quinta-feira, 7 de maio de 2015

A verdade que ninguém nunca contou sobre o Viagra



"Homens solteiros e solitários, estão se vendo sem muitas escolhas."


Existe uma lista de pequenas coisas que nos tiram do sério: abraço demorado de uma pessoa que a gente nem conhece; um indivíduo que fala com mesóclise (Beijar-te-ei dos pés à cabeça); conversas de elevador “Que tempinho, será que amanhã faz sol?”; e, por último, a hipocrisia do “transo uma noite inteira sem precisar de Viagra”. Preguiça desse povo...

Mas também não é pra menos, ninguém em sã consciência vai assumir em praça pública que é uma “Maria mole” na cama, mesmo porque depois que uma imagem é manchada não há Vanish que remova, mas daí querer bancar o gostosão que marca presença por oito horas non-stop é forçar a barra demais, vamos combinar. Conversa pra boi dormir.

A questão é que a nossa geração está vivenciando uma escravidão psicológica. Estamos sendo controlados pela ansiedade, pela pressão de sermos os melhores em tudo, pelo sexo performático dos vídeos pornôs, pela impaciência de esperar as preliminares. Ficamos de olhos vendados nos esquivando do óbvio, cada um tem o tempo certo pra ficar de barraca armada. Mas hoje em dia, tudo que toma tempo: duas azulzinhas, por favor.

Na maioria das vezes, o “vamos ver” é a assinatura do contrato de um relacionamento. É a partir da surra de cama, mais conhecida como química, que um casal decide se está ou não apaixonado. Amor já é outros quinhentos, sabemos que pra amar tanto faz se o cara está a todo vapor, ou, se ele não compareceu num dia em que trabalhou feito louco.

Porém, um casal de jovens britânicos andou matando essa aula. A garota ao descobrir que seu namorado de 24 anos tomava a pílula do milagre, terminou o relacionamento abruptamente com direito a devolução de presentes e tudo mais. Seria por orgulho próprio ferido? Pelo receio de que o rapaz nunca sentira atração por ela sem ter um empurrãozinho da indústria farmacêutica? Seja qual for o motivo, o garoto se sentiu desonrado e tirou a própria vida. Acontecimentos como esse nos faz repensar sobre a fragilidade humana. “Vivemos sob o nosso ponto de vista, e com ele ascendemos ou fracassamos”, já dizia Lya Luft.

Quando um pai diz ao seu filho “Honra o que você tem entre as pernas”, ele está criando um monstro e o alimentando de sentimentos vazios, resumindo toda a vida de um ser no seu órgão reprodutor. Fazendo-o confundir sexo com sexualidade, machismo com falta de amor.

Desde que os quinze viraram o novo vinte, todos são dotados nos aplicativos de relacionamentos. Nas redes sociais, o que não falta é gente esbanjando virilidade a todo vapor, exibindo corpos espetaculares dignos de cair o queixo, tentando mostrar o melhor de si como um pavão que desfila com sua cauda na expectativa de fisgar o maior número de pretendentes. Isso é cavar a própria cova.

Depois de muita fantasia e encenação, a expectativa de quem se deita com a gente já está lá nas alturas. E tenta você brochar pra ver o que acontece. É muita pressão. Por esse motivo, com o receio de fracassar num mundo onde não há espaço para perdedores, a garotada de vinte e tantos anos tem apelado para o Viagra, ingerindo a força de um “Super Homem” compactada num comprimido acreditando que a baixa autoestima sairá na urina.

´Foi bom pra você?

Uau, você é uma loucura!´

Realmente é uma loucura das grandes comprometer a própria saúde física e mental, utilizando substâncias perigosas de forma recreativa, sem ter o mínimo conhecimento dos seus efeitos colaterais. Sem querer bancar o estraga prazeres, ou, o chatonildo que fica recitando a bula num pedestal, o uso inadequado pode causar problemas do coração, visão, levar à perda da audição e até para uma caixa onde as pessoas costumam deixar flores quando a gente para de respirar. Isso sem dizer que o vício pelos comprimidinhos nos farão ter a sensação de que o sexo natural é entediante e que somente o vigor artificial será capaz de nos trazer a melhor das ereções.

Existe o outro lado da moeda. As pessoas estão se entupindo de drogas de todos os tipos pra fugir da realidade, e então ficam na fissura de terem um sexo frenético que as mantenham ocupadas por um bom tempo. Afinal, uma viagem ao mundo da fantasia tem que valer a pena, seja lá qual for o risco. Pra dar conta desse frenesi todo é preciso marcar presença na cama, não é mesmo? No entanto, todo cuidado é pouco. Se você é do tipo que faz uso de outras substâncias que não cabe a mim julgar, tomar um “inofensivo” Viagra pode ser a sua sentença de morte.

Esse é o maior erro da nossa cultura. Homens solteiros e solitários estão se vendo sem muitas escolhas. As pessoas se conhecem na night, chapadas de entorpecentes, deslumbradas com o paraíso artificial, bebem poucas e boas, tacam um Viagra goela abaixo e partem pro abraço no intuito de transarem por horas a fio. Quando o efeito passa, ficam desorientadas e insatisfeitas, sem saber direito como lidar com o mundo real.

Uma pequena dose de saudosismo não faz mal. Sinto falta da época em que nossas mãos suavam de nervosismo quando um encontro estava prestes a acontecer e nosso coração saía pela boca só de imaginar como seria o primeiro beijo. Hoje estão todos encharcados de suor, com o corpo trêmulo e uma sensação de que o coração vai ter um piripaque a qualquer momento, não por paixão, ou, amor - mas por taquicardia mesmo - pelo excesso do Viagra.


·          Quando o Viagra é citado ele faz referência a todo medicamento da mesma espécie: Cialis, Pramil, Levitra, ou qualquer substância destinada à disfunção erétil. A crônica acima não tem a intenção de julgar nenhum laboratório farmacêutico.


Bruno de Abreu Rangel

6 comentários:

Anônimo disse...

BRAVO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Como sempre nos surpreendendo com assuntos polêmicos que ninguém tem a coragem de escrever sobre.

Uma sugestão, poderia escrever sobre os gays e a religião.

Parabens mais uma vez.

Cristiano Motta

Unknown disse...

Que texto legal e gostoso de ler. Adorei!

Anônimo disse...

Tai uma crônica nota mil. Muito legal o seu estilo e a forma como conduz o assunto. Escritores têm aos montes, mas poucos são Rrealmentes bons. Continue nos presenteando com seus textos.

Anônimo disse...

PÁRA TUDOOOOOOOOOOOOOOOOO. AMEI.

Anônimo disse...

Uma vez saí com um cara que começou a passar mal na hora H e teve que assumir que tinha tomado o viagra. Situação constrangedora. Não pelo fato de ele ter usado o viagra, mas pelo medo de que algo ruim acontecesse e eu não saber o que fazer em casos de emergência como esse.

Anônimo disse...

Uma excelente matéria conteúdo e palavra mágicas. Parabéns!