sábado, 10 de outubro de 2009

Assumindo a paixão




Assumindo a paixão


Paixão... Alguns anos, uma quantidade razoável de meses, uma fração de dias ou, quem sabe, horas. Ninguém tem o poder de cronometrar o tempo que dura esse sentimento nem mesmo como fazer com que essa explosão de sensações se prolongue por uma eternidade pueril. Assumir a paixão pode ser tão difícil quanto sair do armário sim.



A vida é simples, então as pessoas deveriam ser simples, embora algumas se acham simploriamente importantes. Ser feliz sem motivo é uma atitude talentosa e a felicidade nos faz enxergar a vida a olhos nus, da forma mais natural e verdadeira. Não precisa ser um heterossexual convicto para sentir uma vontade intensa de amar nas extremidades, ultrapassando os limites, explorando as margens.



Tudo bem que no mundo gay vivemos com mais intensidade, com certa vulnerabilidade de idéias e ideais. A cada dia estamos nos transformando, amadurecendo opiniões, enxergando novos pontos de vista e tirando conclusões inesperadas. Às vezes terminamos por trocar de parceiros com uma facilidade absurda. Num dia qualquer acordamos com o tempo nublado e decidimos mudar de casa com a equivocada idéia de que o sol possa se abrir em outra janela, e isso nem sempre acontece. As paixões sempre vêm para as pessoas, embora, às vezes, elas possam ser únicas, daí o motivo de tentar fazer com que ela prospere. É preciso estar preparado para viver o desconhecido, desbravar essa loucura que corre pelas nossas veias bombeando ou afrouxando o nosso coração.



Desde quando os gays perderam esse sentimento? O dia em que a humanidade reprimiu o amor homossexual, ela, automaticamente, seqüestrou o direito de podermos viver uma existência apaixonada. Mas aceitar isso é ignorância.



Certa vez, caminhando pela lagoa Rodrigo de Freitas, um dos mais belos locais do Rio de Janeiro, vi um casal de adolescentes sentado num píer contemplando o pôr do sol e deixando que aquele momento esclarecesse o que sentiam um pelo outro. Porque é muito fácil sorrir quando estamos diante de alguém que nos faz sentir vivos. Porém, quantos de nós teríamos a coragem de nos assumir e enfrentar a sociedade em nome da paixão. Seríamos capazes de batalhar pelo que sentimos?



O fato de sermos o Romeo e não termos uma Julieta não implica que devemos desistir de viver um conto de fadas com outro Romeo, com um príncipe encantado ou por um sapo super sem graça, mas que nos faz pular de alegria. A vida é uma só e é tão curta como um produto que tem prazo de validade.



Quem de nós nunca abriu mão de uma história de amor e viu a oportunidade ir embora pelo simples receio de tentar? Crescemos acostumados com o medo, com o temor de nos assumirmos gays e terminamos por lidar com os nossos sentimentos da mesma forma, sem muitos riscos e muitas dúvidas. Que atire a primeira pedra aquele que jamais deixou alguém partir pela incerteza de viver o sim. Optamos em acreditar que o amor da nossa vida sempre vai estar na próxima esquina, na próxima poltrona num avião, numa fila do banco, nos esbarrando em meio a uma encruzilhada... E deixamos as pessoas passarem por nós, renunciamos alguns momentos mágicos porque pensamos que levar tudo adiante pode custar o nosso entusiasmo e nos trazer uma ilusão difícil de conviver.



As paixões vão e vêm como as ondas do mar, e enquanto essas águas ficam cumprindo o seu papel, o mais inteligente a ser feito é nos molharmos por completo sem darmos atenção às pessoas que estão na areia, sem nos limitarmos aos compromissos que a nossa sociedade exige e sem pensar em cobranças que manipulam a nossa forma de amar...
Amar e se apaixonar sempre, e um dia ter, ao menos, histórias para contar, porque disso é feito a vida: de paixão.





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