quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Educados para roubar

Porque os brasileiros não se intimidam com a corrupção do governo.



Pouca coisa me tira do sério e uma delas é dizer que os brasileiros não têm educação. Mentira! Muito pelo contrário. Temos um jeitinho só nosso que herdamos de nossos ancestrais, fruto de gerações e gerações. É muita mistura de genes e culturas pra chegar à essa receita de bolo que, por sinal - dizem as más línguas - já passou do ponto.

Fomos educados para furar fila, dirigir em zigue zague sempre ultrapassando, fomos adestrados para cobrar mais caro por um produto ou serviço que fornecemos sem que esse valha um terço do que propomos. E eu poderia perder um dia citando exemplos que se amontoam:

É o flanelinha que te obriga a pagar um absurdo para estacionar o carro em local público; 

É o ambulante que dá o preço pela cara do freguês; 

É o suco de laranja de uma lanchonete que enchem de água e cobram preços estratosféricos; 

É o taxista que te dá voltas; 

É o seu patrão que não paga seus direitos trabalhistas e esfrega na sua cara que tem uma lancha em Búzios; 

É um funcionário público que prestou concurso com a finalidade de esticar as pernas (pessoas que querem o beneficiário, mas não querem o compromisso); 

É um sujeito que falsifica carteira de estudantes; 

É alguém que tira proveito de algo que deveria conquistar pelo próprio mérito.

E a culpa é dos políticos? Não faz o menor sentido.

Os que estão ocupando os assentos ociosos em Brasília são apenas os sortudos que chegaram onde todos gostariam de estar (recebendo salários exorbitantes pra trocar papel de gaveta). Chupa essa uva! Eles são apenas uma amostra fidedigna da população e simplesmente representam a base da pirâmide. Nós somos a estrutura desse sistema falho e fomos bem educados para que ele perdure. Seja qual for o partido que assumir o palanque presidencial, tudo se repetirá num ciclo interminável. Novos escândalos vão desenhar as capas dos tabloides, mais lavagem de dinheiro será esfregada na nossa cara, os impostos vão aumentar ainda mais e serão inversamente proporcionais aos serviços que nos serão prestados. E sabe o que vai acontecer?

N-A-D-A.

Vamos continuar conformados sem mover uma palha, com a mesma vidinha medíocre e, ainda que mamemos nas tetas do Governo, a vista da janela será sempre desenhada com uma paisagem de pobreza x riqueza. Vamos continuar celebrando carnaval, futebol, Zorra Total, mantendo sempre a convicção de que morar em comunidade é o máximo, que o rico da novela é sempre triste e que pobreza traz felicidade. Continuaremos na prática do dízimo, doando 10% do que suamos para construírem templos como o de Salomão com a inútil justificativa de ir viver no céu.

Seguiremos adiante lutando por uma vida que mal teremos tempo de viver. Tudo porque temos a educação mais simpática do mundo, sempre com um jeitinho pra tirar vantagem de alguém. E o que nos falta é empatia, que é se colocar no lugar do outro. Ao invés disso, preferimos viver na política da vantagem.

Os eleitores sempre reelegerão os partidos que os beneficiam sem sequer pensar no futuro da nação. Usarão seus votos de forma pessoal e egoísta, se esquecendo de que qualquer deslize econômico oriundo de uma má administração poderá aumentar de maneira drástica a criminalidade em decorrência da pobreza. E os males sociais vão respingar cada vez mais na vida dos “intocáveis”, que vivem enclausurados em condomínios de luxo, porque fora dali o mundo é perigoso demais. É praticamente uma viagem fora da Matrix.

A classe menos favorecida, apesar de pensar o contrário, infelizmente continuará da mesma forma e, ainda que recebam auxílios de programas sociais (um verdadeiro cala boca), vão continuar degustando a pobreza trocando um futuro promissor vendendo o voto por um quilo de carne e um Playstation da moda. E nada vai sair do lugar.

Nosso país será um pouco melhor quando ensinarem na escola que cartão de crédito é coisa séria e que bancos não perdoam dívidas. E que também não adianta ter as contas em dia se está em débito com a alma. Teremos um Brasil mais leve quando lecionarem sobre amor ao próximo sem que esse tenha alguma relação com dinheiro, porque pelo amor ao dinheiro filhos matam pais. Seremos melhores quando nos ensinarem a levar um NÃO sem que isso nos faça entrar em parafuso – muita gente andou matando essa aula. Quando nos mostrarem por A+B que vamos colher tudo o que plantamos e que ninguém deixa esse mundo sem pagar pelo que fez. Não é necessário estar no Planalto para ser um corrupto em potencial. Se você é estúpido com alguém, você está roubando a paz de espírito. E isso também é corrupção, e das grandes.

Nas redes sociais observo as pessoas se agredindo, se bloqueando, criando inimizades imperdoáveis por causa de política, quando na hora “H” a turma do PT vai dar as mãos à turma dos Tucanos e ficaremos todos a ver navios, empurrando a nossa vidinha de sempre com a barriga. Sempre foi assim, desde o início da nossa história quando Pedro Álvares Cabral pisou os pés aqui e roubou a dignidade dos índios. E acreditem – não vai ser o seu post do Facebook que mudará a opinião de alguém. O nosso direito termina quando o de alguém começa.

Acordemos, a mudança depende de cada um de nós. Como já dizia Geraldo Vandré “Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora e não espera acontecer”. 



Bruno de Abreu Rangel


  




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