terça-feira, 27 de janeiro de 2009


A Guerra contra o preconceito




Certa vez, no aeroporto de Heathrow em Londres, pedi a um rapaz cuja aparência remetia a um cidadão nórdico, que olhasse a minha bagagem de mão enquanto ia ao toalete. Todos estamos acostumados a fazer isso aqui no Brasil. Claro que depois de passarmos os olhos pelo ambiente e finalmente detectarmos um rosto confiante.

Mas para a minha surpresa, fui interrompido: __ Where are you from? De onde você é? Foi a pergunta dele.
Como assim, “De onde eu era?” Faria mesmo alguma diferença? Talvez a resposta seria positiva apenas se eu fosse um suíço, ou qualquer um dos indivíduos dos países onde habitam a “Superclasse”.

O preconceito já dominou a humanidade e seqüestrou o bom senso colocando o respeito contra a parede, e assim construindo um novo “Muro de Berlim”, onde separa as pessoas entre uma coisa e outra. A Segunda Guerra Mundial acabou faz algum tempo, mas a Guerra moral continua dizimando a dignidade de muita gente por todo o canto.

Ainda na Europa, onde dizem ser o continente de vanguarda cultural e liberdade de expressão, dois jovens franceses discutiam na porta de um movimentado bar no Marais, o charmoso e bem freqüentado bairro gay de Paris. Seja qual fosse a questão, a multidão afoita se reunia ao redor para assistir aquele pé de Guerra, quando um dizia ao outro:

__ Sou gay sim, mas posso disfarçar isso, fingir para a sociedade que sou um ser convencional, como muitos fazem, mas e você que é negro, o que pode fazer para mudar isso?

Nossos valores estão invertidos. Em todos os momentos estamos competindo por coisas estúpidas. O carioca é melhor que o paulista, o brasileiro é mais gentil que o italiano, eu moro na zona Sul, você mora na zona Norte. E por ai vai uma lista de infinidades preconceituosas que parecem inofensivas, mas é comum morrerem mais pessoas no Maracanã do que na própria faixa de Gaza, simplesmente porque o torcedor adversário não aceitou a derrota.

A partir do momento em que passamos a catalogar as pessoas, dividir entre uma coisa e outra, aí surge uma batalha, e um grande número de batalhas transforma-se numa Guerra. Mulçumanos contra católicos, brancos contra negros, héteros preconceituosos contra gays. O Nazismo foi nada mais que uma batalha preconceituosa, e além de exterminar milhões de judeus, Hitler perseguiu milhares de gays e os sacrificou ate à morte. Por ironia do destino, a história conta que Hitler era homossexual, mas também preconceituoso o que fez dele o líder de uma batalha sem valores morais.

Quantas pessoas morrem por dia numa Guerra e quantas pessoas vivem numa Guerra para serem o que são?


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Hora de assumir


Hora de assumir


Hora de assumir.
Hora de assumir!!!
Hora de assumir?

Existe mesmo o momento certo para sair do armário? Como é a vida de uma pessoa que se esconde por anos a fio? Qual a sensação de viver com uma “identidade falsa”?


A história diz que na Segunda Guerra Mundial uma adolescente chamada Anne Frank foi obrigada a se esconder num porão de uma residência durante 25 meses. Ela temia a tortura dos nazistas, pois caso saísse de seu esconderijo seria torturada. Ela era diferente: era judia, alvo de preconceito da raça ariana. O tempo que parecia não passar durou uma eternidade e a angustia de estar escondida talvez fosse pior do que tentar sair e lutar pela vida. Mas os nazistas finalmente a encontraram junto de sua família e os levaram para um campo de concentração a fim de serem exterminados.

E nós gays? Até quando vamos temer o holocausto? Existe realmente uma guerra lá fora, ou vamos viver uma vida como alguém que se esconde do incerto?
Os homossexuais sempre existiram em toda a história da humanidade. Em algumas sociedades a relação entre dois seres do mesmo sexo era simplesmente parte da cultura, enquanto que noutras, um bom motivo para ser levado para a fogueira da inquisição.

É melhor que falemos sobre a nossa sociedade. Quem foi jovem nos anos 50 ou 60 deve se lembrar de que a repressão dos pais em todos os quesitos era rigorosa. Nada poderia ser feito sem o consentimento da família e a sociedade era totalmente repressiva e tradicional. A juventude dos anos 80 e 90 assistiu às transforaçoes da vida moderna, do aparecimento do celular, da internet e um pouco da liberdade de expressão. A partir do século XXI, os gays começaram a “sair do armário” em massa. Foi o momento em que a televisão, os filmes, os livros, a ciência, começou a esclarecer o homossexualismo sem tabus e preconceito. Hoje as crianças crescem em direção ao esclarecimento das diferenças e os adolescentes não tem mais a luta interna quanto ao fato de gostar ou não de pessoas do mesmo sexo, a guerra íntima da atualidade é por outros motivos, não por questões de sexualidade, todos sabemos que isso é perda de tempo.

A hora certa para sair do armário é quando estivermos bem com nos mesmos. Antes de assumir para alguém devemos saber da nossa existência. Tudo é uma questão de auto-estima e cada um tem o momento ideal para se aceitar. Sair do armário não significa ter que escrever na testa a opção sexual, contar a todos na rua os desejos mais secretos, andar com a bandeira arco-íris estampada na camisa ou participar de todos os eventos gays. As paradas, marchas militantes dos homossexuais, foram criadas com a finalidade de unir forças contra o preconceito, mas pergunte aos freqüentadores quantos realmente se fazem presentes por essa razão? A grande maioria aparece somente para festejar e beijar na boca, dentre outras coisas. Existem coisas mais importantes do que fincar a bandeira arco-íris na Lua. Antes de chegar à lua, é melhor que cheguemos dentro de nós mesmos.


Contar aos pais? Eles já sabem, uma mãe sempre sabe o filho que tem. A diferença é sair da nossa boca. Nossos pais não pensam que temos pênis, não imaginam o tamanho do nosso membro, o que fazemos em quatro paredes cabe a cada um de nós. Não vale a pena criar uma guerra em família contando a todos a opção sexual se ainda não estamos preparados, se não pagamos nossas próprias contas. Porém, pode acontecer de sermos surpreendidos com a pergunta que não quer calar: __ Você é gay? Nessa ocasião, cabe a nós escolhermos entre a sinceridade ou a “falsa identidade”. Os pais chorarão por dias, meses, ou até anos, mas o amor é incondicional e cedo ou tarde tudo se esclarece.


A felicidade consiste em podermos deitar no travesseiro e conseguirmos dormir, mas infelizmente a maioria das pessoas não se assume e vive uma existência escondida, andando pelas ruas como se fossem criminosos foragidos e terminam como a jovem e judia Anne Frank.