O mundo está acabando. E agora?
Nessa última semana presenciei
uma cena marcante durante minhas caminhadas pela orla de Copacabana. Uma
garotinha, beirando os seus cinco anos de idade, com um jeitinho todo pueril,
estava acompanhada junto de sua mãe indo em direção ao pai, que supostamente
estaria chegando de viagem ou de algum lugar cuja expressão da face implicava
saudades – dá pra ver pelo rosto das pessoas a falta que sentem um do outro
quando se reencontram. A linda menina, de olhos amendoados e cabelos tão
perfeitos, correu para abraçar o pai e a mãe a impediu, relutante. Um choro
seguido de gritaria foi a reação da filha que despertou a atenção de todos ao
redor. Quem passava tinha a ilusória certeza de que ela teria tomado uma surra
da mãe. E parei para observar o porquê daquela cena. O pai foi se aproximando
com lágrimas nos olhos e a esposa disse com a voz ofegante:
__ O quadro dela teve uma leve
queda. Mas vamos vencer isso juntos, vai passar.
Tão logo percebi que a mãe
segurava as mãos da própria filha com luvas cirúrgicas e por todo o corpo da
criança era perceptível hematomas. Não tive a audácia de mexer nas feridas que
habitava o coração daqueles pais e fiquei sem saber qual o motivo das reais
feridas da menininha, simplesmente fiquei com a triste imagem na cabeça dela
implorando ao pai por um abraço e o mesmo não podendo retribuir, entre lágrimas
que secam, mas que arrancam uma parte de nós.
Com o coração partido, me recordei
das vítimas do Tsunami no Japão, da devastação da região serrana, das pessoas
que ainda morrem de fome enquanto o foco do mundo está nas tragédias naturais,
de um amigo que terminou o namoro e vive à base de remédios, de um colega que
passou o carnaval indignado porque descobriu uma suposta traição, e de uma
madame que certa vez comentou que ficou sem dormir por dias a fio porque a
filha foi para Paris e não deu um telefona sequer.
Descobri então, que quando
temos um problema, por menor que seja ele é o maior do mundo. Cada um carrega
sua cruz e todos nós estamos fadados ao acerto de contas, que será uma provação
ou um resgate. E não adianta chorar, bater perna e tentar colocar a culpa nos
outros. O que vem pra gente, impreterivelmente, não se pode colocar na porta de
outrem.
Quantas crianças no Japão estão
abandonadas à procura dos pais que não puderam dar o último abraço e não se
sabe se essa possibilidade virá a se concretizar, assim como a garotinha de
Copacabana, que não estava num Tsunami, num terremoto, numa enchente, mas que
estava tão abalada quanto todos os outros e incapaz de ser acolhida nos braços
de quem a amava, e que ainda a ama e sempre amará, com todas as forças.
Todo mundo sabe da própria
ansiedade, da angústia e das preocupações que leva para o travesseiro. O que
deveríamos aprender, definitivamente, é porque temos medo ou receio de
expressar nossos sentimentos; porque nos importamos tanto com coisas
insignificantes gastando energias que poderiam ser poupadas para uma real
tragédia, seja ela um terremoto, ou um câncer – ambos com o mesmo nível de
abalo.
A fé é incontestável e não
deve, em hipótese alguma, ser motivo de discussão por razões religiosas.
Crédulos ou incrédulos, cristãos ou ateus, a verdade está sob nossos olhos e a
vulnerabilidade humana que antes estava representada nos filmes americanos bateu
à nossa porta e nos trouxe muita tragédia humana. É chocante sim ver uma das
maiores potências do mundo ser devastada pela natureza que todos pensavam ser
tão inofensiva. É chocante também ter a impressão de que o mundo está se
acabando e ninguém está tirando uma lição de tudo que está acontecendo.
O mundo não pára para chorar as
nossas lágrimas, mas nos tem feito chorar pelas lágrimas dos outros, nos tem
feito ser menos individualistas e nos mostrado que a vida não gira em torno do
nosso umbigo.
Ainda dá tempo de consertar
todos os erros, de perdoar os imperdoáveis, de se livrar dos próprios medos, de
amar, porque no fim – o que conta é quem você terá para dar um abraço. E se
continuramos perdendo tempo, pode ser que seja tarde demais, seja no Japão ou nas
calçadas de Copacabana.
Bruno de Abreu Rangel
Esse artigo foi cedido para publicação no Jornal "PÔR DO SOL", informativo voltado para auto ajuda e esoterismo - Junho/2011.
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