Não sei o segredo do sucesso, mas sei o do
fracasso – que é agradar a todos. No território das palavras a gente usa as
armas que pode para fazer as pessoas pensarem, refletirem sobre algo que está escancarado
e que a gente finge não ver. Isso aqui é só o pano de fundo e é bom lembrar que
eu me incluo nele. O que atrasa a humanidade é gente sem senso de humor, gente que
não entende sarcasmo.
Sou dos
tempos do “Parabéns para você”, em que aniversário não era algo tão elaborado: bolo
de glacê, bala de coco com gosto de sabonete, brigadeiro enrolado a mão,
salgadinho de quinta (engraçado como fritura naquela época não matava), um
repertório de músicas horrendo e meia dúzia de esfomeados se cotovelando para
pegar as balas e os pirulitos que caíam quando o balão surpresa era estourado.
Depois um saquinho com lembrancinha... E fim de festa.
Na
adolescência veio o hi-fi. A garotada
fechava o play do prédio, contratava
um serviço de iluminação, caixas de som, e os mais abastados “tiravam onda” com
a fumacinha do gelo seco. Cada convidado levava a sua bebida ou salgadinho. As
músicas eram um pouco mais agradáveis e, apesar do balão surpresa ter
desaparecido, os pirulitos continuavam ali disponíveis – mas só as meninas podiam
apalpar. Depois que todo mundo tinha ficado com todo mundo, o último a sair
apagava a luz.
Tempos
modernos.
As festas de
hoje são uma aventura total, você não sabe se vai morrer, se vai ser traído, ou
se vai conhecer a sua alma gêmea e se casar por dois meses que seja...
Para começar,
logo na entrada, é preciso ter um saco gigante para suportar o tédio das filas
quilométricas que dão voltas e ninguém respeita: estirpe praticamente inglesa.
Quando você
finalmente se aproxima da porta... ‘Ufa, agora vou me divertir’! Isso é o que
você pensa. Vai ter que passar por uma revista digna de FBI, feita por um bando
de seguranças altamente treinados, que vai te colocar de cabeça para baixo,
tocando em lugares que nem você enxerga para tentarem te impedir de entrar com
coisas que lá dentro vende a torto e a direito. Como isso acontece? Sou péssimo
com esses jogos de adivinhação.
Já na pista,
ainda que as pessoas não estejam caracterizadas, se você analisar com um olhar
bem crítico vai conseguir enxergar o Superman,
o Batman, o Robbin, a Cinderela, a Gata borralheira, a Pocahontas e até o Quarteto Fantástico
(aqueles amiguinhos incríveis e inseparáveis). Já podemos vomitar?
Ainda não, a
parte do vômito é mais para o final. Agora é hora de curtir a festa.
A primeira
etapa é procurar algo para beber. Não caia na cilada de pedir drinks exóticos,
Vodka Absolut Citron, champagne Dom Perignon, ninguém bebe isso. E, além de
você se queimar, corre o risco de ser expulso pelos seus amigos “miguxos”. O
esquema agora é a degustação de água, ritual pra lá de curioso. Todos com
abdômen rasgado e trabalhados no H20, inclusive, gostaria de mandar um beijo para
a Nossa Senhora do Stanazolol e fazer um lembrete, juro que é rápido: alguém se
recorda da mamãe aconselhando? ‘Não vá aceitar bebida de estranhos’, pois então
– isso também vale para a água mineral de garrafinha. Uma golada a mais e é
aquele vexame...
E não é para fazerem
pirraça. A notícia ruim é que a bala de coco sumiu, evaporou, escafedeu-se. Se
você é daqueles apegado à infância pueril vai sofrer um bocado, mas em
compensação encontrará uma outra gama de balas artificiais que vão adoçar a sua
vida (sabor nunca te vi, mas te amo; sabor DJ tuc tuc na cabeça e a sabor me
beija que amanhã vou fingir que nem te conheço).
Saquinho de
surpresa já vou antecipando: não tem, porém se usarem a imaginação... quem já
deu uma volta pelos banheiros deve saber, faz-se de tudo, menos xixi. A grande
surpresa da festa é ver gente ficando com o namorado do amigo, amigo ficando
com inimigo, e geral ficando com uma baita de uma deprê no Domingo a tarde.
Pronto, já
podem vomitar.
Os meninos da
juventude eterna estão presos à ilha da fantasia. Hoje fazem 18 anos, 28, 38 e
aos 48 anos estão pagando de adolescentes seguindo o raciocínio de que “se a
Madonna continua quicando com quase 60, eu também posso”. Um dia alguém tem que
crescer, um dia a gente vai precisar abrir mão de todo esse paraíso de
mentirinha para poder enxergar o mundo com cores que hoje - só conseguimos através
da bala.
Bruno de Abreu Rangel