sexta-feira, 15 de abril de 2016

Meninos bombados: os bonitões de mentirinha



Admiro e muito as pessoas que levam a vida com desprendimento, que não se restringem a rótulos, que se olham no espelho e ficam satisfeitas com o que veem mesmo que o reflexo não seja um dos melhores; que sabem a importância de cuidar da saúde do corpo e da mente sem ficar na maluquice de se acampar numa academia de musculação.

Eu e, quase todas as pessoas que conheço, estão sendo consumidas pelo prazer instantâneo, por uma existência com objetivos inconsistentes, passando por cima de valores só para sair bem na foto do Instagram; se apaixonando pelas pessoas que as rejeitam, caindo na armadilha de achar que o mundo lhes deve mais curtidas. Sentimentos vazios e confusos são um prato cheio para uma vida instável, é um contrato que a gente assina com o diabo..., mas as letras são pequenas.

Os nomes são fictícios, e as histórias foram adaptadas para preservar a identidade dos personagens. Qualquer semelhança é mera coincidência.

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A bomba relógio: Juliano ainda tinha espinhas no rosto quando a turma da escola o apelidou de Cocô. Era ridículo como o bullying naquela época chegava a proporções catastróficas. No meio do intervalo, com os corredores lotados, alguém gritava ‘Cocô’ e ele olhava para trás respondendo ao chamado. Já estava conformado com a chacota decorrente do fato de ser moreno, estar acima do peso e ter problemas de acne.

Foi tanta surra de baixa autoestima que um dia ele resolveu dar descarga no passado e tornou-se no mulatão mais sarado e cobiçado da cidade. Como ele chegou lá? Muito anabolizante. Começou com uma dieta daqui, um suplemento dali, depois apresentaram uns produtinhos milagrosos até chegar ao tal veneno “inofensivo” que a garotada toda anda tomando: ‘Vai ficar com o corpo perfeito em 15 dias’. Esse ciclo virou rotina e ele perdeu o controle. No seu inconsciente, nada seria pior do que voltar a ser um Cocô. Mas a m*rda acabou aparecendo, de uma hora para outra, no seu exame de rotina: insuficiência cardíaca. Com uma simples bala e uns “goles d’água” que ingeriu numa dessas festas cheias de gente bacana, seu coração não suportou, e ele faleceu em seguida.

Ciclo sexual: Carlos era um daqueles que passava desapercebido nas ruas, um zero à esquerda nas redes sociais e, de quebra, sentia-se rejeitado por gostar de meninos (cada cabeça, uma sentença). Ele decidiu virar esse jogo dando uma bombada no seu amor-próprio. Com algumas doses extras de testosterona correndo nas veias pôde sentir o gostinho de ter todos os homens aos seus pés (abdômen rasgado e músculos torneados tem lá o seu poder). Os likes vieram aos montes, noites de farra viraram rotina, o troca-troca de camas o deslumbrava, bocas novas passaram a ser prioridade e ele caiu na cilada do transtorno sexual. A euforia em se ocupar com os prazeres da carne trouxe melancolia, desinteresse, sofrimento mental e outras drogas. Se expôs o suficiente nesse desafio do sexo sem amor e contraiu uma doença que - hoje não mata mais e ninguém tem medo - no entanto, o seu fígado já estava comprometido e os remédios não responderam ao tratamento. O final a gente já sabe: game over.

Menino-bomba: o que pouca gente sabe é que muitos de nós somos pré-dispostos às doenças mentais (algumas pessoas em níveis alarmantes). A insegurança, o ciúme e a falta de amor é o conteúdo que vai parar nas seringas dos bonitões de mentirinha. E, algumas substâncias, quando injetadas sem acompanhamento médico, podem definir o corpo e “definhar” a mente, não necessariamente nessa ordem. É o caso de Leandro, o loirinho do corpo turbinado. Não perde um dia de treino e é capaz de trocar o aniversário da mãe por uma série de bíceps, mas há uma única coisa a qual ele se rende: a obsessão pelo seu ex-namorado. Nessa fissura de stalkear e perseguir todos os passos do rapaz ele acabava tendo comportamentos violentos, mas que num todo eram inexpressivos. No seu quebra-cabeças da rejeição, se ficasse ainda mais sarado, atrairia o seu antigo amor e tudo voltaria a ser como antes. Porém, o seu mundo desabou quando ele viu uma série de fotos do ex com um novo garoto. Detalhe: o corpo do menino era o mais natural do mundo. Tomado por uma fúria incontrolável, injetou mais uma dose da falta de amor na seringa, entrou num processo de taquicardia e saiu literalmente da casinha. Pessoas psicologicamente comprometidas pensam muito e sentem pouco:

Uma faca;
Um ex;
E um garoto virgem de anabolizantes.

A conta não fecha e como é de se esperar, essas histórias sempre acabam mal para quem não tem nada a ver.

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Não ter limites é bombástico. A escassez de alicerces emocionais tem feito jovens marombeiros colocarem a própria vaidade na UTI. Estão todos anêmicos de amor e basta um espirro na autoestima para causar uma pneumonia na alma. A questão merece cuidados: se o peso da nossa consciência estiver maior que a dos halteres, talvez seja hora de assumirmos o controle da situação.


Bruno de Abreu Rangel
brunorangelbrazil@hotmail.com