quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Baladas Vorazes

Quantos serão eliminados nesse novo torneio?



          O mundo é lindo sim, mas está nas mãos erradas. Está sendo manipulado por pessoas cheias de “boas intenções”, que estão construindo impérios longe dos nossos olhos enquanto tiram proveito dos que estão sendo eliminados – pouco a pouco. Também faço parte desse jogo e, apesar de ainda ficar meio perdido com relação às regras, me questiono constantemente: qual a razão de tudo isso? Quem vence no final? A única impressão que me vem à cabeça é a de que depois de tanta luta o triunfo da vitória parece algo vazio.
Já dei as minhas voltas nos campos da escuridão e voltei, várias vezes. Tudo indica que talvez seja hora de dar um basta e tentar sair desse jogo de azar. Muitos estão nesse duelo contra si mesmos e não se deram conta de que foi dada a largada no inconsciente. As festas tão inofensivas de hoje são uma espécie de cronômetro para a saúde espiritual e até vital. Não há medalhas nem troféus, existe apenas um universo de ilusões com uma torcida desnorteada e aplausos irrelevantes ...
 ... Que comecem os jogos!
Os indicados: a seleção começa nas redes sociais. O sorriso de um milhão de dólares é o passaporte de entrada para os grandes torneios. É claro que ninguém tem esse sorriso e muito menos esse dinheiro, ainda mais com o câmbio lá nas alturas. Mas não custa nada tentar a popularidade através do número de seguidores, criar uma rede de contatos constituindo grupos em que uns doam atenção aos outros através de likes porque, para a grande maioria, fazer-se amigo nos “momentos reais” – é um pé no saco. Depois que o indivíduo se sente o vox populi do meio (a voz do povo), com centenas de milhares de baba ovos, ele já pode ser considerado um competidor em potencial para representar o seu distrito – ou a sua turma.
A largada: você está finalmente num desses locais superlotados de gente interessante (Zzzz), pode ser uma ilha paradisíaca, um resort no Nordeste, um galpão num lugar inóspito e até um inferninho com ar condicionado, que o esquema será sempre o mesmo: uma hora de caras e bocas se fazendo de difícil e posando de gata garota (virgem) pronta para casar. Mas o poder opressivo do entretenimento lhes obriga a usar uma arma mais potente, pois somente assim o competidor terá coragem para seguir adiante e entrar de cabeça nesse ringue. É nesse instante que o capital, ou a Capital lhe proporciona todo o tipo de artifício para fugir da realidade. Sede por sexo e drogas são impulsos difíceis de conter. Boa sorte!
O combate: a temperatura começa a subir e o preço de encontrar um grande amor em tempos de guerra pode custar a própria integridade, porque esse amor não é pelo próximo, mas sim pela própria imagem; um narcisismo escancarado que deixa a pessoa como água de salsicha: rala e sem gosto. As inimigas se reconhecem pelo cheiro, se gladiam pelas fofocas disseminadas através dos seus grupinhos, pelo recalque quase que involuntário estampado em suas faces. E para derrubá-las é muito fácil: basta que você esteja mais sarado. Para tentar acompanhar essa luta injusta, veem-se pessoas de 48 tentando mudar o corpo para acompanhar os de 18, e os mais novos vendendo até a alma para ter o conforto dos mais velhos. Uns guerreando com os outros para manter a autoestima intacta, todos presos à uma areia movediça com lama até o pescoço. Mais: nessa terra de ninguém a voracidade carnal faz com que todos se devorem – protegidos, ou não. Salve-se quem puder.   
O vencedor: a última etapa do combate é para os “mais fortes”. Quando o tico e teco param de funcionar, basta um tico do teko para dar um restart no jogo e deixar a partida ainda mais eletrizante. E é no ápice do torneio que os competidores entram no piloto automático, ou começam a dar defeito de fabricação. O mundo é tão indiferente com algumas vitórias quanto com as perdas e, “Não se pode proteger ninguém numa arena”. O lendário, bombástico, cabalístico (e até extinto) competidor, deixa o jogo sem forças, ou de olhos bem fechados. O legado que fica é um ti-ti-ti insignificante, uma coleção de fotos incrivelmente tratadas com sorrisos falsos e improvisados, uma abstinência por algum estimulante pesado, uma infinidade de DST’s que se contraem por tabela, ou a terrível surpresa de um hemograma que resolve dar PT (perda total). 
Transitando entre o Hell e o Heaven, oscilando entre a guerra e a paz, as pessoas se matam por ideologias bestas, se enterram por estilos de vida fúteis e ficam órfãs de sentimentos, mas ideais não sentem dor, não sangram e nem choram de saudades. Apesar da ingenuidade estar acima do bem e do mal, vale considerar que ninguém é vítima desse sistema. Sempre haverá pão e circo e, ainda que evitemos carboidratos, estaremos alocados numa tenda sendo feitos de palhaço pois - os torneios são cíclicos - o showbizz não para e a batalha... essa sim é individual.

Bruno de Abreu Rangel

Um comentário:

Unknown disse...

Cara, é incrível como você conseguiu descrever com uma riquesa de detalhes o que realmente acontece nas batalhas das "Baladas Vorazes"
Eu fiquei chocado com tamanha "acertidão", não tive como não me ver (e me encaixar) em várias das tuas citações
Foi como uma viagem no tempo, uma olhada rápida num passado não tão diatante, que me fez chorar e relembrar coisas boas, mas muitas outras tristes
Adorei o teu texto
Parabéns