Seja um fora ou um pé na
bunda, como lidamos com a rejeição?
Essa
semana fui ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro assistir à tão comentada Ópera
Salomé, realmente digna de aplausos, com direito a muitos assovios seguidos de
“bravo”. Mas não vou me estender muito pra não ficar chato e vou resumir a
história da forma mais coloquial possível pra irmos direto ao ponto.
Reza a
lenda que Salomé era bem rodada e já tinha se deitado com homens de todos os
tipos. Até aí tudo bem, quem não tem um “amiguinho” galinha que passa o rodo em
geral e se acha o rei da cocada preta?
Sem nomes, por favor.
O fato é que Salomé conheceu o profeta João
Batista, um homem puro que, previsivelmente, a rejeitou. A dançarina, que tinha
o poder da sedução à flor da pele, ficou tremendamente desnorteada: ‘Como
assim, alguém não se entrega aos meus encantos?’.
E então,
ela tentou, tentou, tentou de novo e pah! Levou um baita pé na bunda. Não
convivendo bem com a dor da rejeição, ela dançou para o rei, que se entregou
aos seus jogos e se comprometeu a dar qualquer recompensa que ela quisesse, e
sabem o que ela pediu? Quem se arrisca?
Dou-lhe
uma, dou-lhe duas...
Pasmem! Ela pediu a cabeça de João Batista.
Esse desfecho é o mesmo contado na história judaico-cristã – está na Bíblia.
O que mais
me intrigou no espetáculo foi quando, ao final, ela se despencou no chão de
arrependimento por um amor doentio que não foi correspondido e citou as últimas
palavras:
“- O
mistério do amor é maior que o mistério da morte”.
Será
mesmo?
Todos os
dias pessoas levam um NÃO, se desabam, morrem e voltam a viver, silenciosamente.
Sentem-se como um lixo, marginalizadas pelo que chamam de amor. E carregam
consigo uma amostra grátis da sensação de abandono. Quem não perde o chão
quando valoriza muito algo ou alguém que acaba fugindo de nós? Vez por outra a
gente se pega chorando e nem sempre cai lágrimas. Ficamos com o coração
estraçalhado sem que ninguém perceba, mas seguimos com nossas vidas esperando
que o tempo possa nos curar. Eu mesmo já passei por isso, e não foi na
adolescência.
Não
precisa bancar o valentão, nesse momento somos eu e você. Faça um mini flashback na sua vida e tente buscar na
sua memória um momento em que você amou alguém que nunca soube da sua
existência, ou, talvez, que você tenha se deitado por uma, ou duas vezes, e
passou uma eternidade esperando que o telefone tocasse, convivendo diariamente
com a dúvida, com a angústia que nos leva em direção ao abismo. E tem também, a
pior de todas no meu entender, você viveu um romance de filme, se entregou de
corpo e alma e, num estalar de dedos, se viu fazendo as malas para partir
porque alguém decidiu que não te amava mais. E o que fazemos quando isso acontece, o que
somos capazes de fazer por falta de amor?
Não há
nada de novo debaixo do sol quando o assunto é rejeição. Somos todos crianças
imaturas que não sabem lidar com uma resposta negativa. Eu poderia passar uma tarde compartilhando
casos de pessoas que ouviram um NÃO e deixaram essa frustração contaminar suas vidas;
disseminando o mal; fazendo fofoca da vida alheia (Twitter pra quê, não é mesmo?) ou, então, terminaram o
relacionamento de anos desejando que a pessoa com quem dividiram a maior
intimidade se ferrasse – que doideira. Isso sim é pedir a cabeça numa bandeja, isso
é inferno.
O mundo
está infestado de Salomés, de gente que vive preocupada com seu próprio prazer,
que se acha irresistível, digna de capa de revista, com milhões de seguidores nas
redes sociais e não acredita, sequer, nas voltas que a vida dá. E quando dão
com a cara na porta de alguém, querem se vingar, fazer joguinhos, sair falando
mal a torto e a direito pra justificar um problema mal resolvido com a própria
autoestima. Briga de egos, ou, mimimi mesmo, pura infantilidade.
É preciso
aprender a interpretar os sinais pra não surtar e tornar-se numa pessoa amarga
que sai por aí desacreditada num recomeço, se blindando e vivendo de farsas do
tipo: eu sou o sorriso que posto no meu Facebook,
enquanto por dentro está um caos. Levar um pé na bunda dói sim, não há como
negar, mas paciência. O ideal é conviver com isso, dar risadas de si mesmo e jamais
adicionar esse sentimento na sua lista de favoritos da alma. A vida é muito
curta pra ficar ouvindo o mesmo disco, carregando um peso nos ombros de coisas
que não são pra gente. Levou um fora?
Pule pra
outra. E aprenda a compreender porque em algum momento será a sua vez de ser
testado diante de alguém que estará do outro lado do balcão, lhe desejando como
uma hiena faminta e despertando em você, zero interesse. Falta empatia por toda parte, já presenciei
pessoas em boate sendo enxotadas com um “Sai pra lá viado pobre” ou “rala sua
mandada” bem no estilo Valesca Popozuda, podem rir, mas vamos combinar, é
pesado. Quando fazem com a gente a história muda de figura. O pau come.
De todos
os foras e pés na bunda que já levei, aprendi que não dá pra sair por aí
desperdiçando lágrimas com pessoas que não tem nada a ver com a gente.
Precisamos encontrar alguém que enxergue a vida da mesma forma que nós. Em
contrapartida, não dá pra usar as pessoas como step, ou meros peguetes sem esclarecer de fato as reais intenções.
Nunca sabemos o que se passa na cabeça das pessoas. Então, pegação é pegação, namoro
é namoro, casamento é casamento. Se a pessoa não entender, vale a pena
desenhar. Seja lá qual for o seu grau de contato, brincar com o sentimento
alheio é correr o risco de pedirem o seu coração – numa bandeja.
Bruno de Abreu Rangel