quarta-feira, 8 de julho de 2015

A casa caiu para os mafiosos da fé

Entenda por A + B porque eles rejeitam gays



Não digo ‘amém’ pra tudo que escuto, mesmo porque ninguém tem respostas pra tudo. Todas as religiões têm suas teorias sobre a morte, céu, inferno... Mas nenhuma certeza nos é garantida. A nossa única segurança é o espaço de tempo entre a maternidade e a funerária, e é melhor que saibamos aproveitar essa oportunidade dada pelo “Cara lá de cima”. A maioria das pessoas que conheço não tem a menor ideia do significado do milagre que é essa coisa chamada de vida. Então fica fácil condicioná-las, criar um terror em suas mentes com a desculpa de que a única salvação virá através de um Deus que só concede a entrada no céu através de um pagamento adiantado: dez por cento da sua renda até o fim dos seus dias e você tem direito a um bate papo com o Altíssimo.

Nem os bancos lucram tanto.

Mas o assunto é homofobia religiosa. E até onde sei esses pastores viciados em holofotes nunca repudiaram os gays, jamais hesitaram fechar as portas para os drogados, ex-traficantes; não julgaram os ex-detendos, os assassinos em série, as pessoas que cometeram o maior dos pecados. A grande jogada de marketing era alcançar um nicho do mercado que a igreja católica vinha perdendo ao longo dos anos (depois de queimar muita gente nas fogueiras da Inquisição, já estavam mais do que queimados na praça). Então a tática foi um tanto quanto óbvia: qualquer pecador que entrasse nos seus templos e se convertesse num servo de Deus receberia um carnê invisível para pagar em “suaves” prestações a sua morada no céu e, assim feito, zeraria o cronômetro. Tipo tirar o nome do SPC, ou SPCéu. “As pessoas pecam tanto que depois viram evangélicas”, o próprio Sílvio Santos teve esse momento de desabafo.

A lavagem cerebral é tão bem arquitetada que sei de casos em que pessoas tiram comida da boca dos filhos pra comprar a tal vassoura ungida de mil reais que varre todo o mal de suas vidas.  Tem muita gente se aproveitando da desgraça alheia usando Jesus como cartão de crédito. Verdadeiros lobos em pele de cordeiro tentando arrancar até o que as pessoas não têm pra se enriquecerem.

E não para por aí, a bancada evangélica, ao expor todas as formas de pecado, pisou fora quando tratou a homossexualidade como uma doença deturpada do espírito, ou melhor, da alma – porque eles também não suportam e nem mesmo respeitam as doutrinas que acreditam em vida após a morte.  Mas eles estavam afoitos para atrair o público arco-íris que tem um elevado poder aquisitivo. Por não constituírem família os gays não têm despesas com filhos, escolas, material didático e uma série de custos que os colocam no topo de consumidores em potencial: viajam de primeira classe, passam férias na Europa, usam grifes caríssimas, perfumes importados, fazem tratamentos estéticos com peeling de ouro...  

Quem não quer esses clientes? O Boticário quer, a Leite de Rosas, a Coca Cola, o Facebook, a Louis Vuitton e outras grandes empresas como a própria Universal e a Assembleia de Deus – mas o tiro saiu pela culatra. O “Avivamento”, campanha de captação de fiéis (lê-se clientes) tão bem sucedida, até aquele momento, falhou quando os militantes homossexuais entraram em cena e deram a cara pra bater. Aí toda aquela conversa de “Amar ao próximo como a si mesmo” terminou num balaio de gato.

E tudo o que se vê desde então é uma batalha Gospel-glbt. É boicote à novela, à propaganda de TV, à marca X, Y,Z, pedrada – violência - caixão. E fico tentando imaginar como os evangélicos se posicionam quando o cabelereiro é gay. Quando o maquiador do próprio casamento tem trejeitos, quando o comissário de bordo da primeira classe tem uma finesse mais apurada, quando homens com uma tremenda sensibilidade despendem do precioso tempo pra confeccionar um vestido que sai de um ateliê lá da França e vem parar nos seus closets tupiniquins. E os escritores, jornalistas, atores, toda a turminha que sustenta a própria TV evangélica? Vão boicotar essa galera também, ou vão compactuar com o diabo?

Vamos deixar essa lição como dever de casa. Quem assumir a hipocrisia leva um 10!

Muito nos surpreende o fato de que a nossa vida entre quatro paredes possa incomodar tanto. A alta patente cristã poderia estar se preocupando mais com os cracudos da Cracolândia, preenchendo o tempo com projetos sociais que pudessem tirar crianças das ruas, salvar os brasileiros abaixo da linha da pobreza que se multiplicam tanto quanto o número de fiéis, mas não - eles querem fiscalizar a sexualidade alheia - propagando discursos de ódio, usando Jesus como testa de ferro pra justificar o mal que existe neles, criando exércitos com um grupo de alienados que estão sendo adestrados para um futuro atentado aos direitos humanos. Bem vindo ao novo Estado Islâmico, versão tupi guarani. Já não vimos esse filme antes? A história do mundo se repete (fanatismo religioso X crueldade). E dessa vez o cenário é no lado de cá, no país do Pau Brasil – ou da mandioca.

Estejamos atentos, porque os mafiosos da fé alheia já se infiltraram no Congresso Nacional e estão se aproveitando da bagunça de Brasília pra se fortalecerem; firmarem pactos com partidos que nem o diabo ousaria tentar; apertar as mãos daqueles que fecharão os olhos para as suas tramoias fiscais capazes de sustentar pilares como o templo de Salomão, inúmeras vezes maior que o original. Se esse Cristo que eles tanto pregam realmente existe, deve estar no plano celestial arrancando os cabelos e pensando que sua vinda ao planeta Terra foi uma grande perda de tempo porque, apesar de muita gente ter pulado esse parágrafo, a Bíblia é bem clara: “A boa reputação vale mais que grandes riquezas”. (Provérbios 22:1) E com essa me despeço.

O meu louvor vai para os evangélicos que, com suas crenças, seguem em direção à luz, aos que vivenciam os ensinamentos de Cristo ocupando o coração com alegria, sendo instrumentos do bem e erguendo as mãos aos necessitados sem dividir uma coisa a outra, sem aquela preocupação mesquinha de orar em troca de uma casa num condomínio de luxo, ou num lugar onde se tem harpas e cisnes brancos.


Bruno de Abreu Rangel

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