‘Sou gordo e
baixinho e quero que as pessoas me aceitem como sou. Procuro por sarados e
altos’.
Há algumas semanas fui ao cinema assistir ao filme “A
Culpa é das estrelas”. Realmente belíssimo, tocante, incrível, estupendo,
audacioso, magnífico, digno de Oscar – bem do jeito que os críticos de jornais
como o The New York Times gostam de
citar em suas publicações.
No cinema, toda a plateia aos prantos; narizes fungando
como se uma epidemia de gripe se instalasse no local; os casais apertando suas
mãos como se aquelas fossem as suas histórias (identidade com o telespectador é
a palavra-chave para um roteirista de sucesso); e na tela, um romance entre dois
jovens que tinham algo em comum: uma doença terminal.
Ficou bem claro na trama, que seja qual for o motivo, o
que mantém uma pessoa ligada à outra é a afinidade, a interseção dos desejos, o
“algo em comum”, ou o simplesmente “Estou nessa com você, O.K?”. Mas será que a culpa é mesmo das estrelas? Será
que todos teremos a oportunidade de estar no lugar certo e na hora certa quando
o grande pretendente cruzar nosso caminho?
Dá pena do Cupido só de imaginar o trabalhão que ele terá
pra casar todos os bilhões de habitantes na Terra. Finquemos os pés no chão, o
Departamento de União das Almas Gêmeas não existe e, fatalmente - muitos
viverão mais romances do que outros e alguns vão passar toda a existência sem
sentir um friozinho na barriga.
Não é nada fácil encontrar a batida perfeita numa Era em
que a Internet afasta os próximos e aproxima os distantes. E, talvez seja esse
o motivo de as pessoas estarem entrando em parafuso, surtando emocionalmente.
Estão carentes do contato físico, da casualidade de se esbarrar numa esquina,
das possibilidades de tropeçar na rua e deixarem livros caírem e ter um cara
gato recolhendo com um sorriso de “quero te ver novamente”. Acabaram-se os
clichês, as situações ficaram mais práticas, as pessoas se formataram e foram
se esconder atrás de um número de IP. Li em algum lugar, que talvez essa seja a
última geração a ter contato físico. Batam na madeira, tomara que não.
Foi pensando nisso que algum sujeito criou o TINDER, um aplicativo que aproxima as
pessoas através de um clique. E se tem casamento por vir... Talvez a culpa seja
Dele e não mais das estrelas. É o Cupido sendo demitido na íntegra.
Pra quem não sabe,
esse é o aplicativo do momento. Você baixa no celular, cria um perfil e
automaticamente tem todas as informações sincronizadas com o Facebook, o que diminiu - e muito - o
número dos fakes e recalcados de
plantão. No Tinder, as pessoas são
mais comportadas, as fotos mais trabalhadas e todos estão passando sempre a falsa
sensação de que são felizes e bem resolvidos. Os encontros... Ah, esses sim são
perfeitos. Você visualiza um perfil que lhe interessa, curte e só terá acesso à
pessoa se a mesma também lhe curtir. Só então estarão aptos para trocar
mensagens e, quem sabe, até salivas e “coisitas” mais.
Mas vale lembrar que os princípios básicos de convivência
social continuam os mesmos. Está sentado? Então segura essa:
‘Sou gordo e
baixinho e quero que as pessoas me aceitem como sou. Procuro por sarados e
altos’.
Ao baixar o Tinder, abaixe a hipocrisia. Ou a gente
se aceita ou “partiu academia”. Afinidade é e será sempre a cereja no bolo dos
relacionamentos. Não atoa dois jovens com uma grave doença se aproximaram na
trama “A culpa é das estrelas”, ambos estavam no mesmo barco e dispostos a
enfrentar a maré juntos. Não estou
dizendo que pessoas diferentes não se complementem, mas que para seguir adiante
numa vida a dois precisamos estar frente a frente, e sentir que dá pé, sem ser
algo desconfortante como uma pedrinha no sapato. Viver com alguém que lhe intimida, lhe causa
insegurança ou tira a sua paz de espírito é burrice e perda de tempo. Tudo bem que um bate papo com a própria
autoestima de vez em quando ajuda a colocar os pingos nos iis e separar o joio
do trigo; distinguir o que é recalque do que é neurose. Depois de ter isso bem definido,
o jogo de sedução virtual do Tinder
será apenas uma possibilidade e não mais a única solução.
Outra coisa importante. Todas as pessoas são interesseiras
sim. Ao menos no primeiro momento, estão todos à procura de um rosto bonito, um
físico atraente, uma condição social favorável, uma conta bancária proporcional
ao tamanho do pênis e, de quebra, alguém que esteja apto em manter um diálogo
por mais de 30 minutos. Sempre foi assim e não é diferente no Tinder ou qualquer outro aplicativo de
relacionamento. Se eu estiver dizendo alguma besteira que caia um raio sobre a
minha cabeça.
Agora, se ao encontrar um par compatível, a coisa vai
vingar, isso já é outra história. Nem as estrelas, nem o Tinder e muito menos nós temos controle sobre as tramas do coração.
Ainda não inventaram um aplicativo que lesse o nosso espírito e nos fornecesse
o que de fato, alimenta a alma. Pra essa parte aí, é melhor apostar no contato
interior com algo maior e mais forte do que nós.
Bruno de Abreu Rangel
Realmente belíssimo, tocante, incrível, estupendo, audacioso, magnífico, digno de The New York Times.
ResponderExcluirBjs
Mari
Tinder é perda de tempo porque não muda a vida do cara feio. Se ele não consegue pegar mulher bonita na vida real, no tinder também não vai.
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