‘O mundo tem
salvação’, pensei.
Particularmente
gosto muito de ser cortejado, ser convidado pra sair com hora marcada, uma
reserva num restaurante chique com direito a taça de vinho, luz de velas
seguida de uma proposta de compromisso:
__ Quer
namorar comigo?
Tudo bem que
já pediram a minha mão algumas vezes, mas pra checar o porquê das unhas
crescidas, uma suposta ferida ou pra dizerem que tenho mãos de pianista, mas
nada de pedir em namoro, ainda estou esperando... Sentado. Talvez isso seja
démodé, ultrapassado, mas não tiro o mérito de quem ainda preserva os bons costumes,
como o garotão do Leblon.
Confesso que já tive amores de tirar o
fôlego, mas nenhum deles começou a relação assim – e nem por isso deixei de ser
feliz e viver a paixão com a devida intensidade. A verdade é que se a proposta
de namoro fosse feita num “podrão” caindo aos pedaços, com cerveja em copo de
geléia, já estaria valendo. Só não abriria mão das velas, do romance, da
demonstração de afeto.
Comigo e com
grande parte das pessoas que conheço, tem acontecido diferente. Eu desenvolvi
um termômetro bastante curioso, a escova de dente. Nunca falha. Quando alguém
me diz: comprei uma escova pra você, a sua é a rosa e a minha é a azul. Faz-se
uma piada, trocam-se beijos e nas entrelinhas fica a mensagem: “Quero que você
esteja por perto mais vezes ou, quem sabe, pra sempre”.
E assim fica
selado o início de uma relação. Sem cobranças, sem pressões, sem o medo de
pedir a mão e receber um NÃO como resposta e ainda de quebra, com as
possibilidades de colocar os prós e os contras na balança por um tempo
indeterminado. E a vida segue o fluxo.
Nesse período
em que decidimos dividir as escovas, a cama e a vida, tudo se torna mágico. Um
alerta no celular indica alguém lhe enviando uma mensagem de bom dia; a
fragrância de um perfume fica impregnada na pele e na nossa mente; uma música
qualquer tocada no momento certo passa a ser o tema da relação como numa trilha
sonora de novela; os defeitos são enxergados da forma mais fofa e nem nos
incomodam; os gestos de preocupação se fazem presentes; as ligações de boa
noite criam rotina e cartas de amor escritas à mão, hoje tão raras, mas com um
valor imensurável, aparecem no nosso travesseiro pela manhã quando ele já se
foi:
‘Tenha um bom dia, te amo’.
E por aí vai uma sucessão de novas sensações,
um beijo diferente, assuntos novos, um cafuné involuntário, uma sensação de
tranquilidade e a esperança de que o “felizes para sempre” finalmente aconteça.
E, uma das coisas que passa a nos confortar, é o barulho da chave na porta. ´Ele
chegou em casa`.
O namoro
acontece.
Deu certo.
E agora?
As chances de
um relacionamento se firmar é a mesma de afundar. As possibilidades de dar
certo são as mesmas de dar errado. Isso acontece desde que o mundo é mundo. O
importante é viver um dia de cada vez. Entender que dividir uma existência ou
parte dela com uma pessoa nos tornará melhores, seja como for a nossa relação,
de crescimento ou simplesmente de aprendizado.
Se der
errado, paciência. O que vale são as tentativas, as boas intenções em investir
numa vida a dois. Se as escovas ficaram tão gastas quanto o colchão, se o sexo
caiu no automático, a rotina caiu no ridículo, o romance no esquecimento... Isso
é o mundo real, acreditem ou não.
De nada vale
resumir um namoro, um casamento, ou o que queira chamar por uma situação que
foi decisiva para o término. Não existe culpado. Se algo não deu certo, bola
pra frente. Sair da vida de alguém não é tarefa fácil e o desapego é uma das
maiores dificuldades dos seres humanos.
Sou daqueles
que prefere ver o copo pela metade cheia, que dá mais valor aos dias juntos na
praia vendo um por de sol, às viagens para lugares incríveis, às fotos que se
misturam entre tantas outras coisas na gaveta e que se pudessem ter uma legenda
seria: como sou feliz ao seu lado. E é isso que a gente leva da vida. Todo o
restante é perda de tempo.
Vida que
segue. E que o casal de jovens do Leblon siga namorando mesmo que o pra sempre
dure apenas alguns meses, anos, ou o tempo necessário para se tirar uma grande
lição.
Mandou bem, estou passando por uma situação semelhante, começando uma relação sem saber o que ela é ainda...a ansiedade é que mata!!!
ResponderExcluir2o texto do teu blog que leio, e 1o que comento. Antes de tudo, parabéns pelo cuidado e dedicação à escrita. Seu material é de grande qualidade e de leitura agradável. =)
ResponderExcluirAssim como você, nunca pediram minha mão em namoro, assim como eu nunca pedi. Também imagino que algumas formalidades tradicionais de relacionamentos fiquem nas entrelinhas nos relacionamentos modernos, como na sutileza da escova de dentes.
Por algum motivo, ainda me surpreendo (pro bem) quando me deparo com gays que tem aspirações românticas sobre relacionamentos. É motivador.
Enfim. Parabéns novamente pelo blog.
Grande abç!
Meu, adorei a forma que você vê o mundo, o sente e o descreve. Uma leitura excelente. E uma leitura dessas que todo mundo deveria fazer de vez em quando para refletir. Ganhaste um leitor assíduo :-)
ResponderExcluirFiquei bastante emocionado. Poucos escritores conseguem me comover assim.
ResponderExcluirNossa adoro situações românticas, ninguém nunca fez nada nem parecido por mim. Não entendo as pessoas que acham romantismo brega ou que não querem receber flores, estou começando a acreditar que meu problema é ser de peixe
ResponderExcluirComo faz pra parar de chorar? Que texto mais lindo.
ResponderExcluir"Se der errado, paciência. O que vale são as tentativas, as boas intenções em investir numa vida a dois."
ResponderExcluirTalvez as pessoas estejam esquecendo do romantismo,ou as loucuras do mundo mudaram o tipo de romantismo, deixando de lado como ele deve ser, acho que o válido é vc expor o que sente, seja da forma que for,com uma rosa,uma escova de dentes,um copo de cerveja,a pessoa precisa saber que vc a ama e que quer tentar uma vida a dois,pode dar errado,como vc disse? Pode sim, mas pode também dar certo e não podemos deixar de nos atirar em novas e malucas experiências por achar que pode não dar certo. Prefiro a certeza cheia de cicatrizes de que não deu certo do que a dúvida eterna do "e se eu tivesse tentado?" E olha que sou perito em loucuras por amar, hahahahahaha...