Quem manda num relacionamento?
Não é a minha
intenção falar sobre a incrível história que se passa em Westeros, na
reminiscente Europa medieval com um enredo bem sangrento. Diferente da trama
que gira em torno de uma batalha entre sete reinos – nossa guerra aqui é a
realidade mesmo, aquela vivenciada no dia a dia de um casal: a briga de egos, a
desarmonia pela autoestima, a troca de ofensas gratuitas, os julgamentos sem
fundamentos, os joguinhos de manipulação que tornam a nossa vida num verdadeiro
campo de batalha – um legítimo Game of
Thrones.
Foi num bate
papo de Whatsapp que visualizei esse
cenário quase que medieval. Um amigo, do lado de lá foi bem claro e determinado
com relação ao namorado:
– Agora que minha autoestima está boa não vou
permitir que ele me ponha pra baixo de novo. Ou ele aceita as minhas condições
ou termino na hora!
E mais
mensagens pipocavam, dessa vez do tal namorado, que também faz parte da minha
rede de relacionamentos:
– Ele me põe
pra baixo o tempo todo, me faz sentir mal comigo mesmo, sempre que pode tenta
me diminuir, sonega um elogio qualquer, cheguei a perder o apetite sexual.
Eu, no meio
do fogo cruzado e sem saber o real motivo da discussão, já tinha deduzido uma
batalha de egos entre o casal em que um estava ganhando enquanto outro perdia,
de forma inversamente proporcional. Quem ficaria com o Trono de Ferro?
#chumbo pros
dois.
Não precisa
ser psicólogo nem expert em relacionamentos pra entender que certas muralhas
são erguidas por nós mesmos. Grande parte dos nossos problemas é a gente que
cria. Devemos ter em mente, antes de declarar guerra, que em briga de casal, os
dois ficam mais pobres, os dois perdem.
Fui saber com
o andar da carruagem que o problema se resumia a autoestima, sempre ela, a
destruidora de lares e reinados. Ao invés de conversarem sobre isso, chegar a
um acordo, entenderem as suas necessidades e suas frustrações, preferiram se
sufocar com as palavras que nunca disseram e decidiram se gladiar, disputar
quem chamava mais atenção na rua, quem tinha o maior poder de atração, o corpo
mais sarado, mais seguidores nas redes sociais, quem era mais desejado na
boate, quem tinha o salário maior... Dá preguiça só de pensar nos joguinhos de
manipulação, nas atitudes de autoafirmação, nas grosserias que surgiriam das
brechas. E, de competições que pareciam inofensivas, transformaram o
relacionamento numa guerra patética erguida por uma torre tão fraca que
qualquer invasor seria capaz de invadir os seus reinos e destruir o castelo com
um sopro.
É o que
acontece quando somos trocados por outro. Ficamos mais preocupados em manter o
trono ao invés de fortalecer o reinado.
Quem não
almeja um Trono de Ferro em King’s Landing
com promessas de segurança, proteção, reconhecimento, sentir-se no controle da
situação, mas finquemos nossos pés no chão para não confundirmos autoconfiança
com disputa de poderes e assassinar um dos maiores protagonistas da nossa
história, porque num jogo de egos tudo é válido. Viver fissurado com a ideia de
estar por cima da carne é um perigo, nunca se sabe o que encontramos pela
frente.
Relacionamento é um conto de fadas sem final
feliz, com uma rotina que irá se repetir até o final de nossas existências. E é
melhor que essa rotina seja agradável, democrática, com revezamento do pódio,
pois do contrário, é declarada uma guerra de territórios, com troca de ofensas,
justificando erros com crueldade e pagando agressões na mesma moeda. Se você me
trair também lhe traio. Se você ficar de papo com qualquer um nas redes sociais
farei o mesmo: é olho por olho, dente por dente, e dá-lhe Moisés.
Sequestram o
sentimento de empatia (colocar-se no lugar do outro), amarram a gratidão,
escondem os bons momentos num calabouço e arrancam o pescoço do personagem
principal. Tudo pelo ego ferido, porque voltar atrás pode custar a própria
vida, pode custar o Trono de Ferro em King’s
Landing.
Há algo de
errado com o mundo e não é a fome ou as guerras, mas a disputa de poderes que
nos coloca em maus lençóis e trazemos esses maus exemplos pra nossa vida
pessoal. Somos todos bons e ruins, o que define nosso estado de espírito é o
que colocamos em jogo. O jogo dos Tronos.
Bruno de Abreu Rangel