quarta-feira, 29 de abril de 2015

Fim de namoro.

        

Existe hora certa para terminar um relacionamento?

Qual a possibilidade de sair da vida de alguém sem que ambos se machuquem?


Basta enxergarmos o namoro como uma balança onde exista respeito, equilíbrio, divisão de pesos, de bons e maus momentos... Assim é a vida de duas pessoas que se amam e decidem dividir uma existência. Pode ser que momentaneamente haja um certo desconforto, ora estamos por cima, ora por baixo. O nosso parceiro pode deixar a nossa balança mais leve e num dia qualquer pode ser que ela se torne num peso enorme e exigirá em dobro de nós para que o equilíbrio volte a reinar.

Mas o que acontece se um dos pesos for retirado da balança?

Todos sabemos a resposta. 

Impreterivelmente sair da vida de alguém causa perda, desiquilíbrio, e uma das partes sempre sofre mais.

Não é certo encararmos um fim de namoro como uma guerra onde prevalecem dois pesos – duas medidas. As pessoas passam juntas por um câncer, vivem meses e até anos de intensa angústia, enfrentando o desespero de perder, o medo da morte, sofrem com a dor diária e após vencerem esta dificuldade, terminam um relacionamento “sólido” porque o jarro de plantas da sala quebrou.

Não é correto terminar o que quer que seja, por SMS, e-mail, Facebook, via espacial, cibernética. Vamos deixar essas atitudes para os adolescentes que agem conforme os hormônios. Romper com alguém não é uma tarefa fácil. Não somos evoluídos ao ponto de desistirmos de um namoro quando ele está no ápice. Se assim fosse, o mundo estaria lotado de pessoas bem resolvidas, mas isso não vem ao caso.

A hora certa de terminar não existe, o fim não é previsível. Colocar na balança é uma boa saída sempre: os prós e os contras, as alegrias e as tristezas, o sexo e a traição, o amor e o desafeto, a amizade e a desunião.

A vida a dois deve ser boa para ambas as partes. Pode ser que não gostemos de algo no nosso companheiro, talvez ele seja egoísta demais, desorganizado, arrogante, mas se ele nos acorda com um beijo verdadeiro; leva o café da manhã na cama; demonstra amor através dos olhos e nos faz sentir vivos, que mal tem tentar, um dia após o outro? Um momento ruim deve ser compensado por um momento mágico. Um dia de chuva deve ser trocado por uma tarde de sol. Trocar as pessoas porque elas causam problemas na nossa mente nem sempre é a melhor solução.

Pode acontecer de o namoro ir de mal a pior, o sexo ficar menos intenso, a rotina ficar intragável e nos perdemos em meio à insegurança fazendo com que o brilho dos olhos se apague, definitivamente...  Como vamos lidar com o fim? Com o início de uma amizade. Com cumplicidade. Isso nunca falha. 

O sexo acaba, o tesão desaparece, a vontade de acordar ao lado da pessoa se dissolve. Só a cumplicidade perdura e o amor se transforma. Um ex namorado pode sim se tornar no nosso melhor amigo. Toda a intimidade que dividimos com alguém é uma parte de nós que foi concedida à outra pessoa, e porque perder isso? Por esse motivo, muitas pessoas terminam uma história e se tornam inimigas mortais – simplesmente porque nunca existiu o companheirismo e a gratidão.

Não adianta querer sair por cima, magoar o outro, dizer coisas que o farão se sentir o pior dos seres humanos, porque se a intenção for machucar nossa balança se desequilibra e tudo que nos restará será peso demais - na nossa consciência. Uma vez que atiramos uma pedra em alguém, impreterivelmente, a recebemos de volta, de um jeito ou de outro. Isso se chama ação e reação. As pessoas não são como Maria de Madalena e nem sempre serão solidárias ao receber maus tratos.

Pedras foram feitas para construir um castelo, para abrigar uma história de amor e é difícil pensar que a grande maioria destrói tudo, pedra sobre pedra, porque o orgulho e a falta de respeito falam mais alto.



Bruno de Abreu Rangel
brunorangelbrazil@hotmail.com

Texto publicado no blog em Setembro de 2010.








terça-feira, 7 de abril de 2015

Alerta Vermelho: a carência faz a gente ver amor onde não existe.



Todo mundo tem uma história triste pra contar: a separação dos pais, a perda de uma pessoa muito próxima, a falta de recursos financeiros que lhes custou dias assombrosos, o drama de um relacionamento que teve um final trágico bem do estilo novela mexicana, uma demonstração de afeto que passou uma eternidade esperando... E nunca aconteceu. Fazendo um cálculo emocional, o resultado de tudo isso gera medo, insegurança e carência – o mal do século. Mas nada disso nos dá o direito de sermos ruins e revoltados com o mundo, isso além de burrice é acionar uma bomba relógio. E adivinha quem será o maior prejudicado?

Antes de começar, gostaria de pedir um mini flashback.


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Ele, onze anos de idade.
Eu, oito.
Cenário - A obra de um edifício com um buraco de alguns metros.
 __ Você é meu amigo?
 __ Sim, sou.
 __ Então prove. Pule daqui.

E lá fui eu, na primeira tentativa de ser aceito, amado e percebido. O final todos já sabem: um joelho ralado, uma cara rachada e alguns dias de atestado médico. Nunca mais soube do paradeiro daquele suposto “amigo”. É quando a gente coloca amor, dor e sofrimento no mesmo patamar, tipo um combo carente mega master.

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Mas não foi só na infância que rachei a minha cara. Estando hoje num relacionamento mais estável, repensei outros que vivi no passado e percebi que, muitas vezes, a carência me levava a permanecer num namoro que já tinha acabado há tempos. Ficava forçando a barra, tentando ver coisas onde não existia, interpretando os atos da forma que me era conveniente, sem conseguir absorver a ideia de que “a casa caiu”. Se você está passando muito mal e ele quer saber onde está a camisa dele, alguma coisa não vai bem, pode apostar.

E então, tentava a torto e a direito reanimar um amor que não era correspondido à altura, ficava na ansiedade de salvar um romance em nome dos bons momentos sem conseguir desapegar à história, me levando a ter uma visão distorcida da realidade, vendo coisas onde não existia, ou, interpretando o comportamento do outro de forma apaixonada quando na verdade não era nada daquilo, tipo encaixar uma bola num quadrado, como naqueles testes de Q.I pra criança. A carência faz a gente ver amor onde não existe.

Mas o retorno de Saturno, que vem com o amadurecimento, me fez ver o mundo a olhos nus. Olhando pra trás e fazendo um retrospecto, vejo que a carência havia criado uma bolha na minha mente e dentro dessa bolha construí um mundo fictício de tudo que eu queria (Fantástico mundo de Bob), e só procurava alguém que se encaixasse na parte a ser preenchida.

Agora, consigo compreender com mais clareza que, para um relacionamento funcionar, é necessário que haja um equilíbrio e todos esses sentimentos extremos como ciúme excessivo e aquela paixão avassaladora nunca vingam, não dá certo mesmo. Puro fogo de palha. Com a mesma facilidade que você entra na vida de alguém, será convidado a se retirar.

Amor demais sufoca, suga a energia e tem tempo de validade. Vez por outra me deparo com pessoas relatando as suas frustrações e vejo que elas estão amordaçadas por uma fantasia no estilo Caverna do Dragão, sempre sendo impedidas de saírem. É sede de amor, fome de atenção, medo de enfrentar o nada, a solidão; desespero por um cuidado oriundo de pais inconstantes e inseguros, vítimas de superproteção na infância, de resquícios de um relacionamento que deixou um trauma. E então é como se elas juntassem todo esse prejuízo, colocassem os juros atualizados e jogassem na mesa do atual parceiro:

__Toma, essa é a conta que você tem que pagar.

Socorro! A gente não tem o direito de exigir carinho de ninguém, tampouco viver na posição de criança mimada esperando que todos nos estendam um tapete vermelho pra passar. Relacionamento é uma via de mão dupla e é altamente recomendável que cada um tenha a sua vida. Viver só para a relação é um tiro no pé. É importante ter a sua vida social, o seu ciclo de amizades, continuar escrevendo a história da sua existência, e entender que o seu parceiro é um personagem desse lindo conto, não o livro todo.

É preciso ficar atento aos sinais para não sair ferido, ficar desencantado com o mundo. Os aplicativos estão infestados de psicopatas que se alimentam da baixa autoestima; as baladas estão superlotadas com sarados preocupados em “curtir a vibe”, as praias abarrotadas de seres vaidosos procurando por olhares desejados como hienas famintas por atenção. Estão todos vivenciando as causas da falta de amor. Seja qual for o lugar precisamos aceitar a ideia de que as pessoas simplesmente têm a opção de NÃO nos quererem por perto, seja pra uma foda rápida ou, algo mais sério. Não adianta ficar melindrado, espernear, bater a perna, querer surtar, sair da casinha. Guardemos as nossas energias para assuntos pertinentes.

Mais autoconfiança, menos dependência emocional. Sem essa de tolerar maus tratos, humilhações, se expor em situações que nos trarão prejuízos irreparáveis. Precisamos acalmar a alma com sentimentos brandos, medianos, maduros, sem a incessante obsessão por provas de amor, sem a necessidade de ouvir sentimentos através das palavras, sem o medo latente da perda gritando na cabeça.  É melhor trocar paixão por compaixão, simpatia por empatia, o eu pelo nós. Se você estiver precisando pular num abismo pra provar o amor, saíra com a cara e o coração rachados- nada mais.


Bruno de Abreu Rangel



quarta-feira, 1 de abril de 2015

Vingança.com

Quando as nossas intimidades vazam na Internet.




O que passa na cabeça de uma pessoa que decide expor alguém na Rede?

Se você está aí sentado com a bunda na cadeira em posição de julgamento, com duas pedras nas mãos, de prontidão pra tacar em quem tem vídeos sexuais expostos na Internet... Vai aqui uma bomba: você pode ser a nova estrela das Redes Sociais.

Deixe-me explicar melhor. Hoje, estamos cercados por televisores, bem posicionados em frente aos sofás, com dispositivos inteligentes capazes de capturar imagens em resoluções incríveis. Há também os notebooks com câmeras de exorbitantes megapixels, os aparelhos digitais disfarçados de peças decorativas que podem estar escondidos em qualquer canto. E você, tão bem criado, comedido, que faz a linha “pra casar”, com um puritanismo quase convincente, pode simplesmente ser vítima de um psicopata que se alimenta de imagens, transformando corpos em objetos.

Somos todos responsáveis, mas também inocentes.

O mercado pornográfico vem descendo ladeira abaixo. Foi-se o tempo em que atores e atrizes faziam fortunas mostrando os peitinhos pras câmeras. Hoje qualquer um sai do anonimato e vem parar no nosso Whatsapp antes do sol nascer. E, quando estamos sentados à mesa tomando o nosso café da manhã, ficamos ali sem saber se mordemos o pão, ou a língua. Indiscutivelmente, os vídeos amadores despertam os nossos desejos mais ocultos. Mas o que nos leva a fazer um “compartilhaço” com a dignidade alheia? Seria uma frustração enrustida, ou uma maldade gratuita?

Uma vez em comum acordo, acontece assim: o casal “Vamos nessa” define o cenário, encontra um bom ângulo, ajusta a iluminação, e...

... Um, dois, três... Gravando. (Tudo certo pra dar merda!).

Ninguém pode nos assegurar que algumas horas e alguns vídeos depois, nossa intimidade estará intacta, escondida num túmulo superprotegido como aos dos faraós egípcios. Ainda que o nosso parceiro tenha bom senso e seja respeitoso, existe um enigma chamado “nuvem”, que apesar de manter todos os nossos dados num servidor em algum lugar, nos deixa vulneráveis sem entender direito como tudo funciona. Quem ainda não assistiu ao filme Sex Tape com Cameron Diaz, está em tempo. Uma comédia fenomenal, que, apesar de nos tirar gargalhadas, nos faz pensar duas vezes antes de apertar o REC para registrar um vídeo desse naipe.

Não há dúvidas de que o jornal de hoje embrulha o pão de amanhã, mas a notícia divulgada nele permanece como uma cicatriz naquele que foi vítima de uma difamação. Eu poderia passar uma tarde citando exemplos que se empilham, de jovens que tiraram a própria vida por terem suas intimidades expostas, ou que sobreviveram aos trancos e barrancos, recolhendo os seus restos e destroços, se escondendo do mundo - vítimas de uma exposição inconsequente. Os assassinos do século XXI trocaram as armas de fogo por um click: Video uploaded. A merda é jogada no ventilador e doa a quem doer.

 Assim aconteceu com um garoto no interior do país. Rumores dizem que a namorada teria encontrado um vídeo no seu próprio celular em que ele aparecia transando com outro homem. Ela, certamente, perdeu o chão já que se sentiu duplamente traída. Poderia ter esperado a poeira baixar e conversar com o rapaz; colocar as cartas na mesa; dar-lhe um tapa bem doído na cara; fazer um barraco no trabalho dele; quebrar toda a casa; terminar o namoro... Mas ela desprezou todas as opções “convencionais” e preferiu arruiná-lo, de uma vez por todas, apertando o gatilho de uma arma com uma munição virtual: jogou o vídeo na Rede.

Num mundo em que quase ninguém usa o senso de justiça, um material com esse conteúdo é um prato cheio para os covardes que se escondem atrás de um número de IP. A Internet está fervilhada de pessoas doentes, que se alimentam do mal, da fragilidade humana, que ficam de plantão na frente da tela esperando um deslize para colocarem suas frustrações em prática, tentando julgar o próximo para se sentirem maiores. Fazem isso porque existe a turma da “Maria vai com as outras”: existe plateia, gente que compartilha (versão moderna do que costumávamos chamar de fofoca).

Estamos à mercê desses trogloditas desalmados.

Isso me faz pensar de imediato nos seguidores de Hitler. Porque os nazistas aceitaram a ordem de dizimar os judeus sem titubear? Em nome da Pátria, por honra ao militarismo, pelo exercício da cidadania ariana? Não! Porque era conveniente, porque alguém teria dado o aval para que a maldade corresse em suas veias sem que fossem julgados. E se o Führer ordenasse que cada um deles destruísse a sua própria família?

Cri cri cri (silêncio na sala).

Tirando meia dúzia de psicopatas, certamente não obedeceriam à sua ordem. Ninguém é tão maluco ao ponto de rasgar uma nota de 100 ou matar a própria mãe. Mas, a família, a reputação, a intimidade dos outros... “Bomba neles!”.

Se compartilhamos a libido alheia, estamos sujando as nossas mãos da mesma forma que os nazistas, sendo coniventes com o mal,  aproveitando o livre arbítrio para praticar  atos inescrupulosos, agindo com uma pontinha de arrogância, na desculpa de estarmos defendendo essa palhaçada conservadora de “moral e bons costumes”.

Somos hipócritas, mentirosos, preconceituosos e relutamos em aceitar que essa é a nossa natureza. Talvez, por esse motivo, vídeos de pessoas transando em banheiros públicos nos despertam tanto interesse. (Perdemos o nosso precioso tempo julgando os que fazem o que gostaríamos de ter feito – mas não temos coragem o suficiente). Poucos tem uma vida sexual satisfatória e isso explica muita coisa.

O mundo seria um lugar melhor se lidássemos com os nossos fracassos sem que isso colocasse em risco a integridade do nosso vizinho. É preciso perceber o momento de tirar o dedo do teclado. Estamos todos conectados e seja com, ou sem Wi-Fi, o princípio de ação e reação é o mesmo. Bobinho aquele que age na mediocridade acreditando que todo mal que distribui, ainda que virtualmente, será em vão.

Pessoamá.com, sorria, você está sendo filmada.


Bruno de Abreu Rangel