quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O mundo está acabando. E agora?


Nessa última semana presenciei uma cena marcante durante minhas caminhadas pela orla de Copacabana. Uma garotinha, beirando os seus cinco anos de idade, com um jeitinho todo pueril, estava acompanhada junto de sua mãe indo em direção ao pai, que supostamente estaria chegando de viagem ou de algum lugar cuja expressão da face implicava saudades – dá pra ver pelo rosto das pessoas a falta que sentem um do outro quando se reencontram. A linda menina, de olhos amendoados e cabelos tão perfeitos, correu para abraçar o pai e a mãe a impediu, relutante. Um choro seguido de gritaria foi a reação da filha que despertou a atenção de todos ao redor. Quem passava tinha a ilusória certeza de que ela teria tomado uma surra da mãe. E parei para observar o porquê daquela cena. O pai foi se aproximando com lágrimas nos olhos e a esposa disse com a voz ofegante:

__ O quadro dela teve uma leve queda. Mas vamos vencer isso juntos, vai passar.

Tão logo percebi que a mãe segurava as mãos da própria filha com luvas cirúrgicas e por todo o corpo da criança era perceptível hematomas. Não tive a audácia de mexer nas feridas que habitava o coração daqueles pais e fiquei sem saber qual o motivo das reais feridas da menininha, simplesmente fiquei com a triste imagem na cabeça dela implorando ao pai por um abraço e o mesmo não podendo retribuir, entre lágrimas que secam, mas que arrancam uma parte de nós.

Com o coração partido, me recordei das vítimas do Tsunami no Japão, da devastação da região serrana, das pessoas que ainda morrem de fome enquanto o foco do mundo está nas tragédias naturais, de um amigo que terminou o namoro e vive à base de remédios, de um colega que passou o carnaval indignado porque descobriu uma suposta traição, e de uma madame que certa vez comentou que ficou sem dormir por dias a fio porque a filha foi para Paris e não deu um telefona sequer.

Descobri então, que quando temos um problema, por menor que seja ele é o maior do mundo. Cada um carrega sua cruz e todos nós estamos fadados ao acerto de contas, que será uma provação ou um resgate. E não adianta chorar, bater perna e tentar colocar a culpa nos outros. O que vem pra gente, impreterivelmente, não se pode colocar na porta de outrem.

Quantas crianças no Japão estão abandonadas à procura dos pais que não puderam dar o último abraço e não se sabe se essa possibilidade virá a se concretizar, assim como a garotinha de Copacabana, que não estava num Tsunami, num terremoto, numa enchente, mas que estava tão abalada quanto todos os outros e incapaz de ser acolhida nos braços de quem a amava, e que ainda a ama e sempre amará, com todas as forças.

Todo mundo sabe da própria ansiedade, da angústia e das preocupações que leva para o travesseiro. O que deveríamos aprender, definitivamente, é porque temos medo ou receio de expressar nossos sentimentos; porque nos importamos tanto com coisas insignificantes gastando energias que poderiam ser poupadas para uma real tragédia, seja ela um terremoto, ou um câncer – ambos com o mesmo nível de abalo.

A fé é incontestável e não deve, em hipótese alguma, ser motivo de discussão por razões religiosas. Crédulos ou incrédulos, cristãos ou ateus, a verdade está sob nossos olhos e a vulnerabilidade humana que antes estava representada nos filmes americanos bateu à nossa porta e nos trouxe muita tragédia humana. É chocante sim ver uma das maiores potências do mundo ser devastada pela natureza que todos pensavam ser tão inofensiva. É chocante também ter a impressão de que o mundo está se acabando e ninguém está tirando uma lição de tudo que está acontecendo.

O mundo não pára para chorar as nossas lágrimas, mas nos tem feito chorar pelas lágrimas dos outros, nos tem feito ser menos individualistas e nos mostrado que a vida não gira em torno do nosso umbigo.

Ainda dá tempo de consertar todos os erros, de perdoar os imperdoáveis, de se livrar dos próprios medos, de amar, porque no fim – o que conta é quem você terá para dar um abraço. E se continuramos perdendo tempo, pode ser que seja tarde demais, seja no Japão ou nas calçadas de Copacabana.

Bruno de Abreu Rangel




Esse artigo foi cedido para publicação no Jornal "PÔR DO SOL", informativo voltado para auto ajuda e esoterismo - Junho/2011.

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