Quem achou
que esse texto fosse tirar o sarro dos que não fazem parte do mundinho das
beldades - perdeu a viagem. Não tem, inclusive, nenhuma relação com o livro A vida sexual da mulher feia de Cláudia
Tajes, que por sinal, é uma fonte de humor com gargalhadas garantidas.
A bicha feia
representada aqui é aquela criatura que tem atitudes horrorosas quando está no
ápice do cio e que deixa escapar os seus sentimentos mais toscos. Em tempo,
nunca é demais lembrar que a beleza é um estado de espírito (desculpem, mas é
verdade). Conheço muitos feios lindos e muitos bonitos que são um belzebu : tudo
está associado ao contexto que a gente se apresenta. É uma questão de porte,
sensualidade, ser original, autoconfiante, ter pegada forte... Esqueci alguma
coisa?
Água milagrosa: a pessoa é tão
religiosa que mesmo na pista de dança não desgruda da garrafa d’água e até leva
um terço... Um terço da boate pro banheiro – pra rezar. É você dar uns goles
dessa maravilha líquida para entrar em ebulição e mandar o critério pra
Pindamonhangaba. Nem Santo Antônio, o casamenteiro, faz tanto milagre assim.
Quando Nossa Senhora da Colocação entra em cena não tem pra ninguém, tudo que é
feio fica bonito como num passe de mágicas. Depois que a boa sensação passa, a
atração vira repulsa e o circo está armado: todo mundo se odeia, ou finge que
nunca se viu. E não há Quarta Feira de cinzas que resolva tanto arrependimento.
Meio mundo se pagando de santo. #estamosdeolho.
A cilada do Instagram: a pessoa já está
emocionalmente sensível procurando por uma companhia, ou uma rapidinha que seja,
e encasqueta de inventar um estilo de vida “pra lá de ousado”, além de
empanturrar a foto de filtro pra se parecer com algo que não é? Gente viciada
em adrenalina, só pode. Depois a pessoa toma um baita NÃO estratosférico e tem
que se esconder num buraco do tamanho da camada de Ozônio. Às vezes menos é
mais e popularidade não tem nada a ver com beleza.
Mocréia fofoqueira: ir para a cama com
alguém que tem 728 amigos em comum é o mesmo que sair com os 728. Acredite,
essa interseção é uma certeza matemática. Nesse meio o que mais tem é gente
linguaruda e despeitada querendo contar vantagem. Fique ligado. Algumas
condutas realmente nos dão mais canseira que o pente da Maria Bethânia.
A foto eterna: se o indivíduo está enfurnado
num aplicativo de relacionamento e pretende encontrar-se com alguém nos
próximos 3 dias qual o sentido de enviar fotos de 3 anos atrás? Precisamos
refazer essas contas. A gente nunca sabe quem está do outro lado. Vai correr o
risco de ser enxotado, ou levar um choque de realidade? ‘Você não é o cara da
foto!’ Se no Carnaval você estava mais sarado do que na Páscoa, OK. Então vamos
fazer uma foto de Páscoa? Ninguém merece viajar no túnel do tempo à força. A grande
sacada é confiar no próprio taco e jogar com as armas que você tem agora. Nada
é eterno, o que dirá uma foto.
Os psicopatas dos Apps: já pincelei
sobre esse assunto em O vilão do Grindr, mas não custa
nada fazer a linha do “eu avisei”. Alguém poderia explicar por que cargas
d’agua um sujeito cisma em criar um perfil falso usando fotos de terceiros só
pra pegar alguém na boca da botija? E a troco de quê? Que diferença isso fará
em suas vidas? A insanidade mental anda tão em alta que esses santos do pau oco
subiram num pedestal e ficaram incapazes de olhar o próprio rabo. O mais
intrigante é o fato de eles se sentirem aliviados quando descobrem um “podre”
de alguém porque, só assim, suas vidas mixurucas se tornam aparentemente mais
atrativas. Para que tá feio.
Pelo que se
vê, não é preciso muito esforço para tornar-se num tribufu sentimental. Mas quem
que ir malhar a mente, ou fazer uma dieta rica em caráter e empatia? Ninguém
quer. Enquanto isso, estamos lotando os salões de beleza pra disfarçar toda a
feiura que existe dentro de nós. E talvez, por esse motivo a velhice amedronta:
é o receio de não sobrar nada que valha a pena.
Bruno de Abreu Rangel
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