segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A inveja que rola no meio


Rola muita coisa no meio, mas a falta de r*la pode, também, ser uma das explicações para a infelicidade de muitos. A escassez de amor, de sentir alegria pelo próximo, tem feito a bandeira colorida passar vergonha. Nas redes e nas rodas sociais é aquela disputa cansativa o tempo todo: o mais lindo, o mais sarado, o mais rico, o maior pegador, o casamento mais perfeito/o solteirão mais cobiçado, o mais viajado; o partido político que rouba menos... tem até competição de quem se droga mais e não morre (sim, essa é de cair o queixo).
 
Logo, quando algo de interessante acontece na vida de alguém - seja por mérito, ou sorte – ao invés dos coleguinhas demonstrarem um apreço, eles brotam do nada com um sorriso forçado tentando camuflar o desgosto e um sentimento incontrolável de possuir o que não lhes pertence, porque na realidade estão insatisfeitos com a vida glamorosa que insistem divulgar. A dor de cotovelo é tanta que muitos dedicam parte do seu tempo tentando difamar o outro no seu vasto “círculo de amizades”, criando histórias mirabolantes e disseminando fofoquinhas de colegiais só para se sentirem maiores. Rola sempre um comentário ácido entre um copo de café e um pão com manteiga:
 
1- A pessoa vai para o circuito de Barcelona: piranha baladeira;
 
2- Namora alguém com o dobro da idade: golpista;
 
3- O indivíduo está fazendo dieta e ficou com o rosto seco: ‘esse aí contraiu uma doença pesada...’
 
4- A foto de um bonitão atingiu 2K de curtidas em 5 minutos: ‘Ao vivo você precisa ver amigo, ela é horrorosa”;
 
5- Posta foto sem camisa na balada: drogado;
 
6- Mora fora do país: faz programa;
 
7- Apareceu com sunga nova na praia: programa;
 
8- Posta fotos de madrugada: programa também (porque a pessoa não está dormindo?);
 
9- Anunciou que está namorando sério: ‘esse relacionamento não vai durar uma chuva’;
 
10- Leva uma incrível vida de solteiro: ‘encalhado, ninguém o suporta, tadinho...’;
 
11- O rapaz tem mestrado: bicha nerd militonto de esquerda;
 
12- O cara está todas as tardes curtindo a praia: maconheiro;
 
13- A inimiga ficou com o seu crush: ‘uma piranha, você sabia que ela já passou na mão de geral? ’;
 
14- Namora um cara bem bonito: deve estar bancando;
 
15- Apareceu todo saradão roubando a cena: ‘com esse tanto de bomba que ele toma, até eu...’;
 
16- O carinha normal que só pega os mais gatos: ‘deve ser dotado, porque bonito ele não é. Como alguém pode encarar esse monstro? ’;
 
17- A pessoa posta foto num iate em Mônaco: ‘o boy exibe a viagem, quero ver exibir quem banca’;
 
18- O coleguinha resolveu trabalhar e alcançou o sucesso profissional: ‘deve ter dormido com alguém, com certeza. ’;
 
19- Fez um tour pelo Velho Mundo: ‘como essa bicha foi pra Europa se ela não tem dinheiro para um Guaraná? ’;
 
20- Dois super gatos mudam status para em um relacionamento sério: ‘não sei quem come quem, duas passivas...’
 
Suponhamos que você tenha passado a vida toda desejando ser um pouco mais feliz e, então, o seu melhor amigo surge com um brilho irradiante nos olhos, vivendo um dia de cada vez, sem grandes motivos, feliz por nada. Isso te incomodaria?
 
A inveja cria inimigos silenciosos. Nesse mundo superficial do ‘vou postar minhas vitórias’, as pessoas quase nunca têm acesso aos nossos dramas, às nossas derrotas, aos problemas corriqueiros que nos tiram dos trilhos, e então elas se baseiam nas imagens que rolam na timeline e se questionam o tempo todo, se comparam, se sentem menores porque a grama do outro parece ser sempre mais verde, a bandeira arco-íris do vizinho é mais colorida. Estar, aparentemente, melhor do que os outros pode ser muito perigoso. Nesse jogo da vida nem todo mundo vai conseguir chegar lá. Mas onde fica esse lá?
 
Acreditem, haverá sempre alguém mais novo, mais bonito e bem-sucedido na próxima esquina, mas a sabedoria está em aceitar o que vem para nós, conseguir viver no mundo sem ser do mundo, olhar para as conquistas ao nosso redor sem nos revoltarmos. Todos vamos passar por altos e baixos, perdas e ganhos; enfrentar a alegria e a tristeza, o emprego e o desemprego, a luz e as trevas, o apego e o desapego, todos vamos provar o gostinho do ‘Eu te amo’, ou do ‘Não te quero mais’. O que fará a diferença no final de tudo, é a lição que vamos tirar e a alegria em vibrar pelas conquistas das pessoas que amamos. É esse o tipo de energia que vai blindar a nossa alma.
 
 
Bruno de Abreu Rangel

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