quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Liberdade: a coragem de ser você mesmo



Quem já leu o livro A coragem de ser você mesmo, deve ter associado o título logo de cara. Eu li e reli a obra, de cabo a rabo, pra tentar assimilar os ensinamentos de Osho, que me deixavam boquiaberto a cada página devorada. Numa de suas passagens mais marcantes ele nos convida a refletir: nossos pais nos falaram sobre Deus, e o que eles sabem sobre Deus? Qual a experiência que tiveram?

O mestre na arte da meditação matou a charada, estamos repetindo padrões de gerações. Os pais impossibilitam os seus filhos de investigarem sobre a própria existência, tirando-lhes a chance de descobrirem quem são: você é batizado se nasce num lar cristão, circuncisado se tem origem judaica, matriculado numa escola trilíngue se é filho de diplomatas. E nada disso lhe foi perguntado. Quando você cresce se sente uma carta fora do baralho, vivendo uma vida que não é sua, com a cabeça encalacrada de perguntas existenciais.

E é bem por aí. Com o passar dos anos nos tornamos numa pessoa cheia de pré-conceitos, com uma penca de inverdades e uma merrequinha de coragem para aceitar o nosso “Eu” que fica entalado na garganta, porque o mundo não tem o menor interesse em saber sobre nós.

Assim acontece com a maioria das pessoas que se descobrem gays, por exemplo. Elas crescem sendo induzidas ao matrimônio tradicional, a seguir todo o ritual como manda a apostila dos bons modos, são adestradas a entender que futebol é esporte de macho e romantismo é coisa da ala feminina. E na maioria dos casos, a firmeza de espírito para enfrentar uma situação emocionalmente complicada vem com os primeiros fios de cabelo branco, para alguns nem vêm, pois o preço é alto – e não estou falando apenas de sexualidade, mas do esforço para olhar-se no espelho da alma sem se intimidar com o que vê. A vida sem maquiagem é muito mais interessante, mais natural, mais leve.

Somos condicionados o tempo todo e o segredo pra fugir do sistema é fazer as malas e embarcar numa aventura sem volta para o autoconhecimento. Talvez quando criança a casa dos seus pais fosse azul e por esse motivo você se apaixona por tudo que tem a cor do céu; de repente, em algum momento, você admirou alguém de pele morena e hoje tem uma queda por pessoas dessa natureza; na adolescência assistiu a um documentário sobre proteger vidas e decidiu tornar-se num policial porque adrenalina e senso de defesa estão no seu DNA; existem também as tristezas pessoais, os traumas que a gente esconde do Facebook e mantêm guardados numa caixinha com o receio de que alguém um dia descubra nossas fraquezas: assim somos nós na íntegra – versão sem cortes.

A parte boa de amadurecer é ter a desenvoltura de sermos nós mesmos, autonomia para assumir o nosso papel sem fazer teatro, sentar numa mesa de bar apenas com pessoas que nos acrescentam sem precisar ficar naquela mise-en-scène toda (função de fazer sala com sorrisos ensaiados), considerar que é uma grande bobagem gastar a voz com indivíduos que estão em outra sintonia, reconhecer que em alguns momentos teremos pensamentos insanos, pontadas de ciúme, surtos de inveja, crises de amor-próprio, um medo de fazer xixi nas calças por motivos tolos, dúvidas e indecisões que vão nos manter acesos nas madrugadas em que todos estão com as luzes apagadas. “O importante é ser você, mesmo que seja bizarro, seja você”. É verdade Pitty, também estamos nessa pegada.

Da meditação ao rock a mensagem é a mesma: desprendimento, aceitação e liberdade, que vem com um leque de aprendizados. Pra ser mais feliz é preciso coragem, valentia pra ligar aquele botãozinho do *oda-se e escutar de fato o que a nossa alma pede. Os tempos são outros e a evolução espiritual vai muito além do que as pessoas pensam sobre nós.

                                                                                                                                    
Bruno de Abreu Rangel

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