Já está disponível a nova versão do príncipe encantado
O que mais
tem acontecido é isso. “As princesas” caíram no conto das bruxas, morderam a
maça e estão desencantadas, jogadas no chão, perdidas num sono profundo –
esperando por um príncipe que nunca aparece.
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Aconteceu no
metrô de Botafogo. É uma estação que integra as duas linhas do Rio de Janeiro
(Norte e Sul) e, portanto, é uma das únicas onde ambas as portas se abrem tanto
do lado direito quanto do esquerdo, ao mesmo tempo.
Da plataforma
onde eu estava havia um rapaz que beirava seus trinta anos de idade, bonito na medida,
corpo em dia, um rosto familiar daqueles que a gente acredita se parecer com
umas trocentas pessoas. Notei que ele ficou bastante entusiasmado quando um
loirinho - um pouco mais novo - apareceu do outro lado e ficou de pé na sua
direção. Foi uma troca de olhares tão fatal que a cena pedia uma trilha sonora
de novela. Alguns sorrisinhos sem graça daqui, bochechas coradas de lá, e sobre
suas cabeças, aquela fumacinha de desenho animado com a legenda: apaixonei.
Depois de
cinco minutos que pareceram uma eternidade, o trem que seguia em direção a
Ipanema, finalmente surgiu. As duas portas se abriram e os príncipes iriam
viver felizes para sempre, bem diante de nossos olhos. Eu, o moço de trinta, e
outras centenas de pessoas ocuparam os vagões. Foi aquele corre-corre pra
conseguir um assento enquanto ele era o único sujeito que desejava ficar de pé
para receber o seu futuro amado – que não entrou no vagão. (Mais uma história
daquelas em que a bela está adormecida e o príncipe não vem).
Fiquei com os
olhos encharcados. Estava presenciando uma frustração amorosa bem à luz do dia.
O rapaz estava roxo, desconcertado, sem acreditar no constrangimento que teria
criado pra si mesmo. Um barulhinho irritante anunciou que as portas iriam se
fechar. O loirinho começou a mexer no celular e nem hesitou numa despedida com
os olhos.
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Nos contos de
fadas de hoje em dia, quase todos os pares são ímpares. O “X” da questão é que
o feio quer o bonito, o bonito quer o lindo e o lindo se acha demais pra
aceitar qualquer pessoa. Enquanto ninguém resolve essa matemática... Todos
ficam sozinhos.
Aquele homem
de linhagem, que montava um cavalo branco e que estava à procura de uma
princesa que calçasse o sapatinho de cristal, foi durante um tempo, substituído
pelo bonitão bem sucedido que poderia te buscar na porta de casa com uma
Ferrari e um cartão de crédito sem limites, capaz de transportar qualquer um para
a terra da magia. Traduzindo para a versão tupiniquim, seria aquele “garotão de
Ipanema”: lindo, bronzeado, saradão, com cem milhões de seguidores no Instagram
e uma promessa de que estar ao seu lado é mais interessante do que qualquer história
de Walt Disney. Vai cair nesse conto?
Essa versão
também já caiu por terra.
Homem bonito
e malhado é a coisa mais fácil. Encontra-se aos montes nas redes sociais, nas
festas, nas esquinas de qualquer lugar sem importância. E hoje, basta ter um emprego
para custear uma academia e um ciclo de anabolizantes. Nunca foi tão fácil
ficar bem na fita.
Raro é encontrar
alguém que vai comprar o nosso partido.
O príncipe
encantado de agora é aquele que nos dedica um capítulo inteiro da história, é
aquele gentlemen elegante nos gestos,
que nos dá atenção, nos surpreende com pequenos detalhes que passariam
despercebidos até pelos nossos pais. É aquela pessoa que consegue nos ler, sem
que precisemos pronunciar uma só palavra. É o conforto espiritual compactado
numa conchinha que não dá vontade de largar. É alguém que, mesmo depois de
algum tempo, nos faz contar os minutos esperando a sua chegada do trabalho. É o
homem que vai nos ajudar a resolver todos os problemas que a gente NÃO tem
quando está solteiro – porque o amor acontece bem mais tarde, quando já viramos
abóbora.
O príncipe
encantado é alguém que nos fará despertar... Despertar um fascínio pelas coisas
mais simples, que nos deixará surpreendido pelo “de repente”. E de repente você
só precisará estar preparado pra dizer SIM, sem aquela voz que fica gritando
‘Pra sempre’ na cabeça. O amor é muito humilde, tímido e precisa de leveza pra
se estabelecer.
E como faz
pra encontrar esse príncipe? Volte para o seu castelo e destranque tudo. É
melhor seguir o conselho de Chico Xavier, porque “A felicidade não entra em
portas trancadas”.
Bruno de Abreu Rangel