Existe uma teoria da conspiração bastante
fundamentada sobre uma sociedade secreta que exerce domínio sobre o mundo. É
composta por 13 famílias poderosíssimas que não se misturam, mantêm rituais e
determinam as regras do sistema em que vivemos. Patrocinam grandes celebridades
do mundo pop divulgando, através de mensagens subliminares, os ideai Illuminati,
no intuito de controlar tudo e todos.
Pra se ter uma ideia é um esquema tão fechado que nenhum brasileiro sequer
tem acesso, no máximo alimenta a pirâmide – e só.
Resumindo:
tem que ter bala na agulha.
Mas,
acreditem, tem gente em Ipanema que jura fazer parte de um grupo desses, que
são tão ricos, poderosos e ditam as regras do jogo. Só rindo. Mas para a
gargalhada ser ainda mais gostosa, abram uma aba e pesquisem um pouco sobre
esse assunto no Google.
Voltemos.
Se você
encontrou um bom artigo, já deve ter percebido que existem mais provas sobre os
Illuminati do que Jesus Cristo, por
exemplo, mas isso é outra questão que foge ao assunto. E nem me atrevo em me
aprofundar para não ser perseguido e exterminado pelos religiosos fanáticos. Eu
não creio nos Illuminati em Ipanema,
mas que eles existem, existem. Consigo imaginar o nosso célebre Miguel de Cervantes nos servindo essa canja.
Esse tema
surgiu num momento bem inusitado. Estava eu na academia concentrado nos meus exercícios,
meio entediado com a rotina e com a falta de novidade, quando um episódio
finalmente fez o dia valer. Apesar de o local ser bem frequentado por gente
bonita e ter um clima de azaração (o que é prioridade pra muita gente que vai
treinar), todos os dias eram iguais, as mesmas pessoas, os mesmos assuntos – os
mesmos grupos que se reúnem pra malhar o corpo e a língua. Muito me agrada a
ideia da socialização, da construção de amizades com laços fortes, da estrutura
sólida de um relacionamento entre duas pessoas ou mais. Isso não tem nenhuma
relação com o fato de sair com alguém, trocar salivas, fazer um sexo selvagem e
no dia seguinte fingir que não conhece só porque não passa pela aprovação do
grupo. Fica a dica.
Um dia a casa
cai.
Um minuto de
silêncio pra cara de assustado de um rapaz que estava na academia às gargalhadas
com o seu grupo (todos sarados, tatuados no braço esquerdo, mesmo corte de
cabelo, bermuda da marca X, mesmo tipo de assunto), quando foi abordado por um
garoto afeminado, que usava bolsa tiracolo e com características que destoavam
dos demais. Vale lembrar que a tribo
poderia ser de nerds, de emos, surfistas, pseudohéteros, maconheiros, isso não
é relevante. O fato é que um rapaz com certos trejeitos “teve a audácia” de
cumprimentá-lo na frente de todos os seus “amigos”. Eu e quem estava por perto
parou pra ver a cena, digna de Oscar. Não deveria ser nada incomum se aquele
grupo fosse mais democrático, liberal e open
minded. Mas, do contrário, são intocáveis, só conversam entre si,
monopolizam os aparelhos e estão sempre rindo alto quando alguém ousa cruzar o
caminho deles.
O rapaz
terminou o breve diálogo e se despediu com um:
– Não some gato, se cuida.
Deboche
generalizado.
Um dos
integrantes daquele “grupo intocável” acabara de ser desmascarado diante de
todos e, pela sua expressão, a vergonha era tamanha que foi suficiente para que
ele não aparecesse por lá nos dias seguintes. Tudo que me recordo eram das
risadas e dos comentários:
– Olha só, fulano de tal tá comendo o
viadinho.
E nunca lhes
passou pela cabeça que poderia ser o contrário.
E dá-lhe uma
lista vasta de predicados que eles não pouparam em dizer em alto e bom tom para
quem quisesse ouvir. Esse tipo de atitude, ainda nos dias de hoje, nos leva a
pensar que a vida humana na Terra é uma experiência que deu errado. Mas ainda
assim fico com a esperança de que isso mude o mais breve possível.
Fazendo um mea culpa, confesso que já fui cruel
algumas vezes apontando o dedo num ato de superioridade e filtrando o tipo de
pessoa com quem eu fosse me relacionar. Por outro lado, também já vivenciei as
preocupações de ser aceito num grupo, de ter vergonha da própria mãe, ter
necessidade de esconder as origens, me permitir uma superficialidade só para
ser aceito numa turma em que ninguém era o que dizia ser, mas a maturidade veio
e junto trouxe o aprendizado.
Hoje conheço meio mundo, deslizo entre todas
as classes sociais e posso contar de verdade com amigos que mal enchem uma mão.
Livrei-me dos grupos que pensam ter o corpo perfeito, que ditam moda, estilos
de vida e que sobrevivem do status quo
de “The best of the best”. Disse não
aos “poderosos” Illuminati de Ipanema
sem o menor receio do julgamento, porque, quando alguém nos julga, na verdade
está querendo nos diminuir para que se sinta maior. Pra infelicidade de todos
nós, isso não acontece só nas academias, mas também nas praias de domingo, nas
esquinas onde se toma um bom açaí, nas festas onde todos se cruzam, nas
calçadas da Farme de Amoedo e de qualquer lugar do mundo.
Jogando lenha
na fogueira: Quantos desses “playboys fodas” (aspas para a ironia) são
realmente nascidos e criados em Ipanema? Sabe-se que uma grande maioria migrou do
subúrbio carioca ou de cidades pequenas para ganhar a vida no Rio de Janeiro no
intuito de alcançar um degrau na escada ilusória do país das maravilhas de Alice, onde são todos bem sucedidos e
ninguém envelhece. Acham-se tão privilegiados, ricos, poderosos. Sentem-se
iluminados, exclusivos e dignos de criar uma Nova Ordem Mundial, tal quais os integrantes de sangue azul da
elite oculta. Até que um dia...
Bingo.
A realidade bate na porta.
Concedam-me o
direito ao idealismo; todos podem e devem ter amigos com afinidades, desejos
afins, similaridade de planos e projetos de vida. Isso nada tem a ver com a
falta de respeito, com a discriminação, com a construção de um muro de Berlim
onde se divide uma coisa e outra. Seja macho, afeminado, negro, branco,
surfista, drogado, morador da zona leste, da zona sul – estamos todos no mesmo
barco. E se os Illuminati realmente
existem vamos nos preocupar com eles porque o mundo precisa melhorar muito pra
ser um lugar digno para se viver em paz e harmonia.
Bruno de Abreu Rangel