Já dei as minhas voltas nos campos da escuridão e voltei, várias vezes. Tudo
indica que talvez seja hora de dar um basta e tentar sair desse jogo de azar.
Muitos estão nesse duelo contra si mesmos e não se deram conta de que foi dada
a largada no inconsciente. As festas tão inofensivas de hoje são uma espécie de
cronômetro para a saúde espiritual e até vital. Não há medalhas nem troféus,
existe apenas um universo de ilusões com uma torcida desnorteada e aplausos
irrelevantes ...
... Que comecem os jogos!
Os indicados: a seleção começa nas
redes sociais. O sorriso de um milhão de dólares é o passaporte de entrada para
os grandes torneios. É claro que ninguém tem esse sorriso e muito menos esse
dinheiro, ainda mais com o câmbio lá nas alturas. Mas não custa nada tentar a
popularidade através do número de seguidores, criar uma rede de contatos
constituindo grupos em que uns doam atenção aos outros através de likes porque, para a grande maioria,
fazer-se amigo nos “momentos reais” – é um pé no saco. Depois que o indivíduo
se sente o vox populi do meio (a voz
do povo), com centenas de milhares de baba ovos, ele já pode ser considerado um
competidor em potencial para representar o seu distrito – ou a sua turma.
A largada: você está finalmente num
desses locais superlotados de gente interessante (Zzzz), pode ser uma ilha
paradisíaca, um resort no Nordeste, um galpão num lugar inóspito e até um inferninho
com ar condicionado, que o esquema será sempre o mesmo: uma hora de caras e
bocas se fazendo de difícil e posando de gata garota (virgem) pronta para
casar. Mas o poder opressivo do entretenimento lhes obriga a usar uma arma mais
potente, pois somente assim o competidor terá coragem para seguir adiante e entrar
de cabeça nesse ringue. É nesse instante que o capital, ou a Capital lhe
proporciona todo o tipo de artifício para fugir da realidade. Sede por sexo e
drogas são impulsos difíceis de conter. Boa sorte!
O combate: a temperatura começa a
subir e o preço de encontrar um grande amor em tempos de guerra pode custar a
própria integridade, porque esse amor não é pelo próximo, mas sim pela própria
imagem; um narcisismo escancarado que deixa a pessoa como água de salsicha:
rala e sem gosto. As inimigas se reconhecem pelo cheiro, se gladiam pelas
fofocas disseminadas através dos seus grupinhos, pelo recalque quase que
involuntário estampado em suas faces. E para derrubá-las é muito fácil: basta
que você esteja mais sarado. Para tentar acompanhar essa luta injusta, veem-se
pessoas de 48 tentando mudar o corpo para acompanhar os de 18, e os mais novos vendendo
até a alma para ter o conforto dos mais velhos. Uns guerreando com os outros
para manter a autoestima intacta, todos presos à uma areia movediça com lama
até o pescoço. Mais: nessa terra de ninguém a voracidade carnal faz com que
todos se devorem – protegidos, ou não. Salve-se quem puder.
O vencedor: a última etapa do combate
é para os “mais fortes”. Quando o tico e teco param de funcionar, basta um tico
do teko para dar um restart no jogo e
deixar a partida ainda mais eletrizante. E é no ápice do torneio que os
competidores entram no piloto automático, ou começam a dar defeito de
fabricação. O mundo é tão indiferente com algumas vitórias quanto com as perdas
e, “Não se pode proteger ninguém numa arena”. O lendário, bombástico,
cabalístico (e até extinto) competidor, deixa o jogo sem forças, ou de olhos
bem fechados. O legado que fica é um ti-ti-ti insignificante, uma coleção de
fotos incrivelmente tratadas com sorrisos falsos e improvisados, uma
abstinência por algum estimulante pesado, uma infinidade de DST’s que se
contraem por tabela, ou a terrível surpresa de um hemograma que resolve dar PT
(perda total).
Transitando entre o Hell e o Heaven, oscilando entre a guerra e a paz,
as pessoas se matam por ideologias bestas, se enterram por estilos de vida fúteis
e ficam órfãs de sentimentos, mas ideais não sentem dor, não sangram e nem
choram de saudades. Apesar da ingenuidade estar acima do bem e do mal, vale considerar
que ninguém é vítima desse sistema. Sempre haverá pão e circo e, ainda que
evitemos carboidratos, estaremos alocados numa tenda sendo feitos de palhaço
pois - os torneios são cíclicos - o showbizz
não para e a batalha... essa sim é individual.
Bruno de Abreu Rangel