Todo mundo
tem uma história triste pra contar: a separação dos pais, a perda de uma pessoa
muito próxima, a falta de recursos financeiros que lhes custou dias assombrosos,
o drama de um relacionamento que teve um final trágico bem do estilo novela
mexicana, uma demonstração de afeto que passou uma eternidade esperando... E nunca
aconteceu. Fazendo um cálculo emocional, o resultado de tudo isso gera medo,
insegurança e carência – o mal do século. Mas nada disso nos dá o direito de
sermos ruins e revoltados com o mundo, isso além de burrice é acionar uma bomba
relógio. E adivinha quem será o maior prejudicado?
Antes de
começar, gostaria de pedir um mini flashback.
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Ele, onze
anos de idade.
Eu, oito.
Cenário - A
obra de um edifício com um buraco de alguns metros.
__ Você é meu amigo?
__ Sim, sou.
__ Então prove. Pule daqui.
E lá fui eu,
na primeira tentativa de ser aceito, amado e percebido. O final todos já sabem:
um joelho ralado, uma cara rachada e alguns dias de atestado médico. Nunca mais
soube do paradeiro daquele suposto “amigo”. É quando a gente coloca amor, dor e
sofrimento no mesmo patamar, tipo um combo carente mega master.
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Mas não foi
só na infância que rachei a minha cara. Estando hoje num relacionamento mais estável,
repensei outros que vivi no passado e percebi que, muitas vezes, a carência me
levava a permanecer num namoro que já tinha acabado há tempos. Ficava forçando
a barra, tentando ver coisas onde não existia, interpretando os atos da forma
que me era conveniente, sem conseguir absorver a ideia de que “a casa caiu”. Se
você está passando muito mal e ele quer saber onde está a camisa dele, alguma
coisa não vai bem, pode apostar.
E então, tentava
a torto e a direito reanimar um amor que não era correspondido à altura, ficava
na ansiedade de salvar um romance em nome dos bons momentos sem conseguir
desapegar à história, me levando a ter uma visão distorcida da realidade, vendo
coisas onde não existia, ou, interpretando o comportamento do outro de forma
apaixonada quando na verdade não era nada daquilo, tipo encaixar uma bola num
quadrado, como naqueles testes de Q.I pra criança. A carência faz a gente ver
amor onde não existe.
Mas o retorno
de Saturno, que vem com o amadurecimento, me fez ver o mundo a olhos nus. Olhando
pra trás e fazendo um retrospecto, vejo que a carência havia criado uma bolha
na minha mente e dentro dessa bolha construí um mundo fictício de tudo que eu
queria (Fantástico mundo de Bob), e só procurava alguém que se encaixasse na
parte a ser preenchida.
Agora, consigo
compreender com mais clareza que, para um relacionamento funcionar, é
necessário que haja um equilíbrio e todos esses sentimentos extremos como ciúme
excessivo e aquela paixão avassaladora nunca vingam, não dá certo mesmo. Puro
fogo de palha. Com a mesma facilidade que você entra na vida de alguém, será
convidado a se retirar.
Amor demais
sufoca, suga a energia e tem tempo de validade. Vez por outra me deparo com
pessoas relatando as suas frustrações e vejo que elas estão amordaçadas por uma
fantasia no estilo Caverna do Dragão,
sempre sendo impedidas de saírem. É sede de amor, fome de atenção, medo de
enfrentar o nada, a solidão; desespero por um cuidado oriundo de pais
inconstantes e inseguros, vítimas de superproteção na infância, de resquícios
de um relacionamento que deixou um trauma. E então é como se elas juntassem
todo esse prejuízo, colocassem os juros atualizados e jogassem na mesa do atual
parceiro:
__Toma, essa
é a conta que você tem que pagar.
Socorro! A
gente não tem o direito de exigir carinho de ninguém, tampouco viver na posição
de criança mimada esperando que todos nos estendam um tapete vermelho pra passar.
Relacionamento é uma via de mão dupla e é altamente recomendável que cada um
tenha a sua vida. Viver só para a relação é um tiro no pé. É importante ter a
sua vida social, o seu ciclo de amizades, continuar escrevendo a história da
sua existência, e entender que o seu parceiro é um personagem desse lindo conto,
não o livro todo.
É preciso
ficar atento aos sinais para não sair ferido, ficar desencantado com o mundo.
Os aplicativos estão infestados de psicopatas que se alimentam da baixa
autoestima; as baladas estão superlotadas com sarados preocupados em “curtir a
vibe”, as praias abarrotadas de seres vaidosos procurando por olhares desejados
como hienas famintas por atenção. Estão todos vivenciando as causas da falta de
amor. Seja qual for o lugar precisamos aceitar a ideia de que as pessoas
simplesmente têm a opção de NÃO nos quererem por perto, seja pra uma foda
rápida ou, algo mais sério. Não adianta ficar melindrado, espernear, bater a
perna, querer surtar, sair da casinha. Guardemos as nossas energias para
assuntos pertinentes.
Mais
autoconfiança, menos dependência emocional. Sem essa de tolerar maus tratos,
humilhações, se expor em situações que nos trarão prejuízos irreparáveis.
Precisamos acalmar a alma com sentimentos brandos, medianos, maduros, sem a
incessante obsessão por provas de amor, sem a necessidade de ouvir sentimentos
através das palavras, sem o medo latente da perda gritando na cabeça. É melhor trocar paixão por compaixão, simpatia
por empatia, o eu pelo nós. Se você estiver precisando pular num abismo pra
provar o amor, saíra com a cara e o coração rachados- nada mais.
Bruno de Abreu Rangel
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