanta surra de baixa autoestima que um dia ele resolveu dar descarga no passado e tornou-se no mulatão mais sarado e cobiçado da cidade. Como ele chegou lá? Muito anabolizante. Começou com uma dieta daqui, um suplemento dali, depois apresentaram uns produtinhos milagrosos até chegar ao tal veneno “inofensivo” que a garotada toda anda tomando: ‘Vai ficar com o corpo perfeito em 15 dias’. Esse ciclo virou rotina e ele perdeu o controle. No seu inconsciente, nada seria pior do que voltar a ser um Cocô. Mas a m*rda acabou aparecendo, de uma hora para outra, no seu exame de rotina: insuficiência cardíaca. Com uma simples bala e uns “goles d’água” que ingeriu numa dessas festas cheias de gente bacana, seu coração não suportou, e ele faleceu em seguida.

Ciclo sexual: Carlos era um daqueles que passava desapercebido nas ruas, um zero à esquerda nas redes sociais e, de quebra, sentia-se rejeitado por gostar de meninos (cada cabeça, uma sentença). Ele decidiu virar esse jogo dando uma bombada no seu amor-próprio. Com algumas doses extras de testosterona correndo nas veias pôde sentir o gostinho de ter todos os homens aos seus pés (abdômen rasgado e músculos torneados tem lá o seu poder). Os likes vieram aos montes, noites de farra viraram rotina, o troca-troca de camas o deslumbrava, bocas novas passaram a ser prioridade e ele caiu na cilada do transtorno sexual. A euforia em se ocupar com os prazeres da carne trouxe melancolia, desinteresse, sofrimento mental e outras drogas. Se expôs o suficiente nesse desafio do sexo sem amor e contraiu uma doença que - hoje não mata mais e ninguém tem medo - no entanto, o seu fígado já estava comprometido e os remédios não responderam ao tratamento. O final a gente já sabe: game over.

Menino-bomba: o que pouca gente sabe é que muitos de nós somos pré-dispostos às doenças mentais (algumas pessoas em níveis alarmantes). A insegurança, o ciúme e a falta de amor é o conteúdo que vai parar nas seringas dos bonitões de mentirinha. E, algumas substâncias, quando injetadas sem acompanhamento médico, podem definir o corpo e “definhar” a mente, não necessariamente nessa ordem. É o caso de Leandro, o loirinho do corpo turbinado. Não perde um dia de treino e é capaz de trocar o aniversário da mãe por uma série de bíceps, mas há uma única coisa a qual ele se rende: a obsessão pelo seu ex-namorado. Nessa fissura de stalkear e perseguir todos os passos do rapaz ele acabava tendo comportamentos violentos, mas que num todo eram inexpressivos. No seu quebra-cabeças da rejeição, se ficasse ainda mais sarado, atrairia o seu antigo amor e tudo voltaria a ser como antes. Porém, o seu mundo desabou quando ele viu uma série de fotos do ex com um novo garoto. Detalhe: o corpo do menino era o mais natural do mundo. Tomado por uma fúria incontrolável, injetou mais uma dose da falta de amor na seringa, entrou num processo de taquicardia e saiu literalmente da casinha. Pessoas psicologicamente comprometidas pensam muito e sentem pouco:

Uma faca;
Um ex;
E um garoto virgem de anabolizantes.

A conta não fecha e como é de se esperar, essas histórias sempre acabam mal para quem não tem nada a ver.

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Não ter limites é bombástico. A escassez de alicerces emocionais tem feito jovens marombeiros colocarem a própria vaidade na UTI. Estão todos anêmicos de amor e basta um espirro na autoestima para causar uma pneumonia na alma. A questão merece cuidados: se o peso da nossa consciência estiver maior que a dos halteres, talvez seja hora de assumirmos o controle da situação.


Bruno de Abreu Rangel
brunorangelbrazil@hotmail.com

sábado, 19 de março de 2016

30 frustrações e traumas das “bees” amigas



A nossa vida, se olharmos a olhos nus, chega a ser hilária: Comer – transar – ir ao banheiro – lutar por algo mais – morrer, e pronto. Nesse meio tempo que vai da estreia ao término do espetáculo – sim, porque as bees não nascem, estreiam – o que sobra é um desejo excessivo em ser algo que não somos e uma porção de frustrações que levamos para o caixão.
 
Pegando o gancho nesse tema polêmico, montei uma coletânea das pérolas que recebi (comentários de leitores) e, também, das insatisfações estampadas nas redes sociais. Algumas soam um tanto quanto preconceituosas, outras chegam a ser arrogantes, intimidadoras, mas a grande sacada é ler com bom humor e não levar para o lado pessoal. Afinal, quem não tem a sua lista íntima de fracassos e desgostos?
 
1 – A inimiga ficando cada vez mais linda e sarada;
 
2 - Ter que postar foto seminu com provérbio bíblico para procurar um sentido para a vida;
 
3 - Romance com prazo de validade: namoro que dura até o carnaval, ou namoro que não vinga após o carnaval;
 
4 - Ter que passar um perrengue rachando apartamento com mais trezentos parças, brows, brothers-fechamento, ou seja lá qual for a denominação que estejam utilizando, só pra conseguir se sustentar na Zona Sul;
 
5 - A bala não bateu;
 
6 - Se entupir de anabolizantes e descobrir que não há solução para a cara de cortador de cana;

7 - A sua amiga piriguete está namorando sério – você não consegue segurar ninguém;
 
8 - Ter um milhão de seguidores, cem milhões de likes, ser chamado de lindo o tempo todo nas redes sociais – e na vida real passar despercebido;
 
9 - Você espera ansioso para que ele te vire do avesso e do nada ele solta um: ‘Inhaimmmm’;
 
10 - Todas estão postando fotos no Verão europeu, você morre de inveja e lança frases de recalque no seu Facebook;
 
11 - Ter a necessidade de dar em cima do namorado dos outros por inveja, ou baixa autoestima;
 
12 - Descobrir que a Falsiane se fantasiava de melhor amiga para tirar algum proveito quando precisava de você (o famoso abraço de urso);
 
13 - Sustentar a imagem de modelo sem ser modelo;
 
14 - Ter que frequentar rodinhas de samba e beber cerveja de boteco só pra ser aceita pelas amigas parça-brother;
 
15 - Você começar um namoro com um boy magia e ele não ter a mínima ideia de que está sendo namorado;
 
16 - Entrar num aplicativo de pegação e descobrir que o perfil mais próximo está a 52 km de distância;
 
17 - Ficar na internet namorando as fotos de um saradão machista skatista surfista que faz igisleskelaine (lê-se slackline) e, por ironia do destino, esbarra por ele na rua e descobrir que o mesmo anda com técnicas de passarela.
 
18 - Ir para o circuito de Tel Aviv para pegar carne nova ou, encontrar um grande amor – e dar de cara com as bees da sua rua que você não gostaria de ver nem pintadas de ouro;
 
19 - Não poder ir ao circuito de Tel Aviv;
 
20 - Você pegar o contato de um cara maravilhoso na festa e quando vai ligar: [Esse número não existe];
 
21 - Se empanturrar de bombas, postar fotos sem camisa com o slogan “foco e determinação”, e dois meses depois ter que ficar repostando foto antiga porque o corpão já foi pro beleléu. Vamos fazer pós-ciclo?
 
22 - Soltar o veneno nas inimigas apontando sobre um tipo de comportamento quando se está fazendo algo bem pior, no esquema: falsiane-puta-michê.
 
23 - Receber o cartão VIP da buatchy e descobrir que até as amigas mais pobres o têm, e que os VIPs são os que pagam pela entrada;
 
24 - Sair com um gostosão do aplicativo, explanar o acontecimento para as amigas e depois ter que inventar uma desculpa esfarrapada porque o boy não quis uma segunda vez: ‘Ele tinha um sotaque horrível... ’;
 
25 - Você ter descoberto pelos outros que não é hétero, e muito menos rico, e nem tão bonito.
 
26 - O boy magia que você pegou na noite anterior passou por você na rua e fingiu que nem te conhece;
 
27 - Sair de um buraco do interior do país onde mal se pega Wi-Fi e querer pagar de gata bem criada em plena capital.
 
28 – Dar toda a pinta do mundo e seu pai ainda fingir que não sabe que você fugiu do armário.
 
29 – Suar para escolher uma roupa para sair e encontrar uma bee com a camiseta igual na balada. E olha que a vendedora disse que a peça era super exclusiva e só tinha trazido uma peça de Miami.
 
30 – Ficar achando que aquela indireta no Facebook era para você, assim como algumas desse texto...
 
 
Bruno de Abreu Rangel

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Baladas Vorazes

Quantos serão eliminados nesse novo torneio?



          O mundo é lindo sim, mas está nas mãos erradas. Está sendo manipulado por pessoas cheias de “boas intenções”, que estão construindo impérios longe dos nossos olhos enquanto tiram proveito dos que estão sendo eliminados – pouco a pouco. Também faço parte desse jogo e, apesar de ainda ficar meio perdido com relação às regras, me questiono constantemente: qual a razão de tudo isso? Quem vence no final? A única impressão que me vem à cabeça é a de que depois de tanta luta o triunfo da vitória parece algo vazio.
Já dei as minhas voltas nos campos da escuridão e voltei, várias vezes. Tudo indica que talvez seja hora de dar um basta e tentar sair desse jogo de azar. Muitos estão nesse duelo contra si mesmos e não se deram conta de que foi dada a largada no inconsciente. As festas tão inofensivas de hoje são uma espécie de cronômetro para a saúde espiritual e até vital. Não há medalhas nem troféus, existe apenas um universo de ilusões com uma torcida desnorteada e aplausos irrelevantes ...
 ... Que comecem os jogos!
Os indicados: a seleção começa nas redes sociais. O sorriso de um milhão de dólares é o passaporte de entrada para os grandes torneios. É claro que ninguém tem esse sorriso e muito menos esse dinheiro, ainda mais com o câmbio lá nas alturas. Mas não custa nada tentar a popularidade através do número de seguidores, criar uma rede de contatos constituindo grupos em que uns doam atenção aos outros através de likes porque, para a grande maioria, fazer-se amigo nos “momentos reais” – é um pé no saco. Depois que o indivíduo se sente o vox populi do meio (a voz do povo), com centenas de milhares de baba ovos, ele já pode ser considerado um competidor em potencial para representar o seu distrito – ou a sua turma.
A largada: você está finalmente num desses locais superlotados de gente interessante (Zzzz), pode ser uma ilha paradisíaca, um resort no Nordeste, um galpão num lugar inóspito e até um inferninho com ar condicionado, que o esquema será sempre o mesmo: uma hora de caras e bocas se fazendo de difícil e posando de gata garota (virgem) pronta para casar. Mas o poder opressivo do entretenimento lhes obriga a usar uma arma mais potente, pois somente assim o competidor terá coragem para seguir adiante e entrar de cabeça nesse ringue. É nesse instante que o capital, ou a Capital lhe proporciona todo o tipo de artifício para fugir da realidade. Sede por sexo e drogas são impulsos difíceis de conter. Boa sorte!
O combate: a temperatura começa a subir e o preço de encontrar um grande amor em tempos de guerra pode custar a própria integridade, porque esse amor não é pelo próximo, mas sim pela própria imagem; um narcisismo escancarado que deixa a pessoa como água de salsicha: rala e sem gosto. As inimigas se reconhecem pelo cheiro, se gladiam pelas fofocas disseminadas através dos seus grupinhos, pelo recalque quase que involuntário estampado em suas faces. E para derrubá-las é muito fácil: basta que você esteja mais sarado. Para tentar acompanhar essa luta injusta, veem-se pessoas de 48 tentando mudar o corpo para acompanhar os de 18, e os mais novos vendendo até a alma para ter o conforto dos mais velhos. Uns guerreando com os outros para manter a autoestima intacta, todos presos à uma areia movediça com lama até o pescoço. Mais: nessa terra de ninguém a voracidade carnal faz com que todos se devorem – protegidos, ou não. Salve-se quem puder.   
O vencedor: a última etapa do combate é para os “mais fortes”. Quando o tico e teco param de funcionar, basta um tico do teko para dar um restart no jogo e deixar a partida ainda mais eletrizante. E é no ápice do torneio que os competidores entram no piloto automático, ou começam a dar defeito de fabricação. O mundo é tão indiferente com algumas vitórias quanto com as perdas e, “Não se pode proteger ninguém numa arena”. O lendário, bombástico, cabalístico (e até extinto) competidor, deixa o jogo sem forças, ou de olhos bem fechados. O legado que fica é um ti-ti-ti insignificante, uma coleção de fotos incrivelmente tratadas com sorrisos falsos e improvisados, uma abstinência por algum estimulante pesado, uma infinidade de DST’s que se contraem por tabela, ou a terrível surpresa de um hemograma que resolve dar PT (perda total). 
Transitando entre o Hell e o Heaven, oscilando entre a guerra e a paz, as pessoas se matam por ideologias bestas, se enterram por estilos de vida fúteis e ficam órfãs de sentimentos, mas ideais não sentem dor, não sangram e nem choram de saudades. Apesar da ingenuidade estar acima do bem e do mal, vale considerar que ninguém é vítima desse sistema. Sempre haverá pão e circo e, ainda que evitemos carboidratos, estaremos alocados numa tenda sendo feitos de palhaço pois - os torneios são cíclicos - o showbizz não para e a batalha... essa sim é individual.

Bruno de Abreu Rangel