terça-feira, 7 de abril de 2015

Alerta Vermelho: a carência faz a gente ver amor onde não existe.



Todo mundo tem uma história triste pra contar: a separação dos pais, a perda de uma pessoa muito próxima, a falta de recursos financeiros que lhes custou dias assombrosos, o drama de um relacionamento que teve um final trágico bem do estilo novela mexicana, uma demonstração de afeto que passou uma eternidade esperando... E nunca aconteceu. Fazendo um cálculo emocional, o resultado de tudo isso gera medo, insegurança e carência – o mal do século. Mas nada disso nos dá o direito de sermos ruins e revoltados com o mundo, isso além de burrice é acionar uma bomba relógio. E adivinha quem será o maior prejudicado?

Antes de começar, gostaria de pedir um mini flashback.


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Ele, onze anos de idade.
Eu, oito.
Cenário - A obra de um edifício com um buraco de alguns metros.
 __ Você é meu amigo?
 __ Sim, sou.
 __ Então prove. Pule daqui.

E lá fui eu, na primeira tentativa de ser aceito, amado e percebido. O final todos já sabem: um joelho ralado, uma cara rachada e alguns dias de atestado médico. Nunca mais soube do paradeiro daquele suposto “amigo”. É quando a gente coloca amor, dor e sofrimento no mesmo patamar, tipo um combo carente mega master.

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Mas não foi só na infância que rachei a minha cara. Estando hoje num relacionamento mais estável, repensei outros que vivi no passado e percebi que, muitas vezes, a carência me levava a permanecer num namoro que já tinha acabado há tempos. Ficava forçando a barra, tentando ver coisas onde não existia, interpretando os atos da forma que me era conveniente, sem conseguir absorver a ideia de que “a casa caiu”. Se você está passando muito mal e ele quer saber onde está a camisa dele, alguma coisa não vai bem, pode apostar.

E então, tentava a torto e a direito reanimar um amor que não era correspondido à altura, ficava na ansiedade de salvar um romance em nome dos bons momentos sem conseguir desapegar à história, me levando a ter uma visão distorcida da realidade, vendo coisas onde não existia, ou, interpretando o comportamento do outro de forma apaixonada quando na verdade não era nada daquilo, tipo encaixar uma bola num quadrado, como naqueles testes de Q.I pra criança. A carência faz a gente ver amor onde não existe.

Mas o retorno de Saturno, que vem com o amadurecimento, me fez ver o mundo a olhos nus. Olhando pra trás e fazendo um retrospecto, vejo que a carência havia criado uma bolha na minha mente e dentro dessa bolha construí um mundo fictício de tudo que eu queria (Fantástico mundo de Bob), e só procurava alguém que se encaixasse na parte a ser preenchida.

Agora, consigo compreender com mais clareza que, para um relacionamento funcionar, é necessário que haja um equilíbrio e todos esses sentimentos extremos como ciúme excessivo e aquela paixão avassaladora nunca vingam, não dá certo mesmo. Puro fogo de palha. Com a mesma facilidade que você entra na vida de alguém, será convidado a se retirar.

Amor demais sufoca, suga a energia e tem tempo de validade. Vez por outra me deparo com pessoas relatando as suas frustrações e vejo que elas estão amordaçadas por uma fantasia no estilo Caverna do Dragão, sempre sendo impedidas de saírem. É sede de amor, fome de atenção, medo de enfrentar o nada, a solidão; desespero por um cuidado oriundo de pais inconstantes e inseguros, vítimas de superproteção na infância, de resquícios de um relacionamento que deixou um trauma. E então é como se elas juntassem todo esse prejuízo, colocassem os juros atualizados e jogassem na mesa do atual parceiro:

__Toma, essa é a conta que você tem que pagar.

Socorro! A gente não tem o direito de exigir carinho de ninguém, tampouco viver na posição de criança mimada esperando que todos nos estendam um tapete vermelho pra passar. Relacionamento é uma via de mão dupla e é altamente recomendável que cada um tenha a sua vida. Viver só para a relação é um tiro no pé. É importante ter a sua vida social, o seu ciclo de amizades, continuar escrevendo a história da sua existência, e entender que o seu parceiro é um personagem desse lindo conto, não o livro todo.

É preciso ficar atento aos sinais para não sair ferido, ficar desencantado com o mundo. Os aplicativos estão infestados de psicopatas que se alimentam da baixa autoestima; as baladas estão superlotadas com sarados preocupados em “curtir a vibe”, as praias abarrotadas de seres vaidosos procurando por olhares desejados como hienas famintas por atenção. Estão todos vivenciando as causas da falta de amor. Seja qual for o lugar precisamos aceitar a ideia de que as pessoas simplesmente têm a opção de NÃO nos quererem por perto, seja pra uma foda rápida ou, algo mais sério. Não adianta ficar melindrado, espernear, bater a perna, querer surtar, sair da casinha. Guardemos as nossas energias para assuntos pertinentes.

Mais autoconfiança, menos dependência emocional. Sem essa de tolerar maus tratos, humilhações, se expor em situações que nos trarão prejuízos irreparáveis. Precisamos acalmar a alma com sentimentos brandos, medianos, maduros, sem a incessante obsessão por provas de amor, sem a necessidade de ouvir sentimentos através das palavras, sem o medo latente da perda gritando na cabeça.  É melhor trocar paixão por compaixão, simpatia por empatia, o eu pelo nós. Se você estiver precisando pular num abismo pra provar o amor, saíra com a cara e o coração rachados- nada mais.


Bruno de Abreu Rangel



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