quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Porque os gays estão surtando.



              Falta da instituição família e rejeição social... Será?




Utilizo o metrô como meio de transporte desde sempre. Além de achar mais rápido, prático e seguro é uma fonte enriquecedora para as minhas inspirações, uma amostra do comportamento humano dentro de um vagão. Um entra e sai de gente de todo tipo que está se deslocando para o trabalho, para casa, ou pra algum lugar que vai distraí-lo da mesmice da vida.

Um fato interessante que me chamou atenção no meu último trajeto Centro-Ipanema foi uma conversa entre dois rapazes que confidenciavam sobre suas vidas em alto e bom tom, pra quem quisesse ouvir. Era como se tivessem ligado o “fod*-se” para a opinião alheia. Ponto pra eles e pra quem consegue levar a vida com esse desprendimento.

O maior barato do bate papo foi quando um deles disse que tinha sido expulso de casa por ter contado aos pais que era homossexual. O outro deu risadas e prosseguiu:

__Expulso de casa? Isso é tão anos oitenta. A senhora deve ter sido expulsa porque está surtando.

Algumas pessoas que estavam próximas riram juntas, inclusive eu. Senso de humor apurado é algo que me fascina. Pelo jeito que eles se comunicavam no feminino, sempre caçoando um do outro, deu pra perceber o grau de intimidade que eles tinham: uma amizade de longa data.

__Surtada eu, está louca? Quem gasta o salário todo aqui com festas é a senhora, tá meu bem? Defendeu-se contorcendo o corpo de forma que me fez lembrar a Vanessão (20 reais). Pra quem não conhece vale uma navegada pelo Youtube.

E então continuaram com o diálogo que, algumas vezes, chocava uma senhora que estava escorada na porta apertando um livro contra o peito, emitindo uns tsc tsc tsc, balançando a cabeça de forma negativa e esperando algum olhar de aprovação para formar a turma dos “eles não são como nós”, que pra sua infelicidade não aconteceu.

Conversa vai, conversa vem e o assunto fica sério. Como num estalar de dedos a verdade veio à tona:

__ Amiga, a senhora foi expulsa de casa porque não quer ajudar a família com as despesas e da noite para o dia me aparece no Facebook fazendo check in na Grécia. Como assim viado? Desde que a senhora descobriu o Stanazolol está pagando Mykonos, e agora se faz de bicha coitada abandonada pelos pais, pronto falei!

Não sei se tudo foi dito exatamente com essas palavras, mas resumi ao máximo que pude. Tudo o que eu me lembro é que ele realmente deu um baita choque de realidade no amigo.

É bem verdade que os nossos pais têm uma parcela de culpa quando decidimos abandonar o nosso lar pra vivermos a vida que julgamos merecer porque no fundo da nossa alma gostaríamos que fosse diferente, que eles nos apresentassem uma estrutura familiar onde ser gay tivesse o seu lugar na árvore genealógica sem que nos considerassem extraterrestres, doentes, frutos do demônio, da pomba gira e por aí vai uma infinidade de rótulos pra lá de amargos. A gente foge de casa como forma de autodefesa, negação e ausência de um horizonte. Mas tudo bem, não dá pra colocar toda a nossa infelicidade na conta dos outros.

Os pais perdem seus filhos para o mundo quando os assistem fazendo as malas para partir sem antes ter aquela conversinha bem simples “te aceito como você é”, com direito a beijinho na testa pra selar o amor incondicional que, nas entrelinhas, quer dizer: tamu junto!


 Todos os dias jovens desembarcam nos grandes centros como Rio e São Paulo para experimentarem o novo, para sentirem um ar de liberdade nos pulmões, pra baterem no peito “agora eu sou o dono da minha própria vida”, poder visitar camas diferentes e se apaixonarem por alguém do mesmo sexo sem que isso lhes custem a paz de espírito. O problema é que na bagagem trazem muita ilusão, projeções de carreiras na novela das oito, a falsa ideia de que será descoberto por um head hunter na fila do Bob’s, a ingenuidade de que vai construir um império num emprego que mal paga o aluguel, e de quebra ver a praia de Ipanema ou a estonteante Oscar Freire da janela do quarto. Quando a ficha cai, já se passaram anos de sonhos roubados.

Algumas pessoas vão ter sucesso no trabalho, outras no amor, poucas as que serão bem sucedidas nos dois quesitos, mas as que receberam uma educação com grandes valores terão o discernimento para ver a vida com olhos de águia, vão sobrevoar sob esse mar de ilusões. Vão estar no mundo sem ser do mundo. Quem já tiver essa receita que me mande por inbox.

Muitas gerações apodreceram sem ter o apoio da família, muitos gays foram assassinados e a maior parte viveu trancada no guarda roupas visitando os guetos, o mundo underground, batendo cartões em saunas, vivenciando o sexo proibido e voltando para a cama de suas esposas – tudo isso porque um dia lá atrás os pais decidiram não tocar no assunto “sexualidade”.

E os vistos como rebeldes perante a sociedade saíram em campo em busca de espaço assumindo a própria personalidade, levantando bandeiras nas paradas gays marcando território da mesma forma como fizeram os Bandeirantes com o Brasil. Aquela travesti ou a bicha velha barriguda que os próprios gays têm ojeriza foram as pessoas que, no passado, deram a cara pra bater vislumbrando uma sociedade mais justa e livre. Graças a eles a homossexualidade deixou de ser vista como um câncer, mas a luta ainda não terminou, existe uma linhagem de Cristãos que odeiam os gays. Cristão... Ódio... Louco isso, não? Façamos a nossa parte, oremos por eles.

Voltando para o vagão onde dois jovens desmiuçam o comportamento humano, é perceptível, pela conversa deles, que os gays continuam surtando porque estão sem o suporte da família que insiste em achar que bancar o filho longe de casa é o suficiente. Estão sem o apoio da sociedade que continua formatada nos padrões ultrapassados e, também, sem um modelo de vida pra se espelharem. Reinventar a vida é o máximo, mas até onde somos capazes de fazer isso sem perder a conexão com as outras pessoas, sem se sentir um peixe fora d’água?

As pessoas estão perdidas, sem um Norte, sem saber que direção tomar porque foram programadas para gostar do sexo oposto, casar-se com um padre no meio dizendo amém, tornar-se, pai, avô - dar continuidade ao que chamamos de seguir a cartilha – ou, fazer o dever de casa. Não se sentem merecedoras de amor e continuam repetindo os padrões das gerações anteriores. Ficam amargas, apontando a vida sexual do outro, julgando, competindo, lutando contra a própria genética para se sentirem um pouco mais atraentes e terem a atenção que foi economizada pelos pais.

 É duro ter que assumir, mas a vida gay se resume em apenas um curto período de tempo que vai dos 19 aos 29 anos. E se você se entupir de anabolizantes e tratamentos caríssimos, dá até pra estender um pouquinho mais. O problema é saber a hora de pendurar as chuteiras. Estamos todos com as pernas bambas temendo a nova fase como se fôssemos para a cadeira elétrica. Afinal, ser velho e gay... Credo! Nossa sociedade egocentrista não tem espaço pra esse tipo de gente. (ironia).

E então se prosseguem os surtos: circuitos de festas na Europa, roupas ainda mais justas, cabelos com cortes mais ousados, tudo pra parecer mais jovem, como resposta inconsciente do “eu quero ser o assunto”, vivendo a vida como adolescentes forever tentando fazer parte de uma “época” que não lhes pertence mais. O próprio grupo da nova geração rejeita a entrada deles: vaza. E, Ao invés de aproveitarem Mykonos, pagam micos, se expõem ao ridículo forçando a barra e, muitas vezes, se endividando em nome da vaidade só pra sair bem na foto. Estão todos mantendo a angústia da perseguição, sempre atrás de algo que não sabem explicar – e terminam sozinhos e insatisfeitos. Isso vale pra todo mundo, inclusive pra mim.  

Amadurecimento é sadio e faz parte. Construir uma família está na essência do ser humano, seja ele avô, tia, sobrinho, irmã, marido, esposa; criar um animal, ter dois pais, duas mães, ou uma mãe solteira que será a nossa guerreira... Ninguém tem o direito de interferir no amor que reina num lar.

Liberando ou não o casamento gay, as pessoas vão morar juntas assim mesmo, vão ser felizes e dar um tapa de luva na sociedade hipócrita que vive com seus relacionamentos assinados em papéis que embrulham o pão de amanhã. E para a nossa esperança, vai uma conscientização dos pais em instruírem seus filhos com valores que não precisam de firma reconhecida em cartório.



Bruno de Abreu Rangel


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