"Homens solteiros e solitários, estão se vendo sem muitas escolhas."
Existe uma
lista de pequenas coisas que nos tiram do sério: abraço demorado de uma pessoa
que a gente nem conhece; um indivíduo que fala com mesóclise (Beijar-te-ei dos
pés à cabeça); conversas de elevador “Que tempinho, será que amanhã faz sol?”;
e, por último, a hipocrisia do “transo uma noite inteira sem precisar de Viagra”. Preguiça desse povo...
Mas também
não é pra menos, ninguém em sã consciência vai assumir em praça pública que é
uma “Maria mole” na cama, mesmo porque depois que uma imagem é manchada não há Vanish que remova, mas daí querer bancar
o gostosão que marca presença por oito horas non-stop é forçar a barra demais, vamos combinar. Conversa pra boi
dormir.
A questão é
que a nossa geração está vivenciando uma escravidão psicológica. Estamos sendo
controlados pela ansiedade, pela pressão de sermos os melhores em tudo, pelo
sexo performático dos vídeos pornôs, pela impaciência de esperar as
preliminares. Ficamos de olhos vendados nos esquivando do óbvio, cada um tem o
tempo certo pra ficar de barraca armada. Mas hoje em dia, tudo que toma tempo:
duas azulzinhas, por favor.
Na maioria
das vezes, o “vamos ver” é a assinatura do contrato de um relacionamento. É a
partir da surra de cama, mais conhecida como química, que um casal decide se
está ou não apaixonado. Amor já é outros quinhentos, sabemos que pra amar tanto
faz se o cara está a todo vapor, ou, se ele não compareceu num dia em que
trabalhou feito louco.
Porém, um
casal de jovens britânicos andou matando essa aula. A garota ao descobrir que
seu namorado de 24 anos tomava a pílula do milagre, terminou o relacionamento abruptamente
com direito a devolução de presentes e tudo mais. Seria por orgulho próprio
ferido? Pelo receio de que o rapaz nunca sentira atração por ela sem ter um
empurrãozinho da indústria farmacêutica? Seja qual for o motivo, o garoto se
sentiu desonrado e tirou a própria vida. Acontecimentos como esse nos faz
repensar sobre a fragilidade humana. “Vivemos sob o nosso ponto de vista, e com
ele ascendemos ou fracassamos”, já dizia Lya
Luft.
Quando um pai
diz ao seu filho “Honra o que você tem entre as pernas”, ele está criando um
monstro e o alimentando de sentimentos vazios, resumindo toda a vida de um ser
no seu órgão reprodutor. Fazendo-o confundir sexo com sexualidade, machismo com
falta de amor.
Desde que os
quinze viraram o novo vinte, todos são dotados nos aplicativos de
relacionamentos. Nas redes sociais, o que não falta é gente esbanjando
virilidade a todo vapor, exibindo corpos espetaculares dignos de cair o queixo,
tentando mostrar o melhor de si como um pavão que desfila com sua cauda na
expectativa de fisgar o maior número de pretendentes. Isso é cavar a própria
cova.
Depois de
muita fantasia e encenação, a expectativa de quem se deita com a gente já está
lá nas alturas. E tenta você brochar pra ver o que acontece. É muita pressão. Por
esse motivo, com o receio de fracassar num mundo onde não há espaço para
perdedores, a garotada de vinte e tantos anos tem apelado para o Viagra,
ingerindo a força de um “Super Homem” compactada num comprimido acreditando que
a baixa autoestima sairá na urina.
´Foi bom pra
você?
Uau, você é
uma loucura!´
Realmente é
uma loucura das grandes comprometer a própria saúde física e mental, utilizando
substâncias perigosas de forma recreativa, sem ter o mínimo conhecimento dos
seus efeitos colaterais. Sem querer bancar o estraga prazeres, ou, o chatonildo
que fica recitando a bula num pedestal, o uso inadequado pode causar problemas
do coração, visão, levar à perda da audição e até para uma caixa onde as
pessoas costumam deixar flores quando a gente para de respirar. Isso sem dizer
que o vício pelos comprimidinhos nos farão ter a sensação de que o sexo natural
é entediante e que somente o vigor artificial será capaz de nos trazer a melhor
das ereções.
Existe o
outro lado da moeda. As pessoas estão se entupindo de drogas de todos os tipos
pra fugir da realidade, e então ficam na fissura de terem um sexo frenético que
as mantenham ocupadas por um bom tempo. Afinal, uma viagem ao mundo da fantasia
tem que valer a pena, seja lá qual for o risco. Pra dar conta desse frenesi
todo é preciso marcar presença na cama, não é mesmo? No entanto, todo cuidado é
pouco. Se você é do tipo que faz uso de outras substâncias que não cabe a mim
julgar, tomar um “inofensivo” Viagra pode ser a sua sentença de morte.
Esse é o
maior erro da nossa cultura. Homens solteiros e solitários estão se vendo sem
muitas escolhas. As pessoas se conhecem na night,
chapadas de entorpecentes, deslumbradas com o paraíso artificial, bebem poucas
e boas, tacam um Viagra goela abaixo e partem pro abraço no intuito de
transarem por horas a fio. Quando o efeito passa, ficam desorientadas e
insatisfeitas, sem saber direito como lidar com o mundo real.
Uma pequena
dose de saudosismo não faz mal. Sinto falta da época em que nossas mãos suavam
de nervosismo quando um encontro estava prestes a acontecer e nosso coração
saía pela boca só de imaginar como seria o primeiro beijo. Hoje estão todos
encharcados de suor, com o corpo trêmulo e uma sensação de que o coração vai ter
um piripaque a qualquer momento, não por paixão, ou, amor - mas por taquicardia
mesmo - pelo excesso do Viagra.
·
Quando
o Viagra é citado ele faz referência
a todo medicamento da mesma espécie: Cialis,
Pramil, Levitra, ou qualquer substância destinada à disfunção erétil. A
crônica acima não tem a intenção de julgar nenhum laboratório farmacêutico.
Bruno de Abreu Rangel
6 comentários:
BRAVO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Como sempre nos surpreendendo com assuntos polêmicos que ninguém tem a coragem de escrever sobre.
Uma sugestão, poderia escrever sobre os gays e a religião.
Parabens mais uma vez.
Cristiano Motta
Que texto legal e gostoso de ler. Adorei!
Tai uma crônica nota mil. Muito legal o seu estilo e a forma como conduz o assunto. Escritores têm aos montes, mas poucos são Rrealmentes bons. Continue nos presenteando com seus textos.
PÁRA TUDOOOOOOOOOOOOOOOOO. AMEI.
Uma vez saí com um cara que começou a passar mal na hora H e teve que assumir que tinha tomado o viagra. Situação constrangedora. Não pelo fato de ele ter usado o viagra, mas pelo medo de que algo ruim acontecesse e eu não saber o que fazer em casos de emergência como esse.
Uma excelente matéria conteúdo e palavra mágicas. Parabéns!
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